Versão virtual do Real será lançada em 2024

Inovações e promessas do Banco Central envolvem maior facilidade de pagamentos, transferência de recursos e compra e venda de imóveis e carros.

Fonte: Gabriel Shinohara

Fazer transferência offline, agilizar processos de compra e venda de imóveis e facilitar pagamentos internacionais estão entre os nove projetos selecionados pelo laboratório de inovação do Banco Central (BC) que trabalha em soluções para o Real Digital, que deve ser lançado em 2024.

O Real Digital é uma representação virtual da moeda que circula na economia brasileira. O projeto surgiu na esteira global: o crescimento das criptomoedas instigou bancos centrais de todo o planeta a desenvolverem suas próprias moedas digitais.

Os primeiros projetos foram selecionados com os trabalhos do Lift Challenge realizado pela Federação Nacional das Associações de Servidores do Banco Central (Fenasbac) em conjunto com o BC começaram neste mês e reúnem projetos de várias instituições, como Itaú, Santander, Tecban, Visa e Mercado Bitcoin.

O Real Digital terá o mesmo valor e poderá ser livremente convertida em depósitos bancários, no papel-moeda e poderá ser utilizada em compras, pagamento de contas e transferências pessoais, assim como o Real convencional. A principal diferença é que ela poderá ter novas funções que estão sendo desenvolvidas, ampliando aplicações que não são possíveis com o real “convencional”.

A intenção, segundo Rodrigoh Henriques, diretor de inovações financeiras da Fenasbac, é que ao final do período do Lift em fevereiro do ano que vem, as propostas alcancem o estágio de um Mínimo Produto Viável (MVP na sigla em inglês), ou seja, um produto que entrega o que promete, apesar de não estar completo.

“Ele ainda não é o produto, ele ainda não foi lançado, mas a sensação é que, mesmo não estando completo, se eu lançasse amanhã alguém ia se beneficiar. As pessoas iam dizer, pode melhorar aqui, ali, mas ele está funcionando”, disse.

Duas transações em uma

Depois desse período, o BC vai selecionar projetos para avançar para a fase de pilotos que durará até o segundo semestre de 2024. O objetivo é que os projetos passem por testes com clientes em escopo reduzido para validar as ideias em ambiente próximo do real.

O projeto apresentado pelo Santander que tenta facilitar o processo de compra e venda de um imóvel ou veículo foi um dos selecionados. A premissa é de converter o direito de propriedade em um formato digital e por meio de um smart contract (contrato inteligente) possibilitar que o pagamento e a transferência da titularidade da propriedade aconteçam ao mesmo tempo.

Jayme Chataque, superintendente executivo de Tecnologia e Operações do Santander, aponta que o banco tem um mercado relevante no mercado imobiliário e de financiamento de automóveis e esse projeto tornaria a transação de propriedade mais eficiente.

“Por exemplo, é possível dizer que aquele valor de transação do automóvel só estará disponível quando mudar o nome do proprietário. Você transforma duas transações paralelas em uma só”, afirmou.

Outro dos grandes bancos que participam do processo, o Itaú trabalha em uma proposta que usa o real digital para facilitar as transferências internacionais entre Brasil e Colômbia. Os detentores das moedas poderiam trocar as moedas simultaneamente, facilitando o câmbio entre o Peso e o Real.

Conheça os primeiros projetos para o Real Digital

Aave

O projeto consiste em criar um fundo com recursos de poupadores (pool de liquidez) com foco em oferecer empréstimos e garantir que essas operações estejam adequadas às leis do sistema financeiro nacional

Banco Santander Brasil

Ao converter o direito de propriedade de um veículo ou imóvel para formato digital (um token), a instituição pretende possibilitar que a transferência desse direito ocorra simultaneamente ao pagamento. O objetivo é aumentar a eficiência desse tipo de transação.

Febraban

O trabalho da Federação Brasileira de Bancos pretende permitir que a transferência do dinheiro em compras de ativos financeiros digitalizados, como debêntures, ocorra ao mesmo tempo que a transferência do direito de propriedade. A ideia é aumentar o grau de confiança na transação, conta Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da entidade.

Giesecke + Devrient

A empresa alemã propõe um sistema de pagamentos e transferência que permita que tanto o pagador quanto o recebedor estejam desconectados da internet. O protocolo criado possibilita a transação entre carteiras digitais mutuamente autorizadas e também evitar que o dinheiro seja perdido.

Itaú Unibanco

A ideia é usar o método pagamento contra pagamento (PvP) para que as pessoas e empresas consigam trocar o Real pelo peso colombiano em um processo em que a transferência das moedas aconteça simultaneamente.

Mercado Bitcoin

Em conjunto com a Fundação CPQD e a Bitrust, o Mercado Bitcoin vai desenvolver uma stablecoin atrelada ao Real que deve facilitar a compra de ativos financeiros, como um precatório ou criptoativos.

Tecban

Pensando no comércio eletrônico, a TecBan desenvolve uma solução que mistura o Real Digital com o conceito de internet das coisas. A ideia é criar uma rede de armários programáveis que poderão receber as encomendas feitas online. O cliente então usará a moeda digital para fazer o pagamento na hora e coletar o produto.

Vert

Associada à Digital Asset e com suporte da Oliver Wyman, a Vert trabalha com a ideia do dinheiro programável para financiamento rural. O conceito é de recursos que são destinados a algum uso específico ou que tenha algumas condições para seu gasto. Com isso, o monitoramento e fiscalização dos financiamentos ficam mais simples.
Visa do Brasil

Em parceria com à Consensys e à Microsoft, a Visa propõe uma solução de plataforma que permita que as pequenas e médias empresas brasileiras consigam interagir com o mercado global ae acessar propostas competitivas de financiamento.

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