A adolescente de 12 anos que foi sequestrada no Rio de Janeiro e trazida para São Luís estava trancada em um prédio de dois andares, com diversas quitinetes, na Vila Luizão. Quando os policiais civis chegaram ao local, ela estava sozinha no imóvel, e não conseguiu abrir a porta. Os investigadores, então, forçaram a janela e a encontraram. A menina vestia uma blusa de manga bufante branca e calça jeans clara, cabelos soltos.
Assustada, foi logo avisada de que os três homens que ali estavam eram policiais. O açougueiro Eduardo da Silva Noronha, de 25 anos, que mantinha a vítima em cárcere privado, não se encontrava na quitinete no momento da ação.
“Nós tivemos bastante cuidado ao bater porque tivemos receio que ele pudesse mantê-la como refém com uma faca, por exemplo. Logo nos identificamos e dissemos saber que ela era do Rio, e dissemos que os familiares estavam a procurando”, explicou o delegado Marcone Matos.
Os policiais contaram com a ajuda de vizinhos, que já tinham percebido a movimentação atípica no imóvel, mas não tinham feito qualquer denúncia.
Por volta das 17h30 da terça-feira, 14, a polícia conseguiu chegar até o local onde a garota era mantida trancada; uma quitinete no segundo andar do prédio, com poucos móveis. Na sala, foi encontrada uma mochila rosa da adolescente, que foi levada por ela ao ser resgatada. Por volta das 19h, o açougueiro apareceu e foi preso em flagrante por cárcere privado.
Informalmente, a menina relatou aos policiais que viajou por vontade própria, mas não sabia as condições nas quais ficaria. Todos os dias, quando saía para trabalhar, Eduardo trancava a porta e levava a chave. A jovem foi encaminhada para o Conselho Tutelar, onde ficará até a chegada de seus pais a São Luís.
Eduardo continuará sendo investigado por estupro de vulnerável. Em depoimento, ele admitiu à polícia que beijou a menina. Para o delegado Marcone Matos, o beijo já configura ato libidinoso, e em razão da idade da vítima – menor de 14 anos – o ato já configura estupro.
De acordo com as investigações, Eduardo pegou a menina na porta da escola, no dia 6 deste mês, em Sepetiba, Zona Oeste do Rio. De lá, ambos foram com um motorista de aplicativo para São Luís, pelo valor de R$ 4 mil. O percurso feito de carro durou 43 horas. Até o momento, o condutor do veículo ainda não foi identificado.
Localização pelo wi-fi
No Rio, o caso é investigado pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) da Polícia Civil. A delegada titular da unidade, Elen Souto, explicou que a localização da vítima foi possível porque enquanto a menina ainda estava com o seu celular, usou o aparelho na única oportunidade em que foi à rua com Eduardo, para comprar roupas em uma loja.
Na ocasião, o celular dela acessou o Wi-fi de uma loja em São Luís, dado que foi obtido pela DDPA. Em sua ida ao estabelecimento, a menina enviou uma mensagem para a irmã pedindo socorro e informando que estava sendo mantida em cárcere pelo homem.
“A partir da solicitação dos dados cadastrais do titular dessa rede de Wi-Fi, nós verificamos que se tratava de um estabelecimento comercial que vendia roupas femininas e verificamos que nessa oportunidade, a vítima se valeu de seu celular para acessar o Instagram e mandar mensagem para sua irmã, dizendo que se encontrava no Maranhão e que estava presa, sendo mantida dentro de um quitinete. Ela não sabia informar o local que ela estava, o bairro que ela estava. Não sabia sequer descrever eventuais vizinhos que existiam na redondeza” detalhou a delegada.
Elen Souto acrescentou que com a informação da localização da loja, passou a realizar diligências junto à Polícia Civil do Maranhão para encontrar a menina.
“Com essas informações, começamos a trabalhar em parceria com departamento de proteção à pessoa de São Luís, em especial o delegado Marconi, e passamos a realizar buscas com as características dadas pela vítima nesse pedido de socorro enviado para sua irmã. Começamos a efetuar buscas nos arredores desse estabelecimento comercial. Estabelecemos um raio e começamos a efetuar buscas” explicou.
Dinheiro para comprar moto
Ao Jornal Pequeno, o delegado Marconi Matos, da Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), disse que o dinheiro utilizado para pagar a viagem já estava sendo guardado por Eduardo, visando comprar uma motocicleta, mas acabou servindo para trazer a menina.
“Desde os dez anos de idade, ele conversa com essa menina pelo aplicativo Tik Tok. Ou seja, passou dois anos aliciando e fazendo com que ela acreditasse em tudo que ele falava”, relatou Marconi Matos.
Eduardo Silva Noronha, de 25 anos, é natural de Paulo Ramos e trabalha na capital maranhense como açougueiro. Ele foi de avião para o Rio de Janeiro, na semana passada, e encontrou a vítima na porta da escola na qual ela estuda, na segunda-feira (6).
Os dois chegaram em São Luís na sexta-feira (10), após dois dias de viagem, e foram para a quitinete, onde ela permaneceu trancada até ser localizada e resgatada por policiais civis, na tarde de terça-feira (14).
A adolescente era vigiada por um aplicativo instalado no celular, que foi dado pelo suspeito. “Ela estava bem, só assustada e demonstrava interesse em voltar para casa. Já ele, confessou o crime e negou ter tido relação sexual, mas, no entanto, disse que a beijou algumas vezes”, explicou o delegado, ressaltando que, em tese, isso já caracteriza o crime de estupro de vulnerável.
Além disso, Eduardo deverá responder pelos crimes de cárcere privado e sequestro. Depois de prestar depoimento, ele foi encaminhado ao presídio.