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Os desafios da intensificação na produção de bovinos de corte

Entrevista com o zootecnista Welton Cabral Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Mato Grosso (2006), mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso (2008) e doutorado em Agricultura Tropical pela Universidade Federal de Mato Grosso (2015). Atuou como professor contratado da Universidade de Cuiabá. Atua como gerente na Fazenda Novapec desde […]

Fonte: Scot Consultoria

Entrevista com o zootecnista Welton Cabral

Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Mato Grosso (2006), mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso (2008) e doutorado em Agricultura Tropical pela Universidade Federal de Mato Grosso (2015). Atuou como professor contratado da Universidade de Cuiabá. Atua como gerente na Fazenda Novapec desde 2015, e é Diretor Executivo da empresa Gesta\’Up. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Sistemas Intensivos de Pecuária de Corte, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão, forragicultura, bovinos e nutrição.

Foto: ShutterStock

Scot Consultoria: Em um cenário de preços de insumos em alta, problemas logísticos e incertezas frente ao mercado do boi gordo, como viabilizar os processos de intensificação produtiva?

Welton Cabral: Viabilizar a intensificação nas fazendas é um grande desafio. Hoje, o que mais me preocupa é a falta de mão de obra qualificada, com comprometimento, pois o nível de resistência dos trabalhadores é altíssimo. A intensificação traz mais trabalho pelo aumento dos controles, maior pressão e assertividade na execução da rotina da fazenda. Atualmente, esses são os principais entraves na hora da intensificação, além do grande desafio de fazer a propriedade dar lucro diante do atual cenário de mercado.

Hoje não dá para fazer a intensificação sem informação e tecnologia. Para que isso ocorra é necessário ter pessoas capacitadas e principalmente comprometidas, o que hoje é uma raridade na pecuária. Diante disso, a solução é treinar pessoas, motivar, orientar e remunerar bem.

O maior desafio não é somente a fazenda dar lucro, mas fazer o operacional rodar.

Scot Consultoria: Quais os principais pontos de atenção pensando nas atividades de cria, recria e engorda? Quais as principais estratégias de intensificação disponíveis no mercado dentro de cada uma dessas atividades?

Welton Cabral: O maior ponto de atenção em todo o sistema é sem dúvidas fazer as operações de rotina rodarem, por exemplo: manejo correto de pasto, lavagem de bebedouro, suplementação, curar umbigo de bezerros, dar rodeio no gado, entre outras. São atividades de base que necessitam ser bem executadas no dia a dia. Hoje é raro encontrar uma fazenda de gado de corte que tenha uma rotina de limpeza de bebedouro, cocho abastecido, pastos bem manejados. É mais comum encontrarmos o oposto, cocho vazio, pasto sendo perdido e água suja. Esses princípios básicos do dia a dia são os principais pontos de atenção para qualquer fazenda dar lucro.

A principal estratégia que tenho observado em cada atividade, em qualquer etapa do ciclo, ou ciclo completo, é a nutrição. Tenho observado um constante crescimento de produção de silagem no Mato Grosso, feno, pasto, safrinha e etc.

Outro ponto que o pecuarista tem se atentado mais, é que não há alternativa para intensificar a não ser se planejar, produzir comida, estocar, comprar na hora certa e fazer trava de alguns insumos. Das tecnologias disponíveis no campo, a nutrição é o ponto de partida, desde a cria até a terminação.

Scot Consultoria: Com uma tendência crescente na demanda por sistemas de produção sustentáveis, como a intensificação pode auxiliar na otimização do uso de recursos disponíveis?

Welton Cabral: A sustentabilidade tem ganhado força no campo. A recuperação de pastagens é um dos principais responsáveis pela sustentabilidade da fazenda e pela sua preservação de forma geral.

A partir do momento que cuidamos melhor do pasto, o desempenho dos animais melhora, a mortalidade diminui, a produção de arroba/hectare é maior e diminuem também os gastos com reformas e herbicidas.

Uma fazenda que tem a taxa de lotação baixa e começa a ser trabalhado o manejo de pastagem, adubação e calagem desses pastos, automaticamente você consegue dobrar a lotação da fazenda de forma sustentável.

Scot Consultoria: Além do custo inicial no investimento em intensificação, quais seriam outros pontos de atenção e dificuldades que o produtor pode enfrentar em um primeiro momento?

Welton Cabral: Sem dúvidas essa alta volatilidade do mercado. Diante desse cenário, hoje o produtor precisa estar atento e protegido em termos de mercado, tanto na compra dos insumos e dos animais para reposição, quanto na trava futura da comercialização do produto. Não dá apenas para fazer a tarefa de casa bem-feita dentro da porteira, pois o capital necessário para rodar uma fazenda intensiva é muito alto, e, por isso, não há margem para erros na atividade.

Scot Consultoria: O bem-estar animal é um tema em alta. Pensando nisso, como é a relação entre intensificação na pecuária e o bem-estar dos animais?

Welton Cabral: Quando se faz uma intensificação bem-feita, automaticamente já se associa as questões de bem-estar animal. Desde o tamanho dos piquetes, sombreamento, espaçamento de cocho, disponibilidade e espaçamento de bebedouro, declividade do terreno e até mesmo a familiarização dos lotes antes do fechamento no confinamento. O bem-estar animal é uma importante tecnologia na intensificação, isso é indiscutível. Sem o bem-estar animal não se faz intensificação.

Scot Consultoria: Na sua opinião, o que tem mudado na pecuária nos últimos 10 anos? Quais os gargalos? E quais são os desafios da intensificação a longo prazo?

Welton Cabral: O que tenho mais visto nos últimos 10 anos é a quantidade de pessoas que tem entrado na pecuária. A pecuária tem trocado de mãos, com a entrada de agricultores, investidores de todos os tipos, uma nova geração assumindo as fazendas. Graças a isso a pecuária renovou e tem um futuro promissor pela frente. Não que a pecuária vinha de forma errada, mas o mercado mudou, e por isso demanda nova postura e novos investimentos.

O principal gargalo acredito que continuará sendo a qualidade da mão de obra.

Já o desafio é a alta volatilidade de preços do mercado. O mercado globalizou, as pressões virão de todos os lados, do governo, da sociedade, fornecedores, indústria e, nesse contexto, o pecuarista precisa se adaptar para continuar competitivo.

O pecuarista que sobreviver a essas mudanças terá boas oportunidades em vender a arroba valorizada para mercados especializados.

Estamos entrando em um processo de uma pecuária de resistência, resiliência. Quem aguentar passar por todo esse processo de adaptação e se manter com o caixa firme neste período, terá grandes oportunidades a longo prazo.

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