Na tarde dessa quinta-feira (21), o desembargador federal do Trabalho, Francisco José de Carvalho Neto, em atendimento a uma ação movida pela Prefeitura de São Luís, determinou o retorno ao trabalho dos empregados do transporte público da capital maranhense, a fim de que fosse garantida a circulação de 90% da frota. Porém, mais uma vez, os rodoviários não obedeceram à ordem judicial e mantiveram os coletivos parados, dentro das garagens, devido à greve deflagrada pela categoria desde as primeiras horas da manhã.
A equipe do Jornal Pequeno acompanhou a movimentação dos rodoviários em frente a empresa Viação Estrela, no bairro do Anjo da Guarda. No local, alguns cobradores, motoristas e fiscais aguardavam para saber se ocorreria uma possível negociação.
Vale ressaltar que a manutenção da greve, prevista dias atrás, foi contra a determinação da Justiça do Trabalho divulgada na quarta-feira (20). Na decisão da desembargadora federal, Ilka Esdra Silva Araújo, 90% da frota de ônibus teria que ser disponibilizada à população, sindicatos não poderiam impedir trabalhadores que não quisessem aderir à greve nem bloquear entradas de empresas ou realizar outro tipo de greve.
Em caso de descumprimento, a multa diária estabelecida foi de R$ 50 mil aos sindicatos. Entretanto, segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Maranhão, Marcelo Brito, em assembleia, após a decisão judicial, a categoria decidiu paralisar as atividades.
“Mostrei a decisão e a multa, sei que precisa ser respeitada, mas a categoria quis manter a greve. Sou presidente do sindicato, mas botar na cabeça de cada um deles que precisamos respeitar a liminar, no momento que está vivendo o rodoviário fica difícil. A categoria já vem sofrendo há muito tempo e várias empresas estão com salários atrasados”, destacou o presidente.
Ainda de acordo com Marcelo, os rodoviários só retornarão aos trabalhos depois que tiverem suas demandas atendidas pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (SET).
A categoria pede reajuste salarial de 13%, ticket alimentação no valor de R$ 800, jornada de trabalho de seis horas, inclusão de mais um dependente no plano de saúde e concessão do auxílio creche para filhos pequenos dos funcionários.
PRIMEIRA AUDIÊNCIA
No fim da manhã de ontem, o Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) anunciou que mediará, nesta sexta-feira (22), às 10h30, a primeira audiência de mediação entre o Sindicato das Empresas de Transporte (SET) e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Maranhão (Sttrema).
Conforme o órgão, o encontro será presencial, mas o acesso à sala de audiência será restrito, em função dos protocolos sanitários para evitar a propagação do coronavírus. A mediação será presidida pelo procurador do Trabalho Marcos Rosa, que ouvirá as partes envolvidas com o intuito de fomentar a negociação de um acordo extrajudicial.
ATRASOS E PREJUÍZO AO COMÉRCIO
A equipe do JP também esteve no principal ponto de comércio da capital maranhense, a Rua Grande. No local, a movimentação era mais tranquila do que o normal para uma manhã de quinta-feira.
O vendedor ambulante Giovane Batista garantiu que a pouca movimentação era reflexo da falta de ônibus na cidade. Segundo ele, em dias normais a situação é outra e a venda é maior.
“Eu moro na região do Anjo da Guarda e tenho a opção de pegar um carrinho lotação para trabalhar, mas a maioria não tem. A greve com certeza impediu muitas pessoas de saírem e prejudicou nossas vendas”, explicou.
Já a dona de casa Maria das Graças disse ter esperando um bom tempo na parada de ônibus, no bairro do Monte Castelo, onde reside, antes de decidir ir andando até o Centro para não perder um compromisso.
“Cheguei um pouco atrasada, mas, graças a Deus, consegui resolver o que precisava. Não tem como ficar sem ônibus, nem todo mundo tem dinheiro para pagar um táxi ou um Uber. Espero que resolvam e volte logo”, finalizou.
PREFEITURA ACIONOU A JUSTIÇA DO TRABALHO
Em nota, a Prefeitura de São Luís, por meio da Procuradoria Geral do Município, informou que acionou a Justiça do Trabalho para que os ônibus voltem a circular na capital, tendo em vista o descumprimento da decisão judicial, que garantia o percentual mínimo de 90% da frota de ônibus nas ruas.
“Dentre as medidas requeridas pela Prefeitura, está a determinação de que o serviço seja prestado em sua totalidade, com 100% da frota em todas as linhas e horários, com imediato restabelecimento do serviço”, diz outro trecho da nota.
O órgão relatou, ainda, que estava com fiscais desde 4h da manhã para garantir que o percentual mínimo da frota circulasse na cidade e que vai buscar as medidas necessárias para que a decisão judicial seja cumprida, uma vez que a população de São Luís não pode ser penalizada.