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Como se proteger de golpe que levou R$ 1 bilhão de 30 mil investidores

Ao menos 11 golpistas atraiam investidores com a promessa de altos retornos em investimentos em ações

Fonte: Luiza Lanza

Infelizmente, não é incomum ficar sabendo de golpes no mercado financeiro. Promessas de altos retornos, empresas de fachada, esquemas de pirâmide; os exemplos são muitos. Na última semana, um caso envolvendo um falso investimento em ações está movimentando a Polícia Civil no Sul do País.

Um grupo de ao menos 11 golpistas atraiam investidores com a promessa de altos retornos em investimentos em ações. As vítimas eram pressionadas a fazer depósitos, sob a alegação de que receberiam “informações privilegiadas” para realizar os investimentos. Na realidade, os valores iam direto para a conta bancária dos golpistas e não podiam mais ser sacados.

A estimativa da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, que está à frente do caso, é que cerca de 30 mil pessoas tenham sido vítimas dos golpes. Até então, a polícia já tomou conhecimento de R$ 1 bilhão desviado para contas dos criminosos no exterior, mas o valor pode ser ainda maior, se somado com as contas bancárias no Brasil, que ainda estão sendo apuradas.

Especialistas explicam que golpes assim costumam atrair especialmente investidores iniciantes ou pessoas com quase nenhum conhecimento no assunto. “Os golpistas mostram um estilo de vida de muitos lucros para atrair as vítimas através da ganância. E quem não entendem muito bem do mercado financeiro, não sabe o que é um investimento e uma rentabilidade verdadeira”, diz Lucas Rufino, CEO e Fundador da Simpla Invest.

Quem tem mais experiência também precisa ficar atento. Com a difusão de informações via redes sociais, ficou mais difícil reconhecer as “roubadas” disfarçadas de boas oportunidades.

“Há instrumentos financeiros reais como criptomoedas, ações, contratos de investimentos coletivos entre outros, por isso, é muito importante tomar algumas precauções”, destaca Paulo Fernando Braga, CEO da wealth tech Omega Digital Assets.

Como se proteger contra golpes financeiros?

A melhor forma de evitar cair em golpes envolvendo investimentos é se informar bem antes de aceitar qualquer oferta. E, claro, desconfiar quando a promessa de retorno parecer muito tentadora.

Pesquise bem antes de investir: a CVM e BC podem ajudar

A primeira dica dos especialistas é fazer a boa e velha pesquisa. Se informe sobre a reputação da empresa que está por trás daquela oferta e do tipo de ativo que está sendo oferecido. Pesquise pelos CNPJs, faça uma busca em páginas como Reclame Aqui para checar a reputação dos envolvidos, confira se a empresa está cadastrada nos órgãos regulatórios.

“As instituições sempre vão precisar estar cadastradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no Banco Central ou no site da B3 para oferecerem investimentos ou produtos a investidores”, destaca Renan Suehasu, planejador financeiro CFP e sócio da A7 Capital.

A CVM e o BC disponibilizam em seus sites a consulta das instituições financeiras autorizadas a oferecer produtos de investimentos no País. Na dúvida, também é possível entrar em contato direto com essas instituições para tirar a limpo a informação.

Promessa de retorno muito alta? Use Selic como referência

Outro ponto importantíssimo é sempre desconfiar. É o famoso ditado “não existe almoço grátis” do mercado financeiro. “Desconfiar das promessas de lucros extraordinários, rendimento muito acima do mercado, sem nenhum risco, que seja comandado por uma única empresa, sem nenhum registro em órgãos reguladores. Sendo cético, já dá para mitigar bastante risco”, pontua Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest e Planejador Financeiro CFP pela Planejar.

Para investidores iniciantes, que ainda não conhecem muito do mercado e da média de retorno que um produto de investimento pode oferecer, a taxa Selic pode ser uma boa referência. Os juros são os balizadores de rendimento dos ativos mais conservadores disponíveis para alocação, a renda fixa. Atualmente em 13,75% ao ano, essa classe de ativos tem remunerado investidores perto de 1% ao mês.

Isso significa que, para alcançar uma rentabilidade maior, seria preciso tomar mais risco. Uma empresa está oferecendo um retorno muito alto, garantido e sem risco? Desconfie.

“Um retorno garantido, com risco baixo é a renda fixa, que hoje está perto de 1% ao mês. Qualquer coisa acima disso, fique de olho”, orienta Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. “Não existe 5%, 10% ao mês em um investimento de renda variável. Qualquer tipo de promessa que prometa isso sem risco nenhum pode ser uma pirâmide ou algo ilícito.”

Entenda o caso

A Operação Trapaça foi deflagrada pela Polícia Civil, por meio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, na última quarta-feira (12), contra um grupo criminoso responsável por um sistema de falsos investimentos.

A investigação começou depois que várias vítimas procuraram a Polícia Civil reclamando de uma empresa que prometia investimentos em ações com a promessa de altos ganhos.

O esquema coagia investidores a fazerem parte de grupos virtuais geridos a partir de uma plataforma digital de investimentos online, a “Genesis.vet”, um nome copiado da plataforma Genesis Investimentos – que não tem nenhuma relação com o caso, esclareceu a polícia.

O golpe começava a partir do momento em que a vítima era convidada a fazer o upload do aplicativo “Genesis.vet” para o seu smartphone, cadastrando em seguida os seus dados pessoais. A pessoa recebia um link para aderir a grupos de Whatsapp, onde recebia orientações de como investir, com certa “pressão” para investirem rapidamente.

O golpe era consumado quando as vítimas usavam os códigos pix e boletos enviados pelos golpistas para movimentar dinheiro, acreditando que estavam fazendo investimentos. Na verdade, estavam transferindo os valores diretamente para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas no exterior.

De acordo com a polícia, apesar de não terem nenhuma formação na área financeira, os golpistas utilizavam a linguagem técnica utilizada no mercado financeiro, sempre aparecendo em vídeos e imagens postadas nos grupos de Whatsapp como figuras bem-sucedidas, graças aos retornos financeiros excepcionais e rápidos que supostamente teriam conseguido por meio da plataforma “Genesis.vet”. Algumas vezes, exibiam ainda veículos e bens que teriam sido adquiridos com os altos retornos.

Até a última semana, quando as primeiras informações sobre o caso foram divulgadas, a estimativa era que o grupo criminoso teria lesado mais de 4 mil vítimas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, causando prejuízos acima dos R$ 20 milhões.

No desenrolar da investigação, no entanto, as cifras subiram muito à medida que novas vítimas foram sendo descobertas.

Em entrevista, o delegado Heleno dos Santos, titular da Draco de São Luiz Gonzaga, informou que os 11 investigados podem ter feito mais de 30 mil vítimas. Ao todo, foram descobertos 28 grupos de Whatsapp com mais de mil integrantes em cada um.

Em contas no exterior, a polícia apreendeu cerca de R$ 1 bilhão obtidos com os golpes – segundo o delegado, ainda não dá para dizer quanto os golpistas têm em contas no Brasil, pois os bancos brasileiros pedem um prazo para repassar todas as informações. Ou seja, o valor conseguido com os golpes pode ser ainda maior.

“É um esquema gigantesco”, diz Santos.

O delegado explica que, por lei, tem um prazo de 10 dias para encerrar a investigação, que termina na sexta-feira (21). É depois disso que acontecem o encaminhamento do inquérito e os pedidos de prisão preventiva dos envolvidos, que serão acusados dos crimes contra a economia popular, estelionato e associação criminosa. Até agora, 9 dos 11 suspeitos foram apreendidos, dois deles seguem foragidos.

Depois, uma segunda investigação será reaberta, onde a polícia vai apurar também lavagem de dinheiro e a possibilidade de existência de uma organização criminosa por trás dos fatos, além da participação de outras pessoas no esquema fraudulento.

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