Sítios do Maracanã estão sendo invadidos por esgoto que sai do Residencial Amendoeira, em São Luís

O cantor Fauzi Beydoun é proprientário de um dos imóveis atingido pelo problema

Fonte: Luciene Vieira

Os esgotos produzidos por 1,3 mil moradias do Residencial Amendoeira, empreendimento do programa federal “Minha Casa, Minha Vida 2”, localizado no bairro Alegria, região do Maracanã, na zona rural de São Luís, estão sendo despejados, em larga escala e de forma in natura, em propriedades privadas, que são áreas de brejo, e por onde há nascentes do Rio Maracanã.

O cantor Fauzi Beydoun recebeu a equipe do Jornal Pequeno em seu sítio (Foto: Gilson Ferreira)

Um desses imóveis pertence ao vocalista da banda de reggae Tribo de Jah, Fauzi Beydoun, que está localizada na Estrada das Amendoeiras.

Na manhã dessa quinta-feira (17), a reportagem do Jornal Pequeno esteve no sítio de Fauzi e constatou a existência de despejo do esgoto do Amendoeira no meio ambiente.

Além do mau cheiro, que exala pelo sítio de Fauzi, a situação tem causado maiores transtornos para quem tem plantios, como os juçarais, no Maracanã. o cantor relatou que vários peixes e “pés” de juçara de sua propriedade já morreram, devido ao esgoto.

Em um terreno nos fundos do sítio do cantor, segundo Fauzi, a situação se repetiria. Outro sítio afetado pelo problema, também próximo ao de Fauzi, pertence ao casal Milton e Creusa, que residem no local há 40 anos. A mulher, inclusive, é diabética e pode ter tido sua saúde ainda mais prejudicada pelo esgoto que atravessa sua propriedade.

Problema atinge algumas nascentes do Rio Maracanã e as plantações de juçareiras, que fornecem matéria-prima para o tradicional Festival da Juçara (Foto: Gilson Ferreira)

Em 2015, a presidente Dilma Rousseff veio a São Luís para participar da cerimônia de entrega das 1,3 mil moradias do Residencial Amendoeira, construído pela empresa Canopus, sendo que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) é de responsabilidade da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema).

De acordo com Fauzi, o esgoto da ETE transborda durante o período de chuvas no Maracanã, e os dejetos percorrem as áreas verdes do bairro, invadindo as propriedades particulares. Segundo o vocalista, o problema existe desde as fases de construção do Amendoeira.

Em 2017, a equipe do JP esteve no Residencial Amendoeira, quando constatou que o esgoto do local estava sendo lançado ao Rio Maracanã. Naquela época, um morador do Amendoeira, identificado como Francisco Silva, relatou à reportagem que tanto a Canopus quanto a Caema sabiam do problema, mas uma empresa jogava a responsabilidade para a outra sobre o desastre da falta de saneamento no residencial, e vice-versa.

“Tanto a Caema quanto a Canopus visitam o local somente para olhar, e não fazem nada”, disse Francisco Silva, inspetor de segurança, que em 2017 morava no residencial. Passados quatro anos da primeira reportagem sobre a falta de saneamento no Amendoeira (12 de julho de 2017), ontem, Fauzi, declarou que além de estar sendo obrigado a conviver com o odor do esgoto, o que está ocorrendo é um crime ambiental.

“Cadê o saneamento básico? Desmataram uma mata nativa para a construção do residencial, isto foi um crime ambiental, em pleno século 21, em São Luís, a capital do Maranhão”, frisou, indignado, Fauzi.

O cantor informou que chegou a ir à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), no final do governo de Roseana Sarney, para fazer uma denúncia, quando o residencial já existia, mas ainda não tinha sido, “formalmente”,entregue pela ex-presidente Dilma.

“Eu conversei pessoalmente com Carlos Victor Guterres Mendes, quando ele era o secretário da Sema. Na ocasião, ele me disse: “serei sincero contigo, Fauzi, isso aqui é uma indicação política, e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado não existe”, disse Fauzi, ontem, ao JP.

O vocalista da Tribo de Jah informou que, sequer, viaturas da Sema costumam ir ao Maracanã, para, pelo menos, vistoriarem a região. Fauzi informou também que a Caema, quando vai à ETE do Residencial Amendoeira, realiza apenas atividades paliativas, como o esvaziamento de tanques.

“Fizeram, inclusive, uma obra de contenção de tratamento, mas foi realizada de forma precária, e de nada tem adiantado. Os tanques de contenção de esgoto não comportam o volume de dejetos, aí o esgoto escorre”, destacou Fauzi.

AÇÃO JUDICIAL

Fauzi informou que está prestes a procurar a Justiça, para mover uma ação contra os responsáveis pela falta de saneamento básico no Residencial Amendoeira. “Pretendo procurar, também, o Ministério Público do Estado”, disse Fauzi.

OUTRO LADO

Por meio de nota, a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) informou que uma comissão dos setores de Rede de Esgotamento Elevatória de Esgoto e de Estação de Tratamento de Esgoto será formada para realizar, no entorno da área citada pela reportagem, estudos de inspeção técnica no intuito de identificar a origem do problema e, assim, proceder com as medidas cabíveis.

Também em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informou que, após receber denúncias sobre o caso, uma equipe do setor de fiscalização foi acionada para realizar ações fiscalizatórias na região. A Sema ressaltou, ainda, que há um cronograma de visitas periódicas a ser realizado na área do Maracanã

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