SÃO LUÍS – “Ele era um santo porque era extremante humano”. É dessa forma que o professor aposentado de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Mario Cella, descreve o Frei Antonio Maria Sinibaldi, frade italiano que viveu no Maranhão entre os anos de 1968 e 1987. Conhecido pelo trabalho altruísta em apoio aos mais necessitados, em especial os menores de rua, Antonio Sinibaldi dedicou sua trajetória como religioso para ajudar o próximo. Exímio nadador, em 1987 Frei Antonio Sinibaldi acabou perdendo a própria vida ao salvar 17 jovens de jovens de um naufrágio, resgatando a nado cada um deles.
Atendendo a pedido da comunidade italiana no Maranhão e de amigos e alunos do padre, nessa sexta-feira (21), o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secma), entregou um busto em homenagem à memória de Frei Antonio Sinibaldi. Obra assinada pelo artista plástico Eduardo Sereno, o busto foi instalado na Praça da Lagoa da Jansen, que já leva o nome do Frei Antonio e foi construída pela gestão estadual em 2016.
“É uma homenagem merecida. Encaminhamos esse pleito às Secretarias de Comunicação e Cultura, e o governador Flávio Dino autorizou a homenagem”, comemorou o também italiano Mario Cella, que atualmente atua como voluntário na Associação Obras Sociais Frei Antônio Sinibaldi, instituição mantida em São Luís pela Paróquia São Francisco de Assis, da qual Frei Antonio Sinibaldi foi pároco e fundador.
A Associação Obras Sociais Frei Antônio Sinibaldi hoje atende cerca de 200 crianças da comunidade da Ilhinha, com reforço escolar, fornecimento de alimentação e serviços sociais.
Beatificação
Durante sua trajetória como missionário no Maranhão, Frei Antônio Maria Sinibaldi levou uma vida de caridade fraterna até os últimos momentos de sua vida. Quem o conheceu o descreve como franciscano exemplar. “Ele conversava com as pessoas, seguia o modo de vida de Francisco de Assis e se preocupava com o seu semelhante. Ele entendia a complexidade do ser humano e ajudou os mais necessitados no Maranhão”, conta Mario Cella.
Por sua atuação perante a juventude e por trabalhos comunitários desenvolvidos nos municípios maranhenses de Bom Jardim e na capital do estado, a Paróquia São Francisco de Assis encaminhou ao Vaticano pedido de beatificação de Sinibaldi. “Para todos nós, que nos sentimos filhos de Frei Antonio Sinibaldi, ele é, sem dúvida, a maior referência que eu e muitas pessoas têm da bondade. Um homem santo verdadeiramente”, conta a psicóloga e professora universitária, Nilma Maria Cardoso.
Nilma foi aluna do Frei Antonio no Curso de Ciências Religiosas na década de 1980. O pároco lecionava a disciplina Liturgia no Instituto de Ensino Superior do Maranhão (IESMA). A psicóloga destaca a atuação constante do frade em assistência a populações vulneráveis, como menores desabrigados, alcoólicos e prostitutas.
“Frei Antonio Sinibaldi foi a presença física, material, que mais me remeteu à pessoa de Jesus Cristo, por sua extrema paixão pela população, sobretudo a mais carente, as mulheres, as prostitutas, as crianças em situação de rua. Eu o conheci na década de 1980; tive oportunidade de ser aluna dele. Excelente professor, um sacerdote, um padre cujas homilias eram maravilhosas, sempre voltadas para a pessoa do empobrecido, da empobrecida”, detalha Nilma Maria.
Vida dedicada aos vulneráveis e morte heroica
Nascido em 26 de novembro de 1937, em Segni, na Itália, Frei Antonio Sinibaldi iniciou sua vida religiosa ao ingressar precocemente, aos 13 anos, na Ordem dos Frades Menores Conventuais.
Em 1968, ele chegou ao Maranhão. Após dois anos à frente dos trabalhos pastorais na cidade de Vargem Grande, o padre foi transferido para São Luís. Na capital, ele se dedicou ao constante atendimento e trabalho pastoral em comunidades.
Na manhã do dia 7 setembro de 1987, o barco que conduzia Frei Antonio e 17 jovens da Paróquia para a Ilha do Medo, Baía de São Marcos, em São Luís, naufragou.
A psicóloga Nilma Maria revela que chegou a ser convidada ao passeio para a Ilha do Medo, mas acabou não indo. “Ele tinha uma grande paixão pelos jovens, sobretudo os da periferia. No dia 6 de setembro, ele encerrou o encontro e, na homilia, ele falou meio profeticamente que ‘pelos jovens daria a própria vida’”, lembra a psicóloga.
Frei Antonio salvou do afogamento todos os 17 jovens. No seu extremo esforço para resgatá-los, o frade franciscano foi vencido pelo cansaço e não resistiu.