Operação resgata oito maranhenses vítimas de tráfico de pessoas em Goiás

A alimentação das vítimas era reduzida a porções de ossos com pouca carne e arroz.

Fonte: Redação / Assessoria

Auditores-fiscais do trabalho resgataram oito trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão no município de Novo Gama (GO). Eles prestavam serviço em uma fazenda de derrubada e corte de eucaliptos, que seriam usados para produção de carvão vegetal.

Os trabalhadores foram aliciados interior do Maranhão pelo próprio responsável pela atividade, que os contratava sem formalização do vínculo empregatício após atraí-los naquelas localidades.

Ao chegarem de ônibus ao Centro-Oeste, os maranhenses foram levados às fazendas para serem explorados em condições degradantes e análogas à escravidão. A exploração ocorria de forma compartilhada por fazendeiros que tinham plantações de eucaliptos e precisavam de mão de obra para fazer a derrubada e corte dessas árvores.

Pelo relato dos trabalhadores, eles tinham o primeiro contato com o empregador através de algumas vítimas conhecidas nas suas comunidades de origem e que, para serem dispensadas do trabalho, voltavam às aldeias onde residiam para convidar à vaga de trabalho, e em seguida se faziam substituir definitivamente no grupo de trabalhadores.

Na fazenda inspecionada pelos auditores-fiscais do trabalho, os trabalhadores foram encontrados derrubando eucaliptos sob torres de transmissão de eletricidade em alta tensão, sem banheiro, sem fornecimento de vestimenta de trabalho, nem treinamento para usar as motosserras que operavam.

Os trabalhadores recebiam apenas uma garrafa pequena de água (sem que fosse filtrada) cada um, para beber durante todo o dia de trabalho, e não tinham condições para atendimento de primeiros socorros em caso de acidentes.

COMIAM OSSOS COM POUCA CARNE E ARROZ

Segundo relatos dos trabalhadores, o empregador aparecia na fazenda durante a semana para conferir a produção, a alimentação deles era reduzida a porções de ossos com pouca carne e arroz. Eles precisavam acordar às três da manhã para preparar sua própria refeição em forno de lenha coletada por eles mesmos na mata.

A rotina de trabalho iniciava às 6h da manhã para terminar às 5h da tarde, derrubando árvores de segunda a sábado, e recebiam apenas a diária em que houvesse produção.

Ainda segundo os trabalhadores, alguns deles haviam sofrido cortes graves com facão nas pernas enquanto golpeavam os eucaliptos derrubados. Diante dos ferimentos, o empregador lhes respondia que, se parassem de trabalhar, não teriam o pagamento da diária de trabalho.

Se algum dos trabalhadores quisesse voltar à cidade onde residia, recebia a resposta de que deveria procurar o retorno por seus próprios meios a partir da fazenda onde estavam.

Os trabalhadores informaram que o empregador oferecia determinada quantia por diária de derrubada de eucaliptos, mas sempre deixava de pagar boa parte do valor combinado, e que os trabalhadores pagavam para ter os alimentos fornecidos no alojamento.

SEM DINHEIRO PARA VOLTAR

Os trabalhadores informaram que era comum não sobrar dinheiro para voltar para a residência no Maranhão, pois o empregador sempre dizia que não possuía recurso para pagar todo o pagamento combinado, e só pagava o suficiente para voltarem quando o trato dele com certo número de fazendeiros já estivesse cumprido.

Conforme visto em inspeção feita pelos auditores-fiscais do Trabalho, os trabalhadores eram alojados em casa precária a sete metros de um chiqueiro onde a criação de suínos inundava constantemente o alojamento com intenso mau cheiro. Não havia água quente para banho, vários trabalhadores tinham que dormir no chão, o banheiro não possuía descarga em funcionamento, nem higiene, porque não havia ladrilhos.

As luvas que os operadores de motosserra usavam não evitava a ocorrência de feridas na palma das mãos. A água usada para os trabalhadores beberem provinha de caixa d’água sem tampa e com girinos em seu interior.

Os trabalhadores relataram que, quando precisavam usar o banheiro, havia ocasiões em que eram obrigados a caminhar meia hora até o alojamento, e que quase sempre tinham que usar a mata para evacuarem. Eles se alimentavam sentados sob o sol, entre os próprios troncos de árvores de eucalipto que haviam derrubado.

Contatado, pelos auditores fiscais do Trabalho, o proprietário da fazenda em que se encontravam os trabalhadores e o empregador foram notificados, tanto a retirá-los de imediato para um alojamento decente quanto para formalizar os vínculos de emprego, além de pagar todas as verbas trabalhistas devidas.

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