O policial militar Henrique Harrison, do Distrito Federal, foi punido com uma “repreensão” após ter publicado um vídeo no YouTube no qual fala sobre sua sexualidade. O soldado recebeu a nota de punição na segunda-feira, 5. O documento diz que o agente infringiu “preceitos ético-disciplinares” e transgrediu a disciplina da corporação.
Harrison respondeu a uma sindicância na Corregedoria da PM-DF. O motivo foi a publicação de um vídeo no qual relata a sua passagem pelo curso de formação de policiais sendo assumidamente gay e menciona o ambiente militar como machista e revela receio de não ser bem aceito pelos colegas.
A nota de punição, assinada pelo corregedor-geral da PM-DF, coronel Alessandro Marco Alencar Alves, sustenta que Harrison portou-se “de maneira inconveniente ou sem compostura” e discutiu “assuntos políticos ou militares” sem a devida autorização.
— Eu tive problemas durante o curso de formação. Então fiz o vídeo falando como foi essa experiência, explicando como é passar por isso sendo gay. Não tem como eu falar de mim sem mencionar levar em conta que sou gay — disse o soldado, que ressalta ter dado declarações como civil, não como militar.
De acordo com a nota de punição, também pesou para a repreensão o fato de Harrison ter colocado uma arma em cima da mesa, no cenário do vídeo. O militar se defende da alegação.
— Sequer me perguntaram se a arma era de verdade. Eu estava dentro de casa, gravando um vídeo, não estava usando a arma da corporação. O que eu acho mais estranho é que no Instagram há vários policiais postando seus próprios armamentos, alguns desmontam as armas, outros filmam até atirando. Então não é um tratamento isonômico, tentam me imputar alguma transgressão, mas é apenas por causa da minha orientação sexual — disse.
Os problemas de Harrison com a corporação começaram na sua formatura. Na ocasião, o policial publicou uma foto beijando o namorado. Na mesma imagem aparece um casal de lésbicas a beijar.
Nos dias seguintes, um áudio atribuído a um coronel da PM-DF começou a ser compartilhado. O oficial dizia, entre outras coisas, que “a porção terminal do intestino é deles e eles fazem o que quiserem”. Harrison fez uma denúncia sobre essas ofensas e o caso é investigado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
Apesar de ter enviado uma nota de punição ao soldado, a PM-DF informou, em comunicado à imprensa, “que até o presente momento, não foram findados em suas decisões, não tendo, portanto, até a presente data, qualquer tipo de solução, seja ela publicada para punir, arquivar ou tombar em Inquérito Policial Militar”. E acrescentou que “sempre seguirá o devido processo legal” e “os preceitos da ampla defesa e do contraditório”.