Crônica: Banco de praça

Como é bom saber, que, perto, silencioso e receptivo, tem um banco de praça nos aguardando

Fonte: Fernando Marques

Como é bom saber, que, perto, silencioso e receptivo, tem um banco de praça nos aguardando. Na rua em que cresci os bancos eram de cimento, de granizo, lisos, um concreto armado. Meio dia era o horário da quentura; já no final da tarde, esfriavam. Das vezes em que passei por lá, como turista, os vi no escuro, à noite – e eram tumbas.

Naqueles bancos aprendi a jogar os pequenos jogos de criança. Aprendi a fazer a partilha de folhas tiradas de uma árvore jamais conhecida por nós, crianças, a servirem como moeda de troca.

Diferenciei as tardes de Janeiro das tardes de Dezembro; uma era nebulosa, escura, carregada de nuvens que quase tocavam o chão; a outra, ardente. Também provei um pouco da solidão, nos momentos em que coisas ruins aconteciam na escola; sentado no banco, só, entendi o motivo do pássaro bem-te-vi levar este nome.

E foi lá que vi a primeira mulher dos meus olhos.

Hoje vejo várias mulheres passando, quando sento nos bancos de praça, de madeira, que fica no pátio do prédio em que trabalho. Muitas passam a pé, na direção da parada de ônibus. Outras estacionam seus carros na padaria logo a frente, e descem, apressadas, para comprar o pão.

Uma sentou ao meu lado, certo dia. Ela trabalha num ateliê, no mesmo prédio. Senti o cheiro de tabaco quando começou a falar ao telefone. A conversa era rápida, de preocupação, de muitas coisas a serem feitas. O ateliê, segundo ela, iria mudar de endereço. Só restou uma tristeza na voz.

Lembrei de quando vi, sozinho no banco da antiga praça, um bem-te-vi pousando no outro logo a frente, seguido de sua canção.

Éramos dois bem-te-vis, tristes, sentados num banco de praça.

F. M.

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