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Novo método de biópsias pode revolucionar prevenção e tratamento de câncer

Nos últimos anos, o desenvolvimento tecnológico na área das biópsias líquidas se concentrou em criar métodos melhores

Fonte: Fernando Reinach
Imagem de Chokniti Khongchum por Pixabay

Quando um médico descobre alguma coisa estranha em nosso corpo, ou apalpando ou através de um exame de imagem, ele geralmente pede uma biópsia. Fazer uma biópsia consiste em retirar um pedacinho da área suspeita, com uma agulha ou através de uma pequena cirurgia, e analisar o material retirado.

Essa análise pode ser feita examinando as células usando um microscópio, ou analisando seu DNA. Comparando as células ou o DNA da biópsia com amostras normais, os patologistas são capazes de identificar o que é a coisa estranha. Ela pode ser um nódulo no peito de uma mulher ou na próstata de um homem, ou algo no fígado ou no cérebro.

A análise da biópsia permite descobrir se o nódulo é benigno ou se é um tumor maligno, e se for um tumor, qual seu tipo. E essa informação é usada para decidir o tratamento mais adequado. Biópsias são extremamente úteis e muito usadas.

O problema é que para fazer uma biópsia o médico precisa primeiro descobrir em que lugar do corpo está o problema. Não é possível sair coletando amostras em todos os órgãos uma vez por ano. Por esse motivo, biópsias são um procedimento que confirma uma suspeita e não são usadas para procurar tumores em pessoas saudáveis.

Faz algumas décadas os cientistas descobriram que os tumores liberam no sangue células mortas e pedaços de DNA. Assim, se você retirar um pouco de sangue da veia de uma pessoa (geralmente 10 mililitros), um procedimento rotineiro em laboratórios de análises clínicas, e analisar o DNA presente na amostra você vai encontrar, além do DNA normal da pessoa, uma minúscula quantidade de DNA alterado que se desprendeu do tumor e caiu na circulação sanguínea.

Usando esse método é possível descobrir que a pessoa tem um tumor em algum lugar do corpo. Esse procedimento foi denominado biópsia líquida e é muito útil, pois inverte a ordem da investigação. Você agora pode saber que existe um tumor sem saber onde ele está. Na biópsia clássica, você precisa saber onde está o tumor para então fazer a biópsia.

Mas a biópsia líquida tem um grande problema: a quantidade de DNA do tumor presente no sangue é minúscula, principalmente se o tumor for pequeno. Em 10 mililitros de sangue existem 10 nanogramas de DNA livre (fora das células sanguíneas). Isso equivale a 15.000 cópias de cada gene. Mas a grande maioria desse DNA provém das células normais que morrem todos os dias no nosso corpo.

Em um paciente com metástases generalizadas até 10% desse DNA pode vir do tumor. Mas esse número baixa para 0,1% para casos em que o tumor ainda está localizado, e para menos de 0,01% quando o tumor ainda é pequeno. Isso faz com que existam por volta de 15 moléculas indicativas de um tumor inicial em uma biópsia líquida. Isso torna quase impossível o uso das biópsias líquidas para detectar o aparecimento de um tumor ou sua volta após o tratamento.

Nos últimos anos o desenvolvimento tecnológico na área das biópsias líquidas se concentrou em criar métodos melhores para analisar essa minúscula quantidade de DNA tumoral.

Mas agora um grupo de cientistas descobriu um novo truque. O DNA é liberado no sangue quando as células morrem e só não vai aumentando ao longo do tempo pois existem mecanismos que destroem e retiram esse DNA do sangue. Um é a destruição do DNA por enzimas, outro é sua remoção por células especializadas no fígado.

Esses mecanismos fazem com que o tempo médio de vida de uma molécula no sangue seja de aproximadamente 30 minutos. Ou seja, ele se solta do tumor, cai no sangue e, em 30 minutos, metade desse DNA é destruído. O que os cientistas imaginaram é que se antes de coletar o sangue da pessoa esses dois mecanismos de destruição do DNA fossem inibidos a quantidade de DNA tumoral poderia ser muito maior.

O experimento foi feito em camundongos. Duas drogas foram injetadas antes de coletar o sangue para fazer a biópsia líquida. Uma é um lipossomo que inibe as células do fígado que degradam o DNA e outra é um inibidor da enzima que degrada o DNA.

Após injetarem esses inibidores, os cientistas esperaram até duas horas, coletaram a biópsia líquida e mediram a quantidade de DNA tumoral. Eles descobriram que esse truque simples aumenta em até 60 vezes a quantidade de DNA tumoral no sangue. Durante essas duas horas, com a degradação inibida, a concentração de DNA tumoral aumenta brutalmente.

Essa nova tecnologia precisa ser testada em seres humanos, mas deve funcionar. Se isso ocorrer, em alguns anos vamos visitar um laboratório de análises clínicas, vamos receber uma injeção desses inibidores, vamos esperar 2 horas e nosso sangue vai ser coletado. O DNA presente no sangue vai ser analisado e seremos informados se existe, em algum lugar do nosso corpo, um pequeno tumor se desenvolvendo.

Se esse for o caso, ele poderá ser localizado e retirado. E como o diagnóstico e tratamento precoce são o melhor caminho para cura de cânceres, é provável que biópsias líquidas sensíveis venham a revolucionar o tratamento e a prevenção dos cânceres.

Mais informações: Priming agents transiently reduce the clearance of cell-free DNA to improve liquid biopsies. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adf2341 2024

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