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Consumo de Vitamina D dobra no país e preocupa médicos

Vendido em forma de suplemento, o composto causa danos ao organismo quando usado em excesso.

Fonte: Com informações de Mariana Rosário

Apesar das boas intenções, o uso excessivo de vitamina D pode causar intoxicação. O complexo vitamínico é utilizado com o intuito de fortalecer o metabolismo, turbinar a imunidade ou sentir-se mais protegido contra a Covid-19. Os resultados, porém, vão na direção oposta e podem levar a dores de cabeça, náusea e até comprometimento da função renal.

Uso excessivo de Vitamina D traz riscos à saúde (Foto: Pixabay)

Este é o resultado do uso indiscriminado da suplementação da substância, cenário em alta no país e realidade relatada nos consultórios de endocrinologia. Para se ter uma ideia do aumento do consumo no Brasil, a vendagem de produtos do tipo praticamente dobrou entre 2019 e 2022, de acordo com a Associação Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).

Parte desse consumo (que feito de maneira orientada para os pacientes corretos faz bem) é justamente baseado nas defendidas propriedades “milagrosas” que a substância traria ao organismo. Ideia amplamente defendida em postagens na internet, mas sem a devida comprovação necessária.

O aumento de uso desse composto, ao longo da pandemia da Covid-19, não é coincidência. Estudos iniciais identificaram que o déficit do índice dessa vitamina estava presente na maioria dos casos graves da infecção pelo coronavírus. Apesar do achado, é impossível dizer que a suplementação é um trunfo contra a doença e que poderia ser usada como prevenção ou tratamento. Prova disso é que que seis entidades médicas norte-americanas, ligadas à endocrinologia, calcificação de ossos e osteoporose, não concordam com uso do produto como ferramenta de combate para Covid-19 (e indicaram até o prosaico banho de sol por 15 ou 30 minutos para quem está em busca de índices melhores da vitamina).

Os males que supostamente seriam aplacados pelo uso da “D” não param por ai: vão do autismo à bronquite, passando pelo câncer, tudo sem lastro em estudos científicos comprobatórios de larga escala, dizem especialistas.

“Temos visto cada vez mais o uso excessivo. Depois da pandemia piorou muito. Alguns estudos chegavam a sugerir um resultado ‘milagroso’ de seu uso, mas essas análises são pequenas e têm muitas limitações”, diz Tarissa Petry endocrinologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

“Há o caso de uma paciente que veio com mais de 200 unidades de medida de vitamina D de exame (quando o normal é de 20 a 30) ela nem sabia que estava fazendo essa suplementação, pois tomava potes de pílulas diversas”, completou.

Em geral, essas pessoas buscam justamente garantir mais saúde e melhorar sua rotina. Há quem, inclusive, não goste de medicamentos tradicionais e prefira os suplementos por acreditar que trata-se de uma saída mais “natural” de encontrar bem-estar, explica Aline Guimarães de Faria, do Hospital Sírio-Libanês.

A médica ainda diz que os estudos que levam em conta grandes quantidades do produto e sugerem benefícios para além da área óssea, são observacionais e esbarram num problema importante: a chamada hipercalceima — que é o aumento de cálcio no sangue, em decorrência do uso do suplemento. Os casos mais leves desse quadro apontam para náusea, vômitos, perda de peso e idas ao banheiro recorrentes para fazer xixi. Os mais severos e mais raros podem levar à prejuízo na função renal e confusão mental.

Não se trata, porém, de demonizar o vitamínico, que em doses moderadas aos pacientes corretos tem amplo valor. Marise Lazaretti-Castro, professora da Escola Paulista de Medicina e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), recomenda que a suplementação deve ser acompanhada de um especialista. Deve-se portanto fugir da compra livre desse suplemento na farmácia e duvidar de postagens nas redes sociais que sugerem rotinas com doses altíssimas do item. Nesses protocolos, explica a médica, o paciente é proíbido de consumir qualquer alimento que conténha cálcio. “Não pode nem olhar para o leite”, ela diz.

“As pessoas acham que quanto mais Vitamina D, melhor. O que é um engano”, afirma Marise. “Há quem chegue a tomar 50 vezes mais do que o recomendado. Isso acaba desmoralizando a vitamina D, que é tão importante. A deficiência é ruim, mas o excesso é muito pior. A falta é crônica, os ossos se enfraquecem ao longo dos anos. A intoxição, por sua vez, ocorre em questão de meses”.

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