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Pomada de cabelo pode causar queimaduras nos olhos e cegueira

O produto é utilizado para fazer penteados, como tranças e baby hair.

Fonte: Camila Araujo

A Secretaria municipal de Saúde do Rio divulgou um alerta nas redes sociais, nessa quinta-feira, 29, sobre uma pomada para cabelo que tem causado queimaduras nos olhos. O produto é utilizado para fazer penteados, como tranças e baby hair. Um dia depois do Natal, na última segunda-feira, 26, foram 130 atendimentos em apenas 12 horas na unidade de saúde do município. Os pacientes relataram dores, ardência, embaçamento e dificuldade para abrir os olhos.

A dona de casa Zenilda Almeida, de 51 anos, começou a sentir os sintomas no domingo, depois que tomou banho e lavou o cabelo. Para as comemorações de fim de ano, ela decidiu fazer tranças. O procedimento utiliza uma pomada para modelar e fixar o penteado.

“Ardia e doía muito. Eu já estou acostumada a fazer, nunca me deu esse problema. Não esperava acontecer. Eu fiz a trança no sábado no domingo lavei o cabelo. A água escorreu pelo olho. Depois do banho, meu olho começou a embaçar, arder e eu via luzes coloridas quando olhava para a claridade. No dia seguinte começou a queimar muito, a lágrima estava quente. Quando eu cheguei ao hospital tinham outras pessoas com os mesmos sintomas”, relatou Zenilda, que mora na Mangueira, onde fez o penteado.

A oftalmologista Anna Beatriz Simões informou que são muitas marcas e os produtos têm uma série de substâncias, como fixante, corante e geralmente possuem o ph mais ácido, que favorece a queimadura de uma mucosa sensível como a dos olhos.

“O que ocorre é uma lesão na córnea, a superfície externa do olho. As substâncias causam uma ceratite, provocando embaçamento, vermelhidão, lacrimejamento intenso e muita dor, impedindo a pessoa de abrir os olhos. Também causa uma cegueira momentânea, por conta da queimadura na córnea. Como são muitas marcas, e alguns potes sem identificação, eu estou pedindo para os pacientes mandarem fotos para a gente compilar e identificar esses produtos”, explicou.

A recuperação leva em média 5 a 7 dias, podendo chegar a quinze, dependendo da profundidade da ferida. O tratamento envolve pomadas oftalmológicas e compressas de água gelada. O soro fisiológico, ao contrário do senso comum, não é indicado.

“A recomendação, em caso de contato com o produto, é lavar em água corrente e procurar atendimento médico. O soro é mais salgado, então prejudicaria mais ainda, porque ele “rouba” a água presente na lágrima, piorando o quadro de queimadura. Também é importante fazer o acompanhamento da recuperação”, informou Anna Beatriz.

Três meses depois de sofrer a queimadura na córnea, em setembro deste ano, a advogada Yasmin Alarcão, de 27 anos, ainda lida com as sequelas da lesão.

“Até hoje eu preciso usar colírio. Quando me exponho a alguma luz forte, arde um pouco, e eu não tinha isso antes. A minha médica, depois de me dar alta, disse que a córnea tem muitas terminações nervosas e a cicatrização demora mais que o normal”, contou a advogada, que fez as tranças para ir a um festival de música.

“A trancista passou uma pomada para fazer o baby hair e para deixar a trança bem juntinha. No evento, choveu muito e escorreu água no meu rosto. Logo depois eu comecei a sentir a minha visão embaçada, mas pensei que fosse a maquiagem e que lavar o rosto resolveria. No dia seguinte eu fui à emergência e descobri a lesão. Fiquei super assustada. Foram quatro dias sem conseguir abrir os olhos direito — relata. — Apesar do trauma, eu gosto de falar sobre isso porque quanto mais gente ficar atenta, menos riscos as pessoas vão correr”, acrescentou a advogada. Segundo ela, a cabelereira não soube informar a marca do produto que usou.

A Ômegafix, uma das pomadas utilizadas nos procedimentos e relatados pelos pacientes atendidos no Souza Aguiar, está na lista de produtos não regulamentados pela Anvisa desde 22 de março deste ano. No último dia 13, a Agência emitiu um alerta sobre o risco de efeitos colaterais graves, como cegueira temporária, possivelmente associados a produtos utilizados para trançar e modelar cabelos. O documento é resultado de relatos que a agência tem recebido sobre os problemas, além de notícias veiculadas na mídia que chamaram a atenção do órgão.

No alerta nas redes sociais, a Secretaria municipal de Saúde do Rio destacou que “é fundamental adquirir e usar apenas produtos regularizados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), respeitar as instruções do fabricante ou importador quanto às condições de uso dos produtos e o prazo de validade, e atentar para a lavagem das mãos sempre que fizer uso de algum produto cosmético.”

Pelo site da Anvisa, é possível consultar quais produtos são regularizados e também os proibidos. Caso tenha algum problema ou evento adverso, também é possível notificar de forma online. Suspeitas de irregularidades de empresas podem ser denunciadas pelo 1746, pelo telefone de mesmo número ou pelo portal https://1746.rio.

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