Imagine a cena: você está a passeio em um lugar público e avista alguém conhecido. Você acena e a pessoa olha, mas não te retribui. Ela não fingiu que não viu. Ela viu, mas decidiu não responder. Você segue o caminho, se questiona o que houve, se fez algo errado e, provavelmente, vai comentar o episódio com alguém em algum outro momento.
Essa é uma situação clássica de uma típica e comum experiência conhecida como “vácuo”, fazendo referência ao conceito de vácuo da Física, um espaço absolutamente vazio, não preenchido, desprovido de qualquer matéria.
Isso não é novo e sempre fez parte da interação humana. Parece, contudo, que a intensidade da comunicação virtual potencializou esse tipo de comportamento, já que é muito mais fácil ignorar responder qualquer pessoa e mensagem.
O vácuo que aqui queremos dar ênfase é aquele estabelecido após um diálogo já iniciado com alguém. O diálogo ou relação finda dessa maneira: sem resposta. Provavelmente você já deve ter passado por isso em algum momento e ninguém está blindado à essa experiência especialmente em uma época de “relações líquidas”.
O vácuo pode acontecer quando você busca um amigo e assim ele age diante das suas mensagens; com um profissional que informa sobre seus serviços ou envia uma proposta e a pessoa que solicitou sequer agradece o envio; com um terapeuta que inicia o atendimento com alguém e depois a pessoa some; com um candidato de um processo seletivo que fica sem qualquer resposta da empresa; com um funcionário que precisa de orientações ou autorizações de seu superior e ele não as dá.
Obviamente que por trás desse comportamento há muitas possibilidades de explicação: um desafeto, timidez, atribulações cotidianas, trabalho em excesso, falta de atenção ou organização, esquecimento, doença ou mesmo por considerar a mensagem ou pessoa inconveniente. Para alguns, contudo, isso tem se tornado uma maneira comum de se tratar as pessoas que se relaciona pessoal e profissionalmente.
Referimo-nos, portanto, ao comportamento consciente e proposital manifestado nas comunicações virtuais. A pessoa viu a sua mensagem e decidiu não te responder. Ela não esqueceu, ela fez uma escolha. Você até insiste, retoma o contato, e ela, novamente, não responde. Em alguns casos ela até te bloqueia ou exclui das redes sociais.
Esse vácuo é símbolo do descompromisso, da falta de educação ou da fuga em lidar com suas próprias emoções e com as emoções do outro. Sim, porque é simples e prático ignorar, afinal é apenas mais uma mensagem dentre tantas, mais uma pergunta dentre outras que não se quer responder, mais um problema entre tantos que se quer evitar. Ocorre que por trás de uma mensagem há uma pessoa desejosa de atenção, informação ou de um simples sim ou não.
O vácuo abre portas para a ansiedade de quem o recebe, pois a ausência de retorno dá margem para elaborar uma série de suposições para o fato, impacta no planejamento da agenda, nas decisões e, logo, nas emoções do sujeito. Alguns passam dias remoendo o passado, relendo a mensagem ou conversa diversas vezes, tentando identificar o que poderia justificar ficar sem retorno.
Parece exagero, mas se pararmos para pensar em relacionamentos amorosos e fraternos que são marcados por essa prática, muito caracteriza o vínculo e maturidade da relação. Se pensarmos nas relações profissionais, da mesma forma, é possível dimensionar o grau de credibilidade estabelecida nas pessoas que assim se comportam.
As relações humanas são ancoradas na qualidade da comunicação. Dar respostas não é apenas um exercício de comunicação, mas também um exercício de lapidação de si. Por meio de um “não posso” ou um “agradeço, mas não desejo seguir” há muito mais humanidade do que se imagina. Isso porque não é apenas sobre ser cordial, mas em acolher o fato de que o outro enxergou você como possibilidade, vínculo ou resposta.
Para quem recebe esse vácuo, é necessário lembrar que a ausência de resposta já é por si uma resposta. Perceba, aceite e siga, já que cabe a você lidar com os desconfortos gerados por isso e também fazer escolhas.
Para você que age deixando as pessoas sem resposta como um hábito ou como uma resposta evitativa, compreenda que um simples retorno fecha lacunas, abre caminhos, te convoca a trabalhar suas próprias emoções e responsabilidade com o outro. Experimente dar retorno e observe o retorno que a vida te dá.