Todo pai é vaidoso com seus filhos, não é? Gostamos de falar sobre eles, mostrar fotos, celebrar cada pequena conquista com a família e os amigos. Com as redes sociais, esse comportamento ficou muito mais intenso. Milhares de fotos, vídeos, áudios das crianças são compartilhados todos os dias em todo o mundo, em geral com boa intenção, claro.
Porém, a exposição de crianças e adolescentes na internet, seja por seus pais ou por eles mesmos, pode passar de apenas uma diversão para uma exposição exagerada e até mesmo perigosa. Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um documento alertando sobre a necessidade de mais critério ao expor nossas crianças na internet.
Sharenting é um termo em inglês que combina as expressões “share” (compartilhar) e “parenting” (paternidade) e que se aplica ao comportamento de exposição excessiva de fotos, vídeos e informações das crianças nas redes sociais.
Embora compartilhar vários aspectos da vida nas redes sociais seja uma característica comum dos nossos tempos, os limites entre um uso saudável e o exagero são sutis. A superexposição das crianças e adolescentes pode levar a consequências danosas. É realmente necessário refletir antes de postar.
Por vezes, a exposição pode colocar as crianças em situação de vulnerabilidade não prevista pelos pais. O conteúdo publicado pode ser compartilhado de forma indevida, além de adulterado por redes ilegais de pornografia e pedofilia.
Além disso, sabemos que os comentários de certas postagens podem ser bastante ofensivos (cyberbullying), gerando consequências psicológicas, principalmente para os adolescentes.
Depois de postar, não temos mais controle sobre quem está vendo e de que forma vai interagir com o conteúdo. O ideal é que crianças não tenham redes sociais e que todas as postagens de adolescentes sejam supervisionadas.
Além disso, é preciso fazer uma análise do conteúdo que queremos postar: será que a criança aprovaria essa postagem, se pudesse escolher? Será que daqui há alguns anos esse conteúdo que parece “engraçado” não será desagradável?
A exposição exagerada nas redes sociais representa uma ameaça à saúde mental até mesmo para pessoas adultas. Mas no caso de crianças e adolescentes, tudo é mais intenso, além de que nessa faixa etária ainda não há condições de analisar totalmente os riscos.
É muito importante que pais e responsáveis reflitam sobre o uso das redes sociais, os limites de segurança e privacidade de seus filhos. Sempre que possível, deve-se perguntar para a criança se ela se sente confortável com aquela postagem.
No caso de adolescentes, que costumam ter suas próprias redes sociais, que possam conversar abertamente sobre o tema, além de deixar claro a necessidade de supervisão e possíveis intervenções por seus responsáveis.
No Brasil ainda não existem leis que protegem a privacidade das crianças pelos provedores de internet. Qualquer publicação pode ter várias interpretações e esse conteúdo ficará para sempre na internet.
Dados expostos indevidamente podem ser usados para roubo de identidade, tentativas de extorsão, grupos de pedofilia, golpes, dentre outros. O compartilhamento seguro de informações é uma garantia de tranquilidade para toda a família.
Além disso, é fundamental que os pais possam conversar com seus filhos sobre as crianças e adolescentes que hoje representam “influencers”, que têm canais sobre jogos, brincadeiras ou apenas de “estilo de vida”.
Para crianças e adolescentes que assistem é quase impossível compreender que aquilo que está sendo mostrado não representa a vida real, mas uma construção para gerar lucro, e que pode fomentar inúmeras expectativas irreais.
No caso de crianças que produzem conteúdo para internet, ou seja, que já têm seus próprios canais, páginas, fazem tiktok, é importante regular esse uso, ou seja, estabelecer quais são os limites para que a diversão não se transforme em uma obrigação de produzir cada vez mais conteúdo, gerar “likes” ou visualizações. Os comentários das postagens devem ser moderados pelos pais.
Os pais que desejam compartilhar fotos e vídeos de seus filhos online podem tomar algumas medidas de segurança;
– é possível limitar o público que pode ver as
postagens (apenas familiares e amigos, por
exemplo);
– pensar se aquela exposição não seria desagradável
para a criança (por exemplo, não postar imagens
de crianças chorando após sofrerem sustos ou
brincadeiras humilhantes);
– perguntar se a criança se sente confortável com a
postagem;
– não postar dados de localização, nome completo da
criança, data de nascimento, documentos, imagens
de crianças sem roupas;
– não postar informações sobre a escola que
frequenta ou detalhes sobre a rotina da vida da
criança ou da família.
Vamos ficar atentos ao bom uso das redes sociais, para podermos continuar a curtir nossos lindos e preciosos filhos sem comprometer a saúde emocional deles e sem gerar consequências para o futuro.
Melyssa Bentivi
Médica pediatra CRM-MA 4796 e RQE 447. Marcação de consultas: 3877-8900 – Consultório: (98) 3877-8900 ou 98735-5930