A morte do delegado Stênio Mendonça e a história do crime organizado no Maranhão

Na época, foram 90 dias de manchetes seguidas do JP, sobre um caso que envolveu assassinatos, queima de arquivos e corrupção.

Fonte: Redação

Um dos momentos marcantes do Jornal Pequeno, na área policial, foi a exaustiva cobertura sobre a história do Crime Organizado no Maranhão. Na época, foram 90 dias de manchetes seguidas do JP, além de muitas outras alternadas, sobre esse trabalho de fôlego da Secretaria da Segurança Pública do Estado, então comandada por Raimundo Soares Cutrim, com apoio do então governo Roseana Sarney, da Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Ministério Público e, principalmente, da população.

O ex-deputado estadual Zé Gerardo, depois de cassado, foi preso ao desembarcar em São Luís (Foto: Reprodução)

O ano era 1997, a Polícia do Maranhão estava mergulhada na lama, com policiais envolvidos em crimes e corrupção, quando houve o fato que mudou a história da nossa polícia: o assassinato do delegado Stênio Mendonça, num domingo ensolarado de maio daquele ano, em plena Avenida Litorânea.

A partir daí, o Jornal Pequeno entrou em cena e ajudou a desencadear o maior combate ao Crime Organizado até hoje visto no Maranhão.

Três dias depois do assassinato de Stênio, que ainda estava envolvido em grande mistério, o JP publicou, COM EXCLUSIVIDADE, um “Relatório Secreto da Morte do Delegado Stênio”, feito por uma autoridade que até hoje mantemos o nome em sigilo.

O vazamento desse relatório, que revelava todos os passos da quadrilha que organizou a execução do delegado Stênio Mendonça, provocou a queda do então delegado Sebastião Cabral, que havia sido designado para conduzir o inquérito e encontrava enormes dificuldades para elucidar o assassinato.

O relatório incriminava o famoso Bando Bel, que, posteriormente, foi executado próximo a Santa Inês, como queima de arquivo. A situação da Polícia era crítica. Foi então que o diretor de Redação do JP, Lourival Bogéa, que recebeu o relatório secreto, juntamente com o jornalista Walter Rodrigues (já falecido) e o então corregedor geral de Justiça Jamil Gedeon (hoje desembargador) sugeriram a Roseana Sarney que nomeasse Raimundo Cutrim como secretário da Segurança.

Cutrim tinha feito um grande trabalho como assessor especial do Detran-MA, à época comandado pelo Coronel Ventura, desvendando a Máfia dos Fiéis Depositários. No auge desse trabalho, novamente estava o Jornal Pequeno, publicando, com exclusividade, uma LISTA DE OURO DOS FIÉIS DEPOSITÁRIOS, que envolvia políticos, policiais, empresários e profissionais liberais. Foi um estouro, que resultou, inclusive, em ameaças ao jornalista Lourival Bogéa.

Cutrim era também assessor especial do Ministério Público Estadual e trabalhava alinhado com Jamil Gedeon. Roseana Sarney aceitou a indicação e Cutrim virou secretário da Segurança Pública. E foi ele um divisor de águas na Polícia do Maranhão. Mudou a cara da Secretaria da Segurança e iniciou, então, a primeira grande missão de combate ao Crime Organizado, com todo apoio possível.

Raimundo Cutrim acabou com os ‘delegados calça curta’ (indicados e protegidos por políticos) e criou uma equipe de delegados concursados. Informatizou ainda os registros de ocorrência, numerando os inquéritos, o que não existia na polícia – os inquéritos não possuíam numeração. E foram várias operações, que resultaram na prisão de políticos importantes, policiais, empresários e advogados. Um trabalho que jamais deve ser esquecido.

Maranhão viveu momento histórico no auge da CPI do Crime Organizado

Numa decisão inédita no Maranhão, a Assembléia Legislativa cassou, no ano de 1999, o mandato de dois deputados – José Gerardo de Abreu e Francisco Caíca – por falta de decoro parlamentar, acusados como líderes do crime organizado no Estado.

Raimundo Cutrim, investido no cargo de secretário da Segurança Pública, foi um divisor de águas na Polícia do Maranhão (Foto: Reprodução)

A Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado realizou trabalhos de investigação, iniciados em meados de 1999, com o objetivo de apurar todo tipo de crimes que à época vinham se avolumando à sombra da impunidade.

A idéia, amadurecida na Assembleia Legislativa, no Ministério Público e no Poder Judiciário, era a de que fossem exemplarmente punidos todos os culpados. Além da cassação dos mandatos de Zé Gerardo e Chico Caíca, a CPI do Crime Organizado foi encerrada, no final de novembro de 1999, com o pedido de indiciamento de 53 pessoas, entre elas o ex-deputado Hemetério Weba, cinco prefeitos, 10 policiais e ex-policiais, dois empresários, além de bandidos reconhecidamente envolvidos com crimes no Estado.

Na ocasião em que perdeu o mandato, Zé Gerardo era investigado em 10 inquéritos pela Polícia Civil. Ele era acusado de participar de roubo de caminhões e de ser mandante de nove assassinatos.

Os dois inquéritos que originaram os pedidos de prisão foram os que investigaram os assassinatos do delegado Stênio Mendonça e do ex-cobrador de ônibus Carlindo Sousa, que era funcionário de uma empresa de Zé Gerardo e havia entrado na Justiça por questões trabalhistas.

Quando a Assembléia Legislativa cassou o mandato do deputado Francisco Caíca (PSD) por quebra de decoro parlamentar, o projeto de resolução da Comissão de Ética propondo a cassação foi aprovado por 41 dos 42 deputados. Só não votou o próprio Caíca, que recebera no mesmo dia o mandado de prisão preventiva expedido pelo juiz Deusimar Freitas Carvalho, da 4ª Vara Criminal.

Era uma manhã, no dia 2 de dezembro de 1999 quando a deputada Malrinete Gralhada (PFL), relatora da Comissão de Ética, abriu a sessão apresentando os argumentos que levaram ao pedido de cassação. Segundo ela, o envolvimento de Caíca com assassinatos e roubo de cargas e carretas contrariava e ofendia a honra e as tradições da Assembleia.

A defesa de Caíca foi feita pelo advogado Wady Nazar Neto, nomeado pela Assembleia.

Nazar Neto apenas leu o documento de defesa entregue à Comissão de Ética pelo advogado Ivaldo Ricci, que não compareceu à sessão.

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