O Maranhão só dispõe de cinco unidades de Vigilância em Zoonoses, instaladas em São Luís, Caxias, Açailândia, Imperatriz e Timon. Esta foi uma afirmação do presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, regional maranhense (Anclivepa/MA) Renan Nascimento.
Para Renan, é fundamental a implementação de mais unidades, em todo o estado, pois isto ajudaria a controlar a doença calazar, que somente neste ano já registrou 111 casos. “Temos as soluções para o problema do calazar: tratamento de redes de esgoto, que faz parte do saneamento básico, e unidades de vigilância em zoonoses, capazes de ‘tratar’ a doença, e não matar um animal contaminado. Entretanto, são necessários recursos financeiros para o financiamento dessas ações, e não há investidas governamentais”, destacou Renan Nascimento.
Em 2020, o Maranhão registrou 344 casos confirmados para Leishmaniose. Neste ano de 2021, entre os meses de janeiro a julho, esse número chegou a 111. Somente na Regional de São Luís, que compreende os quatro municípios da Grande Ilha e mais a cidade de Alcântara, foram contabilizados 12 casos, destes, 5 somente na capital maranhense.
De acordo com o veterinário Renan, em São Luís, no ano de 1982, foram “documentados” (havendo possível subnotificações na época) os primeiros casos de calazar humano. Os registros foram de quatro casos no bairro do São Cristóvão e dois no São Bernardo.
Conforme Renan, na década de 90, o calazar já se encontrava disseminado em toda a região metropolitana de São Luís, que engloba as cidades de Raposa, Paço do Lumiar, São José de Ribamar e a capital maranhense.
“Nos últimos anos, o calazar vem se expandido de maneira muito preocupante, atingindo todo os 217 municípios maranhenses. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2015 e 2019 foram registrados 3.229 casos no Maranhão. É um pedido de socorro que faço, precisamos de estratégias para o controle desta doença”, fez o apelo Renan Nascimento.
COLEIRAS CANINAS
Uma estratégia apontada pelo veterinário seria o uso de coleiras caninas impregnadas com deltametrina 4% (inseticida piretroide), em cães. “Há um estudo que aponta o uso desta coleira como eficaz, os resultados de testes teriam sido satisfatórios. Este dispositivo, além de evitar a picada dos flebotomíneos, aumenta a mortalidade destes insetos, reduzindo a circulação da L. infantum em locais onde o cão é o principal reservatório do parasita”, destacou Renan Nascimento.
O veterinário citou ainda uma vacina disponível e registrada no Ministério da Agricultura, como medida de controle do calazar. Outra menção de Renan foi sobre tratamento com drogas terapêuticas. “Ocorre que os recursos financeiros destinados para a vigilância e o controle do calazar ainda são insuficientes e incipientes para os as cidades do Maranhão. Estamos falando de uma doença extremamente negligenciada pelo Poder Público”, frisou Renan Nascimento.
A DOENÇA
A Leishmaniose Visceral (LV), popularmente conhecida por “calazar”, é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por parasitas que vivem e se multiplicam no interior das células do sistema de defesa do hospedeiro. A forma de transmissão é por meio da picada do mosquito-palha ou birigui (Lutzomyialongipalpis).
A doença é caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia (perda ou diminuição da força física), adinamia (fraqueza muscular), hepatoesplenomegalia (aumento do tamanho do fígado e do baço) e anemia, dentre outras. Se não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.
Renan Nascimento enfatizou os principais sintomas. “No caso do cão, há o emagrecimento, anemia, falta de apetite, queda do pelo, e quando o animal morre, é porque houve o aumento do baço e do fígado”, destacou Renan.
SEMANA NACIONAL
A Semana Nacional de Combate e Controle à Leishmaniose teve início na última segundafeira (9), no Maranhão. Até sexta-feira (13), teria sido apresentado um panorama de prevenção e tratamento da leishmaniose, além de capacitação de profissionais de São Luís, Caxias e Timon para diagnosticar e tratar precocemente os casos.
A capacitação teria sido realizada no Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão, em São Luís, com a presença do pesquisador da Universidade de São Paulo, Fredy GalvisOvallos.
MEDIDAS PREVENTIVAS
Dirigidas à população humana: uso de mosquiteiro com malha fina, telagem de portas e janelas, uso de repelentes, não se expor nos horários de atividade do vetor (crepúsculo e noite) em ambiente onde este habitualmente pode ser encontrado.
Dirigidas à população canina: captura de cães errantes. Esta deverá ser realizada pelo município rotineiramente de acordo com as normas estabelecidas no código sanitário.
Doação de animais: em áreas com transmissão de LV humana ou canina, é recomendado que seja realizado previamente o exame sorológico canino antes de proceder à doação de cães. Caso o resultado seja sororreagente, deverão ser adotadas as medidas de vigilância.
Vacina antileishmaniose visceral canina: existe uma vacina contra a leishmaniose visceral canina registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, porém sem constatação de seu custo-benefício e efetividade para o controle de reservatório da leishmaniose visceral canina em programas de saúde pública.
Uso de telas em canis individuais ou coletivos: os canis de residências e, principalmente, os canis de pet shop, clínicas veterinárias, abrigo de animais, hospitais veterinários e os que estão sob a administração pública devem obrigatoriamente utilizar telas do tipo malha fina, com objetivo de evitar a entrada de flebotomíneos e consequentemente a redução do contato com os cães.
Coleiras Impregnadas com Deltametrina a 4%: em condições experimentais, diversos trabalhos demonstraram a eficácia na utilização de coleiras impregnadas com deltametrina 4% como medida de proteção individual para os cães contra picadas de flebotomíneos.
Entretanto, para a sua adoção em programas de saúde pública, a fim de interromper o ciclo de transmissão doméstico, é necessária a implementação de estudos longitudinais que demonstrem sua efetividade como medida de controle.
Posicionamento do governo do Estado e da Prefeitura de São Luís
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que, por meio do Programa de Vigilância e Controle das Leishmanioses, atua na capacitação e treinamento de profissionais de saúde que compõem as equipes de zoonoses nas 19 Regionais de Saúde do Maranhão.
Como parte das ações da SES, os médicos das Unidades Básicas de Saúde dos municípios recebem treinamento a respeito da rotina de medicação para pessoas com Leishmanioses, bem como capacitação das equipes de zoonoses para captura de vetores, borrifação e monitoramento de áreas endêmicas.
A Secretaria também informou que fornece insumos para testes rápidos em animais e humanos, bem como analisa os exames suspeitos no Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão. E ressaltou que os municípios possuem a competência para implantar as unidades de vigilância de zoonoses.
Já a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), de São Luís, informou que, em parceria com o Ministério da Saúde, Universidade de São Paulo (USP), Secretaria de Estado da Saúde (SES) e equipes de vigilância entomológica e vigilância e controle de zoonoses, promoveu a elaboração do Plano de Fortalecimento das Ações de Vigilância das Leishmanioses em São Luís, com previsão de execução em trinta meses a partir de agosto de 2021.
Os trabalhos foram iniciados pelas equipes de vigilância entomológica da Semus na Cidade Olímpica I e II, área escolhida por apresentar alta transmissibilidade do calazar.
Com a supervisão de pesquisadores da USP, foram instaladas na terça, quarta e quinta-feira desta semana 20 armadilhas luminosas CDC no para captura do mosquito transmissor do calazar (flebotomíneo).
Sobre a Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses, a Semus informou que o espaço administrativo, laboratórios, canis e gatis estão passando por ampla reforma e adequação física. Também estão sendo oferecidos serviços para cães e gatos, tais como vacina antirrábica, avaliação clínica de cães com sinais e sintomas sugestivos de calazar e testes rápidos.
Os serviços podem ser agendados via WhatsApp pelo número (98) 99164-9301 ou pelo número fixo da UVZ: 3225-0155.