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Família acusa profissionais de uma escola particular de agredir criança autista de 11 anos

Aluna teria sofrido tapas no rosto e pisões, provocados por funcionários da instituição.

Fonte: Luciene Vieira

Uma criança com espectro de autismo passou quase nove anos matriculada na Escola Crescimento, localizada no bairro do Calhau, em São Luís. Aos dois anos e sete meses, ela iniciou seus estudos nesta instituição particular de ensino. Atualmente com 11, a aluna revelou para sua família que recebia tapas na cara de uma tutora, pisões de uma professora, e era chamada de “idiota” pela coordenadora deste colégio.

Desde então, a família busca reparações, como um pedido de desculpa formalizado e o desligamento destes profissionais da escola. A estudante estava matriculada no 5º ano do Ensino Fundamental, no turno vespertino. Não apresentava histórico de reprovação, e três vezes na semana tinha aulas de reforço escolar.

A mãe da criança, a médica Taiza Liz Moura da Silva Rocha, contou ao Jornal Pequeno que a sua filha somente revelou as agressões verbais e físicas no dia 23 de agosto de 2021. Três dias antes, no dia 20 de agosto, Taiza Liz levou sua filha ao Crescimento, mas a estudante se recusou a descer do carro, e, após uma crise da criança na portaria da instituição, semelhante a alguém com medo de algo, filha e mãe retornaram para casa.

Desde então, a aluna não voltou para o colégio, e, no dia 23, veio a revelação. “‘Mamãe, a tia tutora (alguém que auxilia o aluno autista) ‘bate no meu rosto’… ‘Mamãe, todos foram más comigo, a minha professora pisa no meu pé’. Isto me angustiou, pois todos os dias minha filha me dizia que era machucada, e eu não entendia os sinais. No lugar de dizer que a professora pisava no pé dela, ela dizia diariamente o calçado que a agressora utilizava. Um dia era um tênis, noutro uma sapatilha, noutro uma sandália ‘rasteirinha’, eu nunca entendia a maldade no que minha filha dizia, e isto dói muito”, declarou Taiza Liz.

Desde aquela semana de agosto, a garota autista não retornou para o Crescimento. A mãe da criança disse que sua filha finalizou os estudos de forma remota, as atividades escolares eram levadas para casa.

Quando o ano letivo de 2021 foi finalizado, a criança foi transferida para outra instituição particular de ensino da capital maranhense, e ainda sofre se adaptando ao novo colégio.

SOMENTE APÓS NOTIFICIAÇÃO EXTRAJUDICIAL,  FAMÍLIA CONSEGUIU REUNIÃO COM DONA DA ESCOLA 

A médica Taiza Liz contou que, por três meses, tentou uma reunião com a dona da Escola Crescimento, mas nunca havia espaço na agenda da empresária. Então, Taiza fez uma notificação judicial e tentou entregar o documento na instituição, que o recusou.

Depois, a médica providenciou uma notificação extrajudicial, sendo que neste caso o documento é entregue por um oficial de cartório e a escola é obrigada a recebê-lo. Somente assim, a família da criança autista conseguiu uma reunião com a dona do Crescimento.

“A minha filha em casa, o problema acontecendo, mas somente em novembro de 2021 foi que conseguimos nos reunir com a proprietária da rede de escolas Crescimento, Luiza Bacelar de Castro, sendo que nada foi resolvido, as pessoas que maltrataram minha filha ainda estariam trabalhando para aquele colégio”, informou Taiza.

A mãe da aluna contou dos traumas que sua filha sofreu. “Só Deus sabe quais serão as sequelas que minha filha terá, ela está na terapia, no psicólogo. Quando minha filha vai orar, ela diz: ‘Meu Deus, me ajude para que ninguém me maltrate na minha escola’”, frisou a médica.

EXAMES COMPROVARAM OS MAUS-TRATOS 

De acordo com Taiza Liz, o caso foi parar na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), localizada na Avenida Beira-Mar, em São Luís, cuja titular é a delegada Kelly Kioka. Por meio da delegacia, a criança foi submetida a exames que, segundo Taiza, comprovaram as agressões físicas e psicológicas.

O caso estaria sendo tratado como “crime de menor potencial ofensivo”, e o processo estaria em um juizado especial. Na conclusão da avaliação psicológica pericial, foi informado pela psicóloga: “os elementos encontrados são consistentes, para inferir que os direitos da periciada foram violados, envolvendo situações de violência física e psicológica”.

A psicóloga também destacou, na sua conclusão da avaliação pericial, que os atos sofridos pela vítima desencadearam alguns fatores emocionais, como nível elevado de ansiedade e um sentimento de raiva. Foram realizadas três entrevistas psicológicas com a criança autista. Elas ocorreram nas seguintes datas: 23, 25 e 29 de novembro de 2021.

ESCOLA CRESCIMENTO NEGA MAUS-TRATOS

Por meio de nota, enviada ao Jornal Pequeno, a Escola Crescimento negou que os possíveis maus-tratos contra a criança autista tenham ocorrido dentro da instituição. Leia nota na íntegra:

A Escola Crescimento, em respeito à sociedade maranhense, alunos e seus familiares vem a público esclarecer o que segue:

1. Tão logo a Escola Crescimento tomou conhecimento de denúncias de suposta agressão a uma aluna autista praticada por funcionários desta instituição de ensino, adotou todas as medidas internas para esclarecimento dos fatos não encontrando nenhum indício de que o episódio relatado tenha ocorrido dentro do ambiente escolar;

2. As funcionárias supostamente autoras de tais atos são profissionais experientes e contra elas nada foi encontrado que confirme tal prática; não devendo, portanto, serem punidas ou pré-julgadas sem qualquer elemento comprobatório;

3. A Escola sempre se colocou à disposição da família e das autoridades competentes, tendo disponibilizado todas as informações requeridas sobre o caso em questão;

4. Reafirmamos, ainda, que estamos solidários à família e confiantes de que todos os fatos sejam esclarecidos pelas autoridades competentes a quem nos colocamos inteiramente à disposição.

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