Avanços tecnológicos na produção de bovinos de corte em pasto
por Adilson de Paula Almeida Aguiar
Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Foto: Shutterstock
Tamanho das pastagens brasileiras
O Brasil possui a quarta maior área (158,6 milhões de hectares) e a maior área cultivada (111,7 milhões de hectares) de pastagens do mundo. Essas pastagens, direta ou indiretamente, constituem a base da alimentação de aproximadamente 200 milhões de herbívoros sendo: 171,85 milhões de bovinos; 0,95 milhão de bubalinos; 8,25 milhões de caprinos; 13,77 milhões de ovinos; e 5,90 milhões de equídeos.
Entretanto existe uma incerteza da real área de pastagens existente. Em 2011, segundo uma fonte, a área de pastagem era de 190 milhões de hectares. No mesmo ano, outra fonte publicou um boletim, com cálculos baseados nas fontes da FAO, do USDA, do IBGE e da CONAB, que a área seria de 171,35 milhões de hectares. Por outro lado, uma fonte em 2016 determinou que a área de pastagens brasileiras mapeada com imagens de satélite compreendia entre 165 e 167 milhões de hectares.
Apesar da incerteza em relação à área, o que não se tem dúvida entre os especialistas é a sua importância para a pecuária nacional. Estima-se que na pecuária de corte praticamente 100% das categorias animais das fases de cria e recria e quase 90% da fase de engorda são alimentadas em sistemas de pastagens, ou seja, as pastagens são a base da cadeia da carne bovina do país.
Produtividade em arrobas
A pecuária de corte brasileira, que fundamentalmente explora a terra com a cultura da pastagem, apresentou um crescimento expressivo, aumentando a produtividade de carne bovina de 1,43 arroba/ha (@/ha) em 1986 para 3,49 em 2017, um ganho de 144%, mesmo reduzindo a área de pastagem em aproximadamente 20,5 milhões de ha, uma redução de 11,4%. Esse ganho em produtividade evitou que 230 milhões de ha fossem desmatados para a produção de carne bovina.
Pastagens cultivadas
Os ganhos de produtividade da pecuária nacional tiveram como base o aumento da área de pastagens cultivadas em relação a pastagens naturais, aumentando de 41,3% em 1986 para 70,5% em 2017.
Para dar suporte a essa expansão na área de pastagens cultivadas foi fundamental a contribuição da EMBRAPA com o lançamento de seis cultivares de forrageiras do gênero Brachiaria sp, desde 1984, e de sete cultivares da espécie Panicum maximum, desde 1990, além do lançamento de um cultivar da espécie Andropogon gayanus, em 1979. Outras instituições oficiais, tais como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto de Zootecnia (IZ), além de empresas privadas, também contribuíram com o lançamento de novos cultivares. Ainda para dar suporte à expansão das pastagens cultivadas, houve aumento da área de campos de sementes de forrageiras, que nos últimos 10 anos cresceu 51,4%.
Uso de herbicidas
A adoção do controle químico de plantas infestantes de pastagens saltou de 375 mil hectares na década de 70, para 10 milhões de hectares nos últimos anos, um aumento de 2.977%. Os sistemas integrados de cultivos agrícolas com a pecuária (ILP, ILPF, IPF), passaram de uma área de 1,8 milhão de hectares em 2005 para 11,5 milhões de hectares em 2015. Em 1987, não houvera registro de animais terminados em pastagens de inverno no sistema de ILP, enquanto em 2017 foram 760 mil, e em 1997 passou de 1 milhão de cabeças.
Melhoramento genético
O melhoramento genético do rebanho por meio de seleção de raças zebuínas e cruzamentos delas com raças europeias e melhoria nos índices reprodutivos foram avanços importantes. Para os avanços conquistados nessa área foi fundamental o aumento do uso de inseminação artificial, que saltou de 2,7 milhões de doses de sêmen em 1997 para quase 8 milhões atualmente, apenas no rebanho de corte, um crescimento de 177%. Os programas de melhoramento genético atualmente têm mais de 22 milhões de animais inclusos no banco de dados e são incluídos anualmente quase 800 mil animais.
Suplementação
Aumento e melhoria na suplementação animal em pasto. Na última década, houve um aumento na produção de suplementos minerais da ordem de 65%, enquanto a produção de concentrados aumentou 9%. Esse último para atender ao aumento de sistemas intensivos de engorda em pasto, tais como o já tradicional semiconfinamento e as inovações dos tipos confinamento expresso e terminação intensiva em pasto (TIP). Em 1987, não houve registro de animais terminados nesses sistemas, enquanto em 2017 foram 2,7 milhões de cabeças.
Medicamento veterinário
Outro avanço foi em relação a adoção e melhoria dos protocolos de manejo sanitário. Na última década, o faturamento da indústria de medicamentos veterinários nacional saltou de R$2,7 bilhões em 2008 para mais de R$4,5 bilhões, um aumento de 64% neste período, sendo a participação de ruminantes nesse mercado, da ordem de 54%.
Adubação
Entretanto, a contribuição das tecnologias de manejo da fertilidade e de irrigação de solo da pastagem contribuiu muito pouco para explicar esses avanços. Por ocasião dos penúltimo e último Censo Agropecuário do IBGE, de 2005 e 2017, foi levantado que apenas 7,95% e 14,23%, respectivamente, dos estabelecimentos agropecuários aplicaram corretivos ao solo. Em nenhum desses censos foram divulgados dados específicos sobre o uso de corretivos em pastagens. Por outro lado, apenas 2,41%, dos estabelecimentos pecuários adubaram pastagens e apenas 1,58% do fertilizante comercializado teve destino as pastagens em 2005.
Pergunta-se: será que desde então esse cenário mudou? Baseado em dados do Anuário Estatístico do Setor de Fertilizantes da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) de 2014, relativos ao consumo de fertilizantes em 2013, quando apenas 428 mil toneladas de fertilizantes foram comercializadas para pecuária, apenas 1,22% da área de pastagens deve ter recebido alguma adubação (Cunha e Lima Filho, 2014), ou seja, 98,78% da área provavelmente nada recebeu.
A área de pastagens brasileiras ocupa aproximadamente 21% do território nacional e 70,2% da área agricultável do país. Entretanto, nos anos 2012, 2013 e 2014, em média, apenas 1,42% do fertilizante comercializado foi destinado à aplicação em pastagens (Cunha e Lima Filho, 2013 e 2014; e Lima Filho e Cunha, 2015).
Quando se analisa os dados dos relatórios dos rallys da pecuária, me parece haver outro paradoxo, pois, por exemplo, no relatório de 2015, 54% dos entrevistados afirmaram corrigir e adubar suas pastagens. Extrapolando resultados dos rallys da pecuária para a área de pastagens, Cunha e Lima Filho (2013 e 2014) e Lima Filho e Cunha (2015) estimaram que entre 5,9 a 17, 5% da área de pastagem poderia estar recebendo fertilizantes e que a pecuária estaria consumindo entre 6,45 a 8,79% do total de fertilizantes comercializados nos anos de 2012, 2013 e 2014. Apesar dessa proporção ainda ser muito baixa, dada a proporção da área agricultável do país ocupada pelas pastagens e a baixa fertilidade dos solos explorados com essa cultura, é fato que a cada ano os pecuaristas têm intensificado seus sistemas de produção por meio da aplicação de fertilizantes.
Irrigação
Em relação à tecnologia da irrigação do solo da pastagem, não se conhece quantos estabelecimentos pecuários fazem a sua adoção e muito menos qual a área de pastagens irrigadas. O que se sabe é que em 2005, dos estabelecimentos agropecuários, apenas 6,5% irrigavam alguma cultura, o que equivaleu a 1,3% da área agricultável (IBGE, 2006).
Ocupação das pastagens
Apesar dos ganhos conquistados, a taxa de lotação média das pastagens brasileiras ainda é relativamente muito baixa quando se compara com o potencial a ser alcançado. Segundo o relatório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, publicado em 2011 (DIEESE, 2011), em 52,5% da área de pastagem do país a taxa de lotação estava abaixo de 0,40 unidade animal/ha (UA); 25,1% entre 0,4 e 0,8 UA/ha; 18,3% entre 0,8 e 1,5 UA/há; e em apenas 4% da área tinha taxa de lotação acima de 1,5 UA/ha.
Em cálculos que eu tenho realizado com base no penúltimo Censo Agropecuário (IBGE, 2006) e em dados regionais, a taxa de lotação média dos estados onde tenho trabalhado, tem variado entre 0,40 UA/ha, ou 0,58 cabeça/ha, no Piauí a no máximo 1,40 UA/ha, ou 1,82 cabeça/ha, no Paraná.
Com base nos resultados preliminares do último censo agropecuário, a taxa de lotação bovina atual é de 1,08 cabeça/ha, correspondendo a aproximadamente 0,70 UA/ha. Mesmo se todas as espécies herbívoras (bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e equídeos) fossem alimentadas exclusivamente em pastagem, a taxa de lotação seria de 1,27 cabeça/ha e 0,80 UA/ha.
As baixas taxas de lotação contribuem para redução da produtividade da terra de pastagem. Na pecuária de corte, a produtividade de carne bovina está por volta de 3,49 @/ha/ano com ganho médio diário do rebanho em pasto de 0,12 kg/dia, já descontados os ganhos alcançados em confinamento.
Finalmente – recursos ambientais
Quando os recursos ambientais do Brasil são explorados com eficiência, pode-se estabelecer altas produtividades em sistemas de pastagens, com lotação animal entre 2,0 e 20,0 UA/ha, durante o período das chuvas; produtividade da ordem de 300 a 3,6 mil kg/ha/ano de peso corporal (150 a 1.800 kg de carcaça/ha/ano), com ganho médio diário acima de 0,40 a 0,5 kg/dia apenas com suplementação mineral (AGUIAR, 2011).