Entrevista com o engenheiro agrônomo e mestre em Nutrição Animal e Pastagens, Luiz Gustavo Nussio
Luiz Gustavo Nussio possui graduação em Engenharia Agronômica e mestrado em Zootecnia e Pastagens pela Universidade de São Paulo e doutorado (PhD) em Animal Sciences pela University of Arizona. Atua no Departamento de Zootecnia da ESALQ desde 1988 nas áreas de Conservação de Forragens e Nutrição de Ruminantes, ocupando o cargo de professor titular. Também é líder do grupo de pesquisa do CNPq e atua como assessor da FAPESP e CAPES.
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Scot Consultoria: Nussio, quais os principais desafios que o produtor enfrenta para a ensilagem de milho atualmente?
Luiz Gustavo Nussio: O produtor tem passado por vários desafios, o primeiro deles ocorre devido a diversidade climática atípica, haja vista o que aconteceu no sul do país esse ano. São episódios que influenciam completamente a produção e mudam a qualidade do produto. É diante de imprevistos que se deve tomar decisões que irão minimizar o prejuízo.
Outro ponto é que estamos lidando com uma cultura anual, logo, a reversão da tomada de decisão não pode acontecer em curto prazo, pois as compras de insumos são feitas com cerca de um ano de antecedência. Desse modo, durante esse período de um ano não se pode reverter a intenção de uso, devido a carência de tempo para a regeneração do planejamento.
Apesar desse cenário nos ancorar ao planejamento agrícola, que deve ser visualizado com um tempo de conceituação a longo prazo, não devemos excluir a possibilidade de realizar ajustes frente a imprevistos que venham a aparecer durante a execução do planejamento.
Para exemplificar, um problema que vem sendo frequentemente apresentado esse ano é: “como irei conseguir manter a produtividade com doses de adubação bem menores do que estava habituado a realizar?”. Esse cenário ocorre em função da alavancada dos custos dos fertilizantes, em que temos de aplicar nossa capacidade de gestão e tomada de decisão.
Basicamente acredito que as dificuldades estão no imprevisível. Devemos, portanto, tomar conta de tudo aquilo que é previsível e nos prepararmos para tomar decisões diante do imponderável. É esse processo que conceitua uma boa gestão.
Scot Consultoria: Professor, nós sabemos que existem várias etapas na composição do processo da ensilagem de milho. Na sua opinião, qual é a etapa mais importante e desafiadora desse processo?
Luiz Gustavo Nussio: O nível de desafio de cada etapa depende diretamente da escala de desenvolvimento tecnológico da propriedade.
Existem confinamentos que ainda estão “estacionados” em uma espécie de manejo bastante primitivo e para estes indivíduos estabelecerem uma cultura com uma população de plantas adequadas é o primeiro desafio.
Não adianta, portanto, eu me preocupar com descarregamento de silo quando eu ainda tenho uma área agrícola precária. Em comparativo, existe um outro conjunto de produtores onde o pacote tecnológico recomendado já está avançado. Ou seja, as etapas mais primordiais já foram vencidas e não temos que nos preocupar com itens básicos, podendo focar mais nas falhas encontradas no fim da atividade.
Sendo assim, apesar de ser uma pergunta legítima, a resposta não é simples. Devemos personalizar esse tipo de recomendação para o ambiente em que estamos inseridos.
Para nossa sorte, o nível de tecnificação dos confinamentos tem crescido e, em vista disso, estamos focando mais na porção final desse processo, uma vez que as tarefas mais básicas já vêm sendo cumpridas suficientemente na média dos confinadores. Mas isso não quer dizer que o jogo está ganho. Devemos ainda nos preocuparmos com aquilo que virá mais ao final.
Scot Consultoria: Quais são as maneiras que temos hoje para medir as perdas no silo e quais tecnologias nos permitem fazer isso em tempo real?
Luiz Gustavo Nussio: Tradicionalmente, nós começamos a nos preocupar com perdas a partir do momento em que o indivíduo não sabe qual é o tamanho da sua. Existem levantamentos que dizem que quando o indivíduo quer estimar o tamanho de suas perdas, ele já começa com no mínimo 15% de perda. Então, a conceituação de perdas e a preocupação do pecuarista com ela já é o primeiro objetivo a ser alcançado.
A partir disso, a maneira mais tradicional é mensurar tudo aquilo que entra e sai do silo. Para fechar essa contabilidade existe um tempo de espera consideravelmente elevado, correspondente ao tempo de utilização do silo. Portanto, é um indicador que aparece posteriormente ao momento de uso da silagem, como estar “olhando pelo retrovisor”. De toda forma, esse controle é positivo pois podemos aplicar os resultados em uma próxima safra, mas esse método isolado não é suficiente para direcionar minha atenção imediatamente ainda nessa safra de confinamento.
E uma terceira possibilidade, onde conseguimos triar as perdas em tempo real, é colocando dispositivos no silo. Esses dispositivos vão desde os mais simples, como, por exemplo, sacos traçadores que irão controlar a perda de peso dessa massa, até dispositivos bastante sofisticados, que mensura perdas em tempo real de maneira mecanizada.
Esses dispositivos eletrônicos estão começando a aparecer fora do Brasil e provavelmente vão estar conosco mais à frente, permitindo a exploração de meios facilitadores para controlar essas perdas em tempo real, possibilitando a tomada de decisões mais rapidamente e a consequente correção desses pontos fracos.
Scot Consultoria: Para finalizarmos, qual você considera a principal etapa da ensilagem e a mais importante para melhorar a eficiência e consequentemente os custos?
Luiz Gustavo Nussio: O principal continua sendo o básico. A silagem é um ambiente que deve conviver com ausência de oxigênio, então para isso devo me preocupar em: colher e planta no momento adequado, picá-la de maneira a produzir partículas pequenas o suficiente para que tenham facilidade de acomodação, em seguida gerenciar a compactação do material até consolidar esse adensamento da massa e finalmente vedar o silo, que deve atingir, hipoteticamente, uma condição hermética onde não haja troca com o ambiente externo.
Sendo assim, podemos dizer que a compactação é definitivamente um passo fundamental, pois é dela que decorrem aumentos de temperatura no silo, onde ocorre a queima da energia que poderia estar sendo levada até o animal. Portanto, eu acredito que na média dos confinamentos brasileiros, a etapa mais fundamental é a compactação.