Cerca de 80% dos homicídios e latrocínios têm envolvimento de facções criminosas

Grande São Luís já registrou 239 crimes violentos letais intencionais em 2021.

Fonte: Aidê Rocha

Em 2021, entre os meses de janeiro a setembro, a Grande Ilha, área que abrange São Luís, Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar, já registrou 239 crimes violentos letais intencionais (CVLI), que são os latrocínios, homicídios dolosos (incluindo feminicídios) e lesões corporais seguidas de morte. Destes, segundo dados da Superintendência de Homicídio e Proteção à Pessoa (SHPP), cerca de 80% estão relacionados a facções criminosas.

Além das mortes por disputas de território entre as organizações rivais, também ocorrem os chamados “Tribunais do Crime”, caso em que as facções julgam e executam a “pena”, após uma pessoa da comunidade ou um próprio membro ter cometido um delito ou infringido as regras impostas por eles.

Vale ressaltar ainda os assassinatos cometidos porque a vítima foi confundida, mora em um bairro dominado por outro grupo ou até mesmo conhece algum faccionado. Muitas destas execuções são filmadas e compartilhadas nas redes sociais, sempre com menções aos nomes das facções responsáveis pelo ato.

A polícia investiga se a morte a tiros de José Pereira, de 44 anos, ocorrida dia 30 de setembro, na Vila Sarney Filho, por exemplo, foi uma punição determinada pela facção atuante na região. Ele foi acusado de matar sua a ex-mulher e o pai dela com golpes de faca, no dia 21 de abril de 2018, em São José de Ribamar, e estava em liberdade condicional.

Outro caso com características do “Tribunal do Crime” foi o dos irmãos Gabriel Ribeiro dos Reis e Pedro Henrique Ribeiro dos Reis. No dia 5 de junho, eles saíram de Chapadinha para encontrar uma pessoa em São Luís, mas acabaram descendo no endereço errado. Ambos foram executados com tiros na cabeça, na Rua do Fio, na Vila Conceição, região do Polo Coroadinho. Os dois teriam sido confundidos com membros da facção Bonde dos 40 e mortos por integrantes do PCM.

O delegado George Marques, titular da SHPP, conversou com a reportagem do Jornal Pequeno e explicou que é necessário um combate efetivo às organizações criminosas, para que se tenha uma redução concreta de crimes de homicídios e latrocínios. Ele garante que as investigações que vem sendo realizadas estão colaborando na diminuição desses números e, consequentemente, na ação das facções.

“Em 2014 e 2015, era normal termos, em cada plantão de 24 horas, quatro ou cinco homicídios. Hoje, já passamos até mais de sete dias sem nenhum”, afirmou.

De acordo com o superintendente, a polícia tem feito operações em diversos bairros e conseguido prender integrantes de facção, por meio das apurações dos crimes de homicídio.

“Isso está reduzindo os crimes, mas, claro, existe o papel preventivo da Polícia Militar que colabora e, ainda, as outras unidades da Polícia Civil, como Seic e Senarc, que também auxiliam nesse combate”, destacou.

PRISÕES DE FACCIONADOS

Duas das ações mais recentes feitas pela Polícia Civil resultaram no cumprimento de mandados prisões, no dia 29 de setembro, contra catorze integrantes de facção criminosa investigados por participação em duas execuções. Os crimes ocorreram em Paço do Lumiar e em São Luís.

Nove desses presos são acusados de torturar e matar Vianey Ailton Chagas, de 23 anos, no dia 23 de julho. O jovem era deficiente mental e havia fugido de casa no Residencial Novo Horizonte. As investigações apontaram que a vítima acabou entrando na região dominada pelos faccionados e foi levada por eles até um campo de futebol, no sítio de Seu Carneiro, situado na Vila Temer, ainda em Paço do Lumiar. No local, o espancaram e torturaram com socos e pedaços de madeira até a morte.

Vianey teve a cabeça esfacelada com uso de pedras, e foi jogado em um matagal.

A outra execução, na qual outro cinco faccionados tiveram mandados cumpridos, ocorreu dentro do presídio Regional São Luís, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no dia 13 de março. Todos os envolvidos já estavam custodiados.

A vítima foi Diego Garcia Moraes, de 26 anos, morto com diversos golpes de armas brancas artesanais, durante o banho de sol, na quadra da unidade prisional.

Segundo apurado pela SHPP, os suspeitos e a vítima eram integrantes da mesma facção criminosa. Entretanto, Diego foi assassinado depois de descobrirem, já dentro do presídio, que ele seria o autor do homicídio de outro membro do grupo ocorrido em 2015.

ÁREAS COM MAIORES ÍNDICES DE CRIMES

Mais um exemplo que reafirma a relação das facções criminosas com a maioria dos crimes violentos letais intencionais (CVLI), são os locais em que eles estão ocorrendo, geralmente onde o domínio desses grupos são maiores. Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a área Leste, que começa no São Cristóvão, vai até São José de Ribamar e pega ainda uma parte de Paço do Lumiar, representa mais de 48% no número de vítimas. A maior quantidade foi na região do bairro do São Raimundo.

Os meses mais violentos na área foram janeiro, junho e agosto, respectivamente, com registros de 22, 19 e 18 crimes dessa natureza.

O delegado George Marques ressaltou que, na localidade, existe um conflito acentuado de território entre pelo menos três facções criminosas, o que também resulta em mais mortes, tanto por rivalidade quanto por ações internas determinadas pelo grupo.

Depois da área Leste, aparece com mais vítimas a área Norte (21,8%), que é seguida pela Sul (18%) e a Oeste (11,7%).

Redução com relação a 2020

Os nove meses de 2021, ainda de acordo com dados da SSP, apresentaram redução nos crimes de homicídios, na região metropolitana de São Luís, com relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a setembro de 2020, foram dezesseis vítimas a mais, o que representa uma queda de 7% neste ano.

Se comparado apenas o mês de setembro, os dados apontam uma diminuição de 49%. Os números de vítimas caíram de 35 para 18, em 2021. A capital maranhense, comparando também os dois anos, reduziu o número de mortes em 3% e, em São José de Ribamar, se chegou a 7% a menos.

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