A história de Antônio Carlos da Silva, o Pirata da Litorânea

Nesta semana, o morador de foi notícia após subir na torre de transmissão da Mirante, ficando por 12 horas na estrutura, até ser resgatado.

Fonte: Luciene Vieira

Aos 50 anos, Antônio Carlos da Silva, mais conhecido como o “Pirata da Litorânea”, voltou a ganhar notoriedade na imprensa maranhense, ao subir em uma torre de transmissão no bairro do São Francisco, em São Luís, na manhã da última quartafeira (30).

Carlos já tinha sido notícia outrora por ter vivido dentro de um fusca, por alguns anos, quando o veículo ficou estacionado na Avenida Litorânea, no bairro do Calhau. Há quatro dias, o Pirata subiu em uma torre de transmissão, ficando por cerca de 12 horas na estrutura. O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) atendeu à ocorrência.

A Polícia Militar e socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também estiveram presentes no apoio ao trabalho dos bombeiros, que escalaram a torre, conversaram com Antônio Carlos e negociaram a descida em segurança.

Em seguida, ele recebeu os primeiros socorros e foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vinhais, onde foi atendido pela equipe médica da unidade, apresentando hipotermia e desidratação.

A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou ao Jornal Pequeno que o atendimento foi finalizado na UPA do Vinhais, e o paciente foi levado para o Hospital Nina Rodrigues por um veículo da Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Ocorre que o paciente não deu entrada no Hospital Nina Rodrigues. Enquanto o veículo da SES aguardava a abertura do portão de acesso da unidade de saúde, Antônio Carlos conseguiu fugir.

Na sexta-feira, 1º de abril, o Pirata da Litorânea teria sido visto em frente à sede do Grupo Mirante, mas apenas permaneceu pela calçada, e depois não foi mais encontrado.

COMO SE TORNOU O PIRATA DA LITORÂNEA

Nascido em Catolé do Rocha, na Paraíba, Antônio Carlos, aos 19 anos, trabalhava como mecânico de manutenção em uma fábrica de pré-moldados. Após ficar desempregado, o jovem decidiu enveredar na arte.

Antônio Carlos viajou pelos 26 estados do Brasil e o Distrito Federal, apresentando-se como Carlito – personagem que fazia referência ao Charles Chaplin -, palhaço mímico, e até mesmo o sombra no programa do Faustão.

Foram mais de 20 anos de turnê nacional, até que no dia 22 de dezembro de 2010, o ilusionista chegou em São Luís. À imprensa maranhense, em uma de suas entrevistas, Antônio Carlos chegou a dizer que tinha cansado de café da manhã de hotel.

Na capital maranhense, o ilusionista fez do calçadão da Litorânea sua casa até 2018. Ele vivia da renda das apresentações que fazia na Avenida Litorânea interpretando personagens. Para dormir, o artista retirava o banco do seu Fusca.

O carro modelo Fusca ano 83 foi adquirido pelo artista em Porto de Galinhas (PE), por R$ 6 mil reais e transportou o artista por cidades do Nordeste. Na Litorânea, Antônio Carlos criou um personagem, inspirado no personagem do Johnny Depp, do filme Piratas do Caribe. Ele tomava banho de torneira em uma barraca próxima e também no mar.

Em 2013, ele trabalhava à noite, na orla, ministrava aulas de mágica à domicílio e vendia acessórios de magia.

O FUSCA

O Pirata da Litorânea morava em um fusca vermelho apelidado por ele de “Ferrari”. O veículo chegou a passar por uma transformação, sendo todo decorado em 2013.

Com nova cara, o fusca ganhou um novo nome, Pedra Livre, e também uma nova moradora, uma cachorrinha a quem o Pirata nomeou Negalita.

O artista, que já trabalhou como mecânico, planejava transformar o fusca em um barco, mas carecia das ferramentas. De acordo com os planos, a embarcação ficaria na areia e no mar da Praia do Calhau, visto que o Pirata não cogitava deixar a Litorânea.

“Esse carro já é um patrimônio da humanidade, não me pertence mais. Está doado ao povo de São Luís”, declarou o Pirata, ainda em 2013.

RETIRADA DO CARRO DA LITORÂNEA

Em 2014, o Ministério Público recomendou a retirada imediata do fusca, e a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT) retirou o carro do Pirata, que estava na Avenida Litorânea desde 2010.

Na época, os agentes da SMTT alegaram que o carro não tinha documentação e por isso precisou ser removido da área. O Fusca tinha grande valor sentimental para Pirata.

A ação do tempo e a maresia dificultaram o reboque do carro, pois a lataria estava fragilizada. O Fusca foi levado para o pátio da SMTT. A Prefeitura de São Luís chegou a emitir uma nota justificando a ação.

“A ação da SMTT atendeu recomendação do Ministério Público Estadual (MPE), por meio do Ofício n° 009/2014 – 2ª PJCEAP, assinado pelo Promotor de Justiça, Cláudio Guimarães”, dizia a nota.

No documento do MPE encaminhado à SMTT, era recomendada “a retirada imediata de carcaça de automóvel marca Volkswagem, modelo Fusca, pintado com desenhos da bandeira do Brasil, localizado no estacionamento da Av. Litorânea, próximo à Praça de Alimentação, tendo em vista que este automóvel está servindo como abrigo de morador de rua”.

REVOLTA NAS REDES SOCIAIS

A retirada do carro do Pirata, na época, causou revolta nas redes sociais. Houve, inclusive, uma campanha na internet, feita poucas horas depois de o carro ter sido levado por agentes da SMTT.

No Twitter, foi utilizada a #ajudaopirata. E, no Facebook houve críticas à Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte.

O apresentador Luciano Huck, da TV Globo, em 2014, em meio à repercussão e a revolta nas redes sociais, se manifestou, por meio da sua conta do Instagram.

“Desde cedo recebi milhares de mensagens sobre a história do ‘Pirata da Litorânea’. Já estamos na missão. Valeu a todos pelas dicas e olhos abertos de sempre”, escreveu Luciano.

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