O crescimento do PIB e as panelas vazias

Enquanto o Brasil ainda discute temas que já foram superados no mundo, os países mais ricos estão vacinando em massa a sua população.

Fonte: Inácio Melo

Em 2020 o mundo parou. Vivemos um ano completamente atípico, no qual toda a economia mundial entrou em colapso. A causa não foi gerada pela economia, mas externa a ela. Uma crise sanitária que definirá gerações e que levou todas as nações a frear bruscamente suas economias. Para se ter uma ideia os Estados Unidos, o país mais rico do mundo, sofreram em 2020 a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial. O PIB (Produto Interno Bruto) caiu 3,5% por causa das sucessivas ondas do Novo Coronavírus. Já na União Europeia, a queda do PIB foi de um surreal 6,8% em 2020. É como se você estivesse em um trem sempre acelerando, algumas vezes um pouco mais, outras um pouco menos, mas sempre andando para frente, e bruscamente esse trem parasse? Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu com a economia mundial em 2020, ela freou de forma inesperada.

Logo no final de 2020 para o início de 2021 países onde a “cloroquina” não está no debate nacional começaram os seus projetos nacionais de vacinação em massa. O objetivo principal e o que mais importa é salvar vidas, fazer o cotidiano voltar ao normal, mas, também, tem como alvo fazer o trem da economia voltar a acelerar. Entretanto, a economia parou, se ela parou qualquer aceleração dela pode parecer “evolução”, o que torna esse o primeiro erro de quem avalia o PIB, isso sem analisar as outras variáveis.

Outro ponto importante ao avaliar o PIB é entender que os países mais ricos estão saindo da pandemia com imensos incentivos. Para se ter uma ideia, a economia dos EUA está prestes a voltar a patamares de crescimento que tinha antes do surgimento do novo coronavírus. Lá, já se fala em investimentos que chegam a 2,3 trilhões em infraestrutura e a 1,8 trilhão em educação e proteção social de famílias e pequenos negócios. Então, os países mais ricos e que estão saindo mais rápido da pandemia vão “às compras”. Onde entra nosso amado e querido Brasil? Dois setores foram fundamentais para o crescimento do PIB brasileiro, o agronegócio e a indústria. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o agronegócio foi o setor que mais cresceu. O setor registrou 5,7% de crescimento em comparação com o 4º trimestre do ano passado e 5,2% em relação ao mesmo período de 2020, quando estávamos no meio da freada da economia mundial. Logo se esperava esse crescimento, no entanto, por que as pessoas não sentem essa “melhora” na vida cotidiana? Por que elas não sentem os preços baixando nos mercados? Por que não sentem a volta do emprego? Por que a sensação ainda é de crise?

Bem, o agronegócio apesar de fundamental infelizmente não se enquadra entre os setores que mais empregam. O modelo de exportação em que o Brasil dá show tem como base uma agricultura e pecuária extremamente eficiente, e que faz uso do que existe de mais moderno no mundo em tecnologia para estes setores. Desta forma, a mão de obra além de especializada é pequena, fazendo com que não haja tanto impacto na abertura de novos postos de trabalho.

Ainda há outro ingrediente que gera a sensação de crise mesmo com o aumento do PIB, o dólar nas alturas. Isso ocorre porque boa parte dos insumos para a produção agrícola e até mesmo a pecuária brasileira são cotados pela moeda estrangeira, o que encarece os produtos para o mercado nacional. Com esse novo “boom” da economia mundial pós COVID-19 os preços no mercado internacional ficaram também mais altos. Isso ocorre porque, em decorrência do dólar valorizado e o real rebaixado, toda a produção brasileira sofre pressão externa e tudo passa a subir (basta ir a um açougue para perceber o preço da carne cada dia mais alto).

A diferença da aceleração dos países ricos para a nossa tem nome: vacinação. Enquanto o Brasil ainda discute temas que já foram superados no mundo como a cloroquina, os países mais ricos estão vacinando em massa a sua população. Com subsídios enormes os governos das nações mais desenvolvidas estão fazendo suas economias acelerarem de forma surpreendente. Isso com absoluta certeza levará a um ciclo de desenvolvimento e crescimento mundial, que ouso afirmar será parecido com o que ocorreu no pós-segunda guerra mundial.

Aí pergunto novamente, “mas e o Brasil”? Aqui nosso governo ainda está preso à ideia do “teto de gastos” e até então não passa a ideia de que o Estado assumirá um papel de indutor do crescimento. Com o desemprego ainda nas alturas, o poder de compra das famílias na lona e muita instabilidade jurídica e política, não se fala firmemente da urgência de uma reforma tributária que ajude quem quer gerar emprego e renda, e daí vem meu medo. Se não fizermos o dever de casa ficaremos completamente fora deste ciclo de desenvolvimento, dependendo cada vez mais apenas do agronegócio que até faz crescer o PIB, mas ainda mantém a panela da maioria do povo brasileiro vazia.

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