Veja o que se sabe sobre os incêndios florestais que assolam o Chile

Incêndios simultâneos irromperam nos morros de Viña del Mar e em outras áreas da região de Valparaíso, principalmente, cerca de 120 quilômetros a noroeste da capital Santiago

Fonte: AFP

Atingido por ondas de calor extremo, o Chile enfrenta os incêndios florestais mais mortais de sua História recente, com mais de cem mortos, um número que, segundo as autoridades, aumentará.

Por que os incêndios se espalharam tão rapidamente?

No auge do verão no Hemisfério Sul, desde a semana passada, foram registradas ondas de calor de 40ºC. Na sexta-feira, incêndios simultâneos irromperam nos morros de Viña del Mar e em outras áreas da região de Valparaíso, principalmente, cerca de 120 quilômetros a noroeste da capital Santiago. O fogo se multiplicou e se propagou pelo vento, explicou Miguel Castillo, da Faculdade de Ciências Florestais da Universidade do Chile. Quando a vegetação ou o lixo entram em combustão, gera-se ar quente leve “que eleva partículas incandescentes ou brasas que viajam centenas de metros, provocando focos secundários” de fogo, explica o acadêmico.

Ondas de temperaturas máximas mais o vento são uma combinação “desastrosa”: as chamas se aceleram “em declive e a favor do vento”, tornando-as mais letais.

Até as 22h locais de sábado, 37 incêndios florestais estavam em combate, enquanto 46 estavam sob controle.

Por que foram tão mortais?

O fogo atingiu áreas densamente povoadas de Viña del Mar, principalmente. Em apenas um ponto, Villa Independencia, houve 19 mortes. Lá e em outros setores, famílias se amontoaram em construções leves, mesmo em terrenos onde estava planejado construir corta-fogos, conforme autoridades e especialistas.
Porém, materiais leves como madeira, abundantes nesse tipo de moradia, funcionam como combustível e acabam superando o zinco e o fibrocimento, resistentes ao fogo.

As chamas portanto correram pelas estreitas ruas dos morros, fazendo explodir fileiras de carros estacionados em frente às casas, conforme relataram sobreviventes.

Agora está sendo avaliado se, apesar dos avisos de evacuação enviados via celular, as pessoas não quiseram sair.

— As alarmes foram acionados, mas a evacuação aparentemente não funcionou (…). É dado muito ênfase aos combates, mas não tanto à prevenção (…) e eu acredito que essa é uma deficiência — opina Horacio Gilabert, do Centro de Mudança Global da Universidade Católica do Chile.

Foram incêndios intencionais?

— Estamos investigando a eventual intencionalidade desses incêndios — disse no sábado o presidente Gabriel Boric.

Segundo a Corporação Nacional Florestal (Conaf), 99,7% dos incêndios são causados intencionalmente ou por imprudência. Diante das emergências cada vez mais frequentes de incêndios, a “intencionalidade tem aumentado continuamente”, embora a lei puna com até 20 anos de prisão os responsáveis dolosos por incêndios, que raramente são detidos em flagrante. No caso de incêndios involuntários, a pena é de até cinco anos.

Na atual emergência, ocorreram “focos simultâneos e isso é totalmente anormal”, aponta o professor Castillo.

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