De volta ao papel

Foi o contato com o jornalismo e a literatura, ora como leitor, ora como escritor, que me transformou numa espécie de servo da folha impressa.

Fonte: José Sarney

A História, ao longo dos séculos, tem sido impressa no papel, desde quando Guttemberg, o genial gráfico do Sacro Império Romano-Germânico, inventou os tipos móveis e deu por inaugurada aquela revolução intelectual que germinaria frutos como a Renascença. Com o papel impresso dá-se o renascimento das artes, da linguagem, do comportamento das sociedades, da própria História.

Desde muito cedo o papel tem sido um velho e inseparável companheiro, dos livros didáticos na infância às páginas de jornal por onde passei como repórter, editor ou mesmo empreendedor. Fui um incorrigível acumulador de bons papéis, de documentos raros a livros e jornais de particular predileção – muitos deles doados, por dever intelectual e cívico, à Fundação da Memória Republicana Brasileira, à Academia Brasileira de Letras e à Academia Maranhense de Letras.

Foi o contato com o jornalismo e a literatura, ora como leitor, ora como escritor, que me transformou numa espécie de servo da folha impressa. Com ela, nos seus mais diferentes processos de manufatura, tenho guiado as minhas horas e teço diariamente o meu itinerário lúdico Muito se falou, depois de iniciada a primavera digital pelo mundo, que o papel impresso estaria com os dias contados.

Mas, apesar de obscurantismos aqui e acolá deliberados, livros e jornais resistem heroicamente ao desvario de profecias dessa natureza. Na contramão dos apocalípticos, nunca se vendeu tanto livro impresso como agora, inclusive no Brasil, especialmente no período da pandemia. Evoco esse prelúdio para dividir com os leitores a alegria de voltar a publicar meus artigos em jornal impresso no Maranhão.

Até ontem eu estava exilado com minhas ideias e impressões no ambiente da internet. Agora faço o caminho da volta, em atenção aos inúmeros apelos e cobranças dos leitores que acompanham a minha jornada de articulista, ávidos por uma leitura orgânica, para usar uma palavra da moda. Sinto-me mais à vontade numa página de jornal impresso, não por culto à tradição ou por desprezo à evolução tecnológica, mas por uma inclinação romântica que sempre sobrepôs a atividade jornalística de raiz.

Continuarei no exílio voluntário da internet. Mas terei também a chance, novamente, de manusear as folhas de um jornal, de sujar as mãos de tinta, para conferir hoje – materializado no papel como um documento com o qual os historiadores poderão ou não se ocupar no futuro – o texto que escrevi ontem. É esse, portanto, como poderia supor a pena de Lago Burnnet, um dos papéis do jornal.

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