Nessa sexta-feira (2), durante o terceiro dia de julgamento do empresário Lucas Leite Porto, denunciado pelo homicídio da publicitária Mariana Menezes de Araújo Costa Pinto, de 33 anos, crime ocorrido no dia 13 de novembro de 2016, mais cinco testemunhas foram ouvidas. Entre elas, uma das mais aguardadas no plenário, a advogada Carolina Costa, agora ex-mulher do réu e irmã da vítima.
A sessão, que iniciou na última quarta-feira (30), acontece no 4º Tribunal do Júri de São Luís, no Fórum Desembargador Sarney Costa, no bairro do Calhau, e é presidida pelo juiz José Ribamar Goulart Heluy Júnior. Ao Ministério Público, Carolina Costa iniciou a oitiva detalhando os momentos que viveu logo após receber a notícia de que a irmã estaria passando mal. Segundo ela, junto com o réu, seguiu imediatamente para o apartamento da vítima e, em seguida, ao hospital para onde Mariana foi levada.
“Eu percebi que minha irmã havia sido assassinada. Ela tinha marcas no pescoço, nas pernas. Não sou perita, mas vi claros sinais no corpo. Mariana foi arrancada de forma brutal da família”, declarou.
Carolina contou sobre o comportamento de Lucas, assim que chegou em casa, no dia do crime. A testemunha relatou que seu ex-marido estava com uma marca no rosto, e que o mesmo alegou ter se machucado tirando a barba. Ela também contou que perguntou a Lucas se ele havia voltado à casa de Mariana, mas o empresário negou. Entretanto, as imagens do réu retornando ao imóvel onde ocorreu o crime foram flagradas pelas câmeras de segurança do local.
Durante o depoimento, a defesa de Lucas questionou se havia alguma suspeita por parte de Carolina sobre um possível envolvimento da vítima com o réu. “É um constrangimento para a família ter que escutar esse tipo de pergunta. Uma aberração jurídica de vocês. Mariana jamais teve um caso extraconjungal com Lucas”, respondeu.
O depoimento de Carolina durou mais de quatro horas, e foi cercado de muitos pedidos dela para que a imagem da irmã fosse respeitada pelos advogados de defesa do réu, que por diversas vezes deram a entender sobre uma relação entre Mariana e Porto.
“Lucas Porto violentou a minha irmã como se fosse uma coisa, um nada. Ele morreu no dia que matou minha irmã. Meu amor acabou naquele dia. Para mim, ele é um assassino, um feminicida”, disse.
HISTÓRICO DE DELITOS
O promotor do MP questionou, também, sobre como era o casamento entre Carolina e Porto. A advogada afirmou que existiam desentendimentos normais de um casal, que o amava e que o mesmo foi seu primeiro namorado. Ela revelou alguns delitos cometidos pelo réu enquanto estiveram casados, entre os quais furtos de cheques do pai dela e de um computador de um quiosque em um shopping de São Luís.
Além disso, houve, ainda, um episódio onde Porto comunicava ao seguro que o veículo havia sido roubado, fato que não acontecia, para ficar com o dinheiro.
DOIS ASSISTENTES DA DEFESA E UMA PRIMA DO MARIDO DA VÍTIMA
Além de Carolina, que foi a 12ª testemunha no terceiro dia de julgamento, uma prima do marido de Mariana Costa, identificada como Larissa Pinto, e dois assistentes técnicos da defesa, os médicos peritos Marco Aurélio Guimarães e Ana Paula Souza Vellozo, também foram ouvidos. Ambos os médicos foram contratados pela família de Porto com o objetivo de analisar os laudos periciais feitos no caso.
Em depoimento, a médica Ana Paula afirmou que não era possível, por meio das informações disponíveis no laudo de Mariana, comprovar que aconteceu crime de estupro e que Porto seria o autor.
De acordo com a perita, a vítima não tinha lesões genitais que indicassem estupro, foi encontrada presença de sêmen, mas sem marcas de violência. O Ministério Público contestou a médica e solicitou que a mesma esclarecesse sobre a hipótese levantada a respeito de uma relação extraconjugal entre a vítima e o réu, visando não confundir os jurados.
A testemunha admitiu tratar-se apenas de suposições, sem provas, já que nas roupas da vítima, duas calças jeans encontradas no local com sêmens presentes, não foram determinadas a quem pertencia o material genético.
PRIMEIRO E SEGUNDO DIA DE JULGAMENTO
Nos dois primeiros dias do julgamento, ocorridos na quarta-feira (30) e quinta-feira (1º), nove testemunhas foram ouvidas.
No primeiro dia de julgamento, quatro pessoas prestaram depoimento. Foram eles: o médico psiquiatra Hamilton Raposo de Miranda e José Ribamar Wanderlei de Sousa Júnior, que é médico legista e diretor do Instituto Médico Legal (IML), do Maranhão; arrolados pela acusação; e, ainda, João Batista Teófilo Silva, médico cardiologista; e um morador do Garvey Park, Ivaldo Correia Prado Filho, convocados pela defesa.
Já no segundo dia, a vizinha que socorreu Mariana, Leila Cortez da Silva de Azevedo, foi ouvida durante toda a manhã. Ela deu detalhes de todo o processo ocorrido desde quando encontrou Mariana despida na cama até a retirada do local para o hospital.
Pela tarde, ainda na quarta-feira (1º), o especialista em audiovisual Ricardo Caires; o médico psiquiatra Antônio José Eça; e a psicóloga Evelyn Ribeiro Lindholm, testemunhas que integram os assistentes técnicos da defesa, foram ouvidos.
NOVA PERÍCIA DE CELULAR NEGADA PELOS JURADOS
O segundo dia de julgamento também foi marcado pela negativa por parte da maioria dos jurados para uma nova perícia no celular de Mariana Costa. Na ocasião, o advogado de Lucas Porto, Ricardo Ponzetto, que solicitou a perícia, alegava sobre a possibilidade de constar algo no aparelho que trouxesse a verdade.
A solicitação foi definida pelo Ministério Público como mais uma manobra para adiar o julgamento. O promotor Marcos Aurélio explicou que a questão foi submetida a julgamento perante o Tribunal de Justiça, que entendeu que a perícia realizada já era suficiente.
DEFESA ACREDITA EM MORTE NATURAL
O advogado de Lucas Porto, Ricardo Ponzetto, ainda no primeiro dia de julgamento, durante declarações à imprensa, salientou que o depoimento do médico que atendeu Mariana no hospital afirma que não havia sinais clássicos de violência.
“O médico inclusive, informou que, depois de constatada a morte, sugeriu que o corpo da publicitária fosse enviado para o serviço de verificação de óbito. Ou seja, o médico estava interpretando o caso como ‘morte natural’. Se fosse diferente, ele teria indicado no prontuário que o corpo fosse levado para o IML”, destacou Ponzetto, ressaltando, ainda, que está provado que Lucas não tinha lesões.
Conforme Ricardo, o médico somente enviou o corpo de Mariana ao Instituto Médico Legal (IML), após ser pressionado pela família.
RELEMBRE O CASO
A publicitária Mariana Menezes de Araújo Costa Pinto, de 33 anos, sobrinha-neta do ex-presidente da República José Sarney, foi achada morta no quarto do apartamento em que morava, no bairro do Turu, em São Luís, no dia 13 de novembro de 2016. Conforme a Polícia Civil, ela foi vítima de estupro e asfixiada até a morte.
O cunhado Lucas Porto figurou desde o começo das investigações como principal suspeito do crime. Câmeras de segurança do condomínio o flagraram deixando o imóvel pelas escadas bastante nervoso. Inicialmente ele negou, mas depois acabou confessando e alegando ter sido motivado por uma forte atração que sentia por Mariana, de acordo com a polícia.
O acusado, indiciado por estupro e feminicídio, segue custodiado no Complexo Penitenciário de Pedrinhas desde o dia seguinte ao crime, quando foi preso em flagrante.