Brasil: a potência agroalimentar do planeta

José Luiz Tejon Megido é mestre em arte e cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Fonte: Scot Consultoria

 

José Luiz Tejon Megido é mestre em arte e cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Pedagogia da Superação pela UDE/Uruguai; jornalista e publicitário formado pela Faculdade Casper Líbero. Administrador com ênfase em marketing, com especializações na Pace University/EUA, Harvard/EUA e MIT/EUA. Em liderança tem especialização no INSEAD/França.

Foto: PixBay

Scot Consultoria: Como o senhor enxerga atualmente a política agrícola brasileira?

José Luiz Tejon: Eu acredito que deveríamos implementar um planejamento com metas ousadas e que pudéssemos ter uma segurança de estoque, garantindo para o Brasil e para o mundo que somos, de fato, a potência agroalimentar do planeta.

Eu sinto que isso tem ficado de lado por conta do próprio risco do agricultor, dos empreendedores e da agroindústria. Porém, mesmo assim, nós tivemos momentos ótimos a níveis governamentais. Um dos exemplos se dá pela ex ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que sempre foi muito competente e correta.

Mas falta um planejamento agrícola integrado da sociedade civil com o governo para um plano de estado. Esse planejamento deve envolver comércio, indústria, serviço, ciência, tecnologia e produção agropecuária.

Scot Consultoria: A agropecuária nacional carece de integração com empresas do setor privado?

José Luiz Tejon: Sim. Existem alguns ramos que são mais bem equacionados, como a cadeia do algodão, com a criação de uma visão organizacional com o setor industrial. Mas também temos problemas de desunião com setores, como a pecuária de corte e leite.

Observa-se que temos uma atividade voltada para a cadeia de proteína animal importante, no setor de aves, suínos e ovos, e muitas vezes não há o abastecimento suficiente de milho, por exemplo.

A oportunidade para ter uma relação mais estratégica e segura no setor agrícola e industrial existe, e deve ser explorada.

Scot Consultoria: Como o senhor analisa o agronegócio em meio à guerra no leste europeu? A Rússia se tornar a maior potência agroalimentar do mundo é um dos objetivos desta guerra?

José Luiz Tejon: A Rússia é um país importante em energia e petróleo, e uma potência agroalimentar composta de estratégias de poder mundial.

Porém, eu não imagino que será bem-sucedida essa iniciativa, porque há problemas milenares que envolvem o país. Acredito que foi uma tentativa que a Rússia errou na sua forma de execução.

Mesmo que a guerra acabe, a desconfiança das relações externas com a Rússia ficará muito marcante, envolvendo a Europa e Estados Unidos, por exemplo. Já a China, mesmo sendo um país com uma grande extensão territorial, por mais que venha a ser uma aliança estratégica com os resquícios do país russo, tem muito a depender de negociações com o mundo inteiro.

Dentro do cenário mundial, o Brasil é o único país que possui estoque potencial no solo e nas águas para oferecer ao planeta uma segurança alimentar. É um país com muita oportunidade de crescimento, principalmente em áreas de tecnologia e inovação. Se tivermos inteligência suficiente, esse é um momento de nos posicionarmos ao mundo.

Esse cenário pode se tornar lucrativo, caso a gente aproveite nosso potencial e se mostre com a intenção de ser o país da segurança do alimento e do meio ambiente.

Scot Consultoria: O senhor afirmou em um texto que o dano de imagem do agro nacional é causado por dentro do próprio setor produtivo e que isso impacta a imagem do Brasil mundo a fora. Quais seriam as principais mudanças a serem feitas para que esse cenário se inverta? Como o marketing das empresas pode colaborar com isso?

José Luiz Tejon: Quem tem o contato cotidiano com o consumidor final e com a opinião pública são as indústrias e os supermercados. É importante que na comunicação empresarial haja a consciência da originação.

Através desse advento da ideia de originação, o cidadão do mundo tem a necessidade de saber de onde vem e quem fez o alimento. Então, é importante começar a mostrar as famílias agrícolas, elas têm um poder de empatia e de confiabilidade muito grande.

Cabe às indústrias, por terem as vielas publicitárias de qualidade, utilizarem na sua comunicação a origem do alimento. Isso faz com que aumente o nível de confiança do consumidor, porque existe a tendência do gosto das coisas mais naturais.

Pontos como as famílias agrícolas, de onde elas vêm, como a sua região é cuidada e tratada, passa a ser um diferencial nas estratégias de marketing de empresas com relevância mercadológica no setor agroindustrial.

O mesmo acontece com os supermercados, que querem mostrar cada vez mais aos seus clientes que eles são responsáveis pelo que estão colocando em suas gôndolas.

Um dos primeiros passos para se conseguir gestão nesse tipo de comunicação brasileira do agro seria uma pesquisa de percepção, com o que a sociedade brasileira entende de alimento e de agronegócio, e o que está na mente do povo e dos mercados externos, que são nossos principais clientes.

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