Desde 2016, todo ano são internadas mais de 12 mil pessoas por queimaduras, no Maranhão. No período entre julho de 2019 e junho de 2022, foram 39.806 pessoas internadas por queimaduras, em todo o estado. Acidentes domésticos ou no local de trabalho são as principais causas. Esses são dados da Associação Maranhense de Apoio a Sobreviventes de Queimaduras (Amasq).
A Amasq surgiu em 2020, após os fundadores Daniel Moraes e Andréa Barbosa terem vivenciado experiência de incidentes que resultaram em queimaduras.
“Com mais uma colaboradora, a Linda Amorim, criamos a associação. O objetivo é prestar assistência aos sobreviventes de queimaduras, por meio de informações sobre como se dá o tratamento das queimaduras”, destacou Daniel Moraes.
A maioria que chega à Amasq é sobrevivente de baixa renda, com condições financeiras limitadas para comprar malhas compressivas, malhas brancas e cremes hidratantes. Para ajudar estas pessoas, a Associação faz campanhas de arrecadação destes itens, que, segundo Daniel Moraes, são imprescindíveis para uma plena recuperação.
Outro objetivo da ONG é o de mobilizar o estado do Maranhão, promovendo a prevenção às queimaduras. A Amasq afirmou que busca dialogar com os gestores públicos, em relação à necessidade de tratamentos especializados e campanhas de prevenção.
“Em 2019, sugerimos a criação da Semana Estadual de Prevenção a Queimaduras no Maranhão, que foi aprovada naquele ano e entrou em vigor. Além disso, já realizamos duas composições musicais: ‘Para Não Me Queimar’ e ‘Acorda Meu Maranhão’, disponíveis no YouTube, com o objetivo de promover a prevenção a queimaduras e dar visibilidade à realidade em que vivem os maranhenses que sofrem queimaduras, respectivamente”, informou Daniel.
MARANHÃO NÃO TEM ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA
De acordo com a Amasq, o governo do Maranhão ainda não oferece nenhuma assistência especializada em queimaduras. Também não possui ações de prevenção a queimaduras, embora exista a Lei estadual nº 11.202/2019, que institui a Semana Estadual de Prevenção a Queimaduras no Maranhão, de sugestão da Amasq. E, não há no estado assistência de reabilitação aos sobreviventes de queimaduras, além de não existir, por meio do governo estadual, uma resolução prática na condução dos sobreviventes.
O que existe é a Portaria GM/MS 1273, do ano 2000, prevendo a criação de dois Centros de Tratamento para Queimaduras para o Maranhão. A falta de tratamento adequado resulta em sequelas graves, tanto físicas como psicológicas, que, inclusive, impedem que as vítimas retomem suas vidas normalmente.
Em 2019, surgiu pelo governo do Maranhão, a promessa de criação do Centro de Tratamento de Queimaduras (CTQ), no Hospital da Ilha. Mas Daniel informou que, apesar de já terem sido anunciadas entregas de unidades, a execução da ala de queimaduras ainda é uma incerteza.
“Nunca nos foi entregue respostas se a ala de queimaduras obedece às normas do Ministério da Saúde, e qual o fluxo de atendimento, pedido também solicitado em 2021, pelo Centro de Apoio Operacional de Saúde do Ministério Público. Por meio da Amasq, enviamos ofícios aos gestores estaduais e municipais do nosso estado solicitando apoio nas ações de prevenção a queimaduras, que até o momento não foi adotada pelo estado, acreditamos que a prevenção é o melhor caminho para sairmos do estado com maior índice de internações por queimaduras”, disse Daniel.
PROTOCOLOS SEGUIDOS
Para que as vítimas de queimaduras tenham assistência médica e social adequada, segundo a Amasq, é necessário que os protocolos de atendimentos já existentes e definidos pela Sociedade Brasileira de Queimaduras e pelo Ministério da Saúde sejam seguidos. Para isso, é necessário o treinamento das equipes de saúde, desde a atenção básica até o atendimento de média e alta complexidade.
A Assistência primária no atendimento aos sobreviventes a queimaduras é o primeiro passo, além de fortalecer o atendimento a queimaduras nas unidades básicas de saúde, nas UPAs, e promover campanhas de prevenção a queimaduras.
O outro passo imprescindível, conforme a Amasq, é a comunicação imediata à central de regulação sobre o pedido de transferência do paciente com queimaduras a um centro de referência.
“As unidades hospitalares e profissionais de saúde precisam entender que não possuem estrutura física, carga horária e nem equipe interdisciplinar especializada para tratar estes sobreviventes. Infelizmente, as unidades hospitalares do Maranhão desconhecem a Cartilha de Tratamento para Queimaduras disponibilizada pelo Ministério da Saúde, e, por isso, não sabem quando solicitar a transferência do paciente, nem como preencher o laudo médico, além da própria regulação do hospital não saber quais documentos necessários enviar para a transferência dos pacientes”, informou Daniel.
Além do tratamento hospitalar adequado e especializado, que deve ser multidisciplinar envolvendo diversos profissionais de saúde, a Amasq disse que é imprescindível o tratamento de reabilitação com acompanhamento de psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais também especializados. Também, o uso de malhas compressivas e outros itens que auxiliam a recuperação e evitam a aparição de sequelas após a cicatrização. Estes materiais são de custo muito alto, o que torna de difícil acesso para a maioria da população que é de baixa renda.
VOLUNTÁRIO DA AMASQ
Para ser voluntário da Amasq, basta entrar em contato pelas redes sociais, email ou telefone da Associação. A partir do contato feito, um formulário de voluntariado é enviado, e a pessoa interessada irá se cadastrar para poder dizer como e quando poderá atuar e ajudar.
Os canais de contato são: Instagram: @amasqqueimaduras, Facebook: @amasq.queimaduras, telefone: (99) 98500-3683, e email: [email protected].
OUTRO LADO
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que, atualmente, os pacientes acometidos por queimadura em estado de risco recebem assistência, por meio do Tratamento Fora do Domicílio (TFD), em hospitais de referência nas cidades de Fortaleza (CE), Goiânia (GO) e São Paulo (SP).
Durante o ano passado, quatros maranhenses necessitaram da assistência da SES, por meio do TFD. Já os pacientes cuja quadro clínico é estável, a SES disse que “garante assistência no Hospital Dr. Carlos Macieira”.
A SES ressaltou que, conforme planejamento de expansão da rede hospitalar de média e alta complexidade do governo do Estado, o Hospital da Ilha contará com ala destinada ao Centro de Tratamento de Queimados com funcionamento ainda este ano.
A nova unidade, que tem sido inaugurada por etapas, ofertará 19 leitos exclusivos para assistência hospitalar aos pacientes acometidos por queimadura no Maranhão, se tornando o primeiro serviço de referência no estado.
Por fim, a Secretaria ressaltou que, por meio dos Centros de Reabilitação do Olho d’Água e da Cidade Operária, oferece o acompanhamento pós hospitalar, com equipe multidisciplinar, aos pacientes vítimas de queimaduras cujas sequelas podem ser motoras e/ ou respiratórias.