Entrevista com o engenheiro agrônomo e diretor-fundador da Campo S/A, Murilo Saraiva Guimarães
Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP e mestre em Ciência Animal e Pastagem pela mesma instituição. É diretor-fundador da Campo S/A e consultor em pecuária de corte com mais de 10 anos de experiência em projetos de intensificação de pastagens e Integração Lavoura-Pecuária. Murilo foi um dos nossos palestrantes no Encontro de Intensificação de Pastagens da Scot Consultoria e é nosso convidado da entrevista dessa semana.
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Scot Consultoria: Murilo, qual o primeiro passo para o produtor começar a integrar?Murilo Saraiva: Estamos entrando na Integração Lavoura-Pecuária como uma oportunidade e como uma forma de intensificar a pastagem. Quando intensificamos a pastagem, sempre existirá o gargalo da seca, e a integração ajuda nesse cenário, com a adubação do pasto, por exemplo, aumentando a capacidade de suporte do meu pasto.
Vai faltar boi, eu vou ter mais área disponível. Então, para aumentar a produtividade com a área que tenho disponível entro com a integração, com parceria ou arrendamento. Para começar a integração, é uma questão de planejamento, o quanto eu vou poder intensificar e o quanto eu vou ter que liberar de área plantada para a entrada da lavoura.
Scot Consultoria: O processo de integração acarreta alguma alteração no manejo sanitário da fazenda?
Murilo Saraiva: A integração traz benefícios, principalmente, por ter áreas que não se utiliza em certas épocas do ano. Portanto, em determinados momentos posso fazer, por exemplo, uma estratégia de estação de monta, pensando na parição em um período que eu não poderia manter em um sistema tradicional, mas que, graças à integração, eu terei um espaço livre que facilitará no manejo sanitário do bezerro. A integração possibilitará uma maior disponibilidade de massa de forragem no período seco, para aquele período de pós-parto da vaca e crescimento do bezerro.
No geral, em termos de manejo ou protocolo sanitário, não temos grandes alterações. Consigo possibilitar aos animais condições ambientais diferentes em uma época favorável, que eu não tinha.
Scot Consultoria: Qual a vantagem de introduzir a agricultura na pecuária mesmo já obtendo lucro somente com a pecuária?
Murilo Saraiva: A história da seca, essa é a grande vantagem. Mesmo quando intensificamos, eu ainda não consigo produzir capim sem água. Na seca tenho que reduzir drasticamente minha taxa de lotação, então o grande benefício que a integração me dá é de manutenção do rebanho, “tampando” esse gargalo.
Scot Consultoria: Saindo de um modelo de pecuária extensiva, quais os pontos que devo me atentar para fazer um investimento em confinamento e semiconfinamento?
Murilo Saraiva: Confinamento tem uma demanda de silagem e a integração com agricultura ajuda muito nisso, pois toda a infraestrutura e logística são reaproveitadas. É essencial que se tenha um complexo de silagem dentro de um confinamento, isso facilita muito pensando na disponibilidade de silagem nas épocas mais secas. Se você vai usar Integração Lavoura-Pecuária dentro de um confinamento, seu processo será otimizado.
Quando falamos de semiconfinamento ou terminação intensiva a pasto (TIP), já precisamos de um menor investimento, pois podemos usar o próprio pasto como volumoso e buscamos suporte na ração. Qual eu vou optar? Depende do perfil da fazenda e do proprietário.
Algumas pesquisas da Embrapa de Sinop já demonstraram os benefícios da TIP em trazer reciclagens de nutrientes para o sistema. Eu trago ração de fora, que é repassado ao solo na forma de excrementos do animal. Foi mensurado que cerca de 150kg de cloreto de potássio (KCl) ficam na pastagem, apenas porque eu fiz um ciclo de TIP na área e isso é uma grande vantagem, pois eu estou adubando meu pasto enquanto estou terminando o animal, dando maior rentabilidade ao sistema. É aí que entra o planejamento.
Scot Consultoria: Com sistemas tão diferentes de controle de dados, qual a principal dificuldade do pecuarista em entrar na agricultura?
Murilo Saraiva: A conectividade da lavoura é incrível, estamos falando de sistemas cada vez mais informatizados e tecnológicos. Na pecuária tem como fazer, mas a dificuldade é muito mais cultural do que qualquer outra coisa. Quando conseguimos quebrar esse paradigma, principalmente da equipe de base, você consegue implementar e avançar nas coletas de dados. Precisamos mudar a cultura da equipe da fazenda, para que eles entendam que coleta de informações não é “à toa” e que esse trabalho vale a pena e traz resultados. A estratégia parte da gerência da fazenda, mas compartilhar os resultados com a outra ponta ajudaria a mudar esse cenário. O perfil do pecuarista que decide entrar na integração é mais destemido em questão a inovações.
Scot Consultoria: O que você achou do Encontro de Intensificação de Pastagens da Scot Consultoria e qual sua importância para a pecuária nacional?
Murilo Saraiva: Esse evento tem história e nossa expectativa é sempre de aprender e poder compartilhar o que temos feito. Compartilhando nosso trabalho esperamos que o público fique com “a pulga atrás da orelha”, e que nossas atividades inspirem outros pecuaristas a mudar, a transformar sua pecuária em uma pecuária mais lucrativa e intensificada, usando o sistema integrado. A Integração Lavoura-Pecuária veio para ficar e não dá para questionar mais isso.