SÃO LUÍS – As idosas com idade entre 60 e 70 anos, autodeclaradas pardas, alfabetizadas e com renda de até um salário mínimo são as maiores vítimas de violência na Região Metropolitana de São Luís. Foi o que revelou a pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa Educação e Cuidado em Enfermagem (Nupece), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a partir de denúncias recebidas pelo Centro Integrado de Apoio e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (Ciapvi) da Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE/MA).
O resultado da pesquisa foi apresentado pelo Prof. Me. Rafael de Abreu Lima, que coordenou o estudo, durante a reunião ampliada da Associação Nacional de Gerontologia no Maranhão, realizada semana passada, na sede da DPE/MA, como parte da programação da Campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa 2022, que será encerrada nesta terça-feira, dia 5, com uma audiência pública sobre o assunto no auditório da OAB-MA, às 8h30.
Além do perfil da vítima, a pesquisa também apontou o perfil dos agressores, as principais violências praticadas e tendências verificadas nos últimos anos.
Vítimas – Foram analisadas 5.743 notificações de violência contra a pessoa idosa na Região Metropolitana de São Luís, recebidas pelo centro especializado da Defensoria, no período de 2015 a 2020.
O estudo dessas denúncias mostrou uma feminização da violência contra a pessoa idosa. Mulheres são maioria entre as vítimas, um total de 58,9%. Já os homens, são 41,1%. A maioria dessas pessoas que sofreram algum tipo de violência tem entre 60 e 70 anos.
A pesquisa revelou ainda importantes dados socioeconômicos sobre o envelhecimento na região. A maioria das vítimas, 52,9%, é autodeclarada parda e 87,5% escolarizados. Além disso, o estudo das denúncias apontou que um total de 86,1% das pessoas que sofreram violência tem renda de até um salário mínimo, o que demonstra que a baixa renda tem se mostrado fator de risco para todos os tipos de violência.
Agressões – A negligência, caracterizada pela falta de cuidados básicos com o idoso, relacionados à higiene, saúde, medicamentos ou mesmo proteção contra frio ou calor, foi a violação mais cometida. Foram 31,2% dos casos de violência no período avaliado, seguidos de casos de violência psicológica (50%) e abuso financeiro (21%), que também tiveram uma prevalência.
E quem mais se destacou dentre os agressores que cometeram violência contra pessoas idosas foram os próprios filhos (48,3%), que apresentaram um percentual significativo ao longo do período estudado.
O próprio estudo aponta alguns aspectos que podem explicar essa relação entre agressores filhos e pais vítimas. Uma delas são os novos modelos familiares, que vislumbram os casos dos filhos que têm retornado para a casa dos pais, e o fato de o idoso ser o responsável pelo sustento de todos, o que gera uma dependência financeira dos filhos. Além disso, observa-se também em alguns casos a falta de vínculo significativo entre o filho e o idoso, por vezes, decorrente da exposição à violência desde a infância e da transmissão intergeracional desse comportamento violento.
Além dos filhos e outros parentes, como primos, sobrinhos e netos, também se destacam entre agressores as instituições. Segundo a coordenadora do Centro Integrado de Apoio e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (Ciapvi), Isabel Lopizic, a violência institucional é aquela exercida dentro do ambiente institucional seja público ou privado, em que o idoso tem atendimento negado ou é tratado de forma agressiva ou com descaso.
Ainda de acordo com ela, um dos exemplos mais recorrentes são as violências praticadas nas instituições financeiras. “O idoso vai buscar uma coisa e passam para ele alguma oferta de empréstimo ou financiamento que vai endividá-lo por muitos anos. Ou também acontece o contrário, quando o idoso escuta que ele já tem uma idade muito avançada e não pode mais tirar empréstimo. Mas ele continua sendo um cidadão de direitos e a negativa disso é um desrespeito, uma violência”, disse.
Futuro – Mais do que evidenciar o perfil das vítimas e dos agressores e os casos de violência mais denunciados, a pesquisa expôs ainda um importante dado: a tendência de crescimento entre os tipos de violência denunciados. Entre 2015 e 2020, houve um aumento considerável nos casos de abandono (13,22%), negligência (20,22%) e autonegligência (20,83%).