PIB do Brasil pode surpreender no 1º trimestre, diz presidente do BC

Segundo Campos Neto, os dados de mais alta frequência mostram o setor de serviços “puxando bastante o crescimento”

Fonte: Por Sérgio Tauhata, Valor — São Paulo

O PIB do Brasil pode surpreender positivamente no início de 2024, avaliou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que participou de evento do BTG. “A perspectiva de crescimento [do PIB brasileiro] no primeiro trimestre está parecendo que vai surpreender para cima. Essa é a nossa primeira intuição.”

Segundo Campos Neto, os dados de mais alta frequência mostram o setor de serviços “puxando bastante o crescimento”. O dirigente lembrou que o mercado “tem errado [a projeção de] crescimento consecutivamente há três anos” e as perspectivas atuais parecem se manter no território mais conservador.

O presidente do BC lambrou ainda haver um debate sobre a possibilidade de haver “um efeito das reformas acumuladas que foram feitas no passado”.

Segundo Campos Neto, “tem sido um tema bastante explorado academicamente, eu acho que tem [um impacto de reformas estruturais]”. De acordo com o presidente do BC, “acho difícil dizer que [o crescimento que tem surpreendido para cima nos últimos anos] seja somente efeito de um programa de transferência [de renda] maior ou algo desse tipo”. Para o dirigente, “obviamente tem isso [programa de transferência de renda] também, mas existem vários componentes [na dinâmica de crescimento econômico brasileiro]”.

Campos Neto chamou a atenção para a força do mercado de trabalho no Brasil, “que vem surpreendendo bastante”. Segundo ele, “temos visto finalmente a taxa de participação voltando a subir, que é algo que não acontecia há bastante tempo”.

Sobre a questão fiscal, Campos Neto ressaltou a importância de insistir na meta estabelecida no arcabouço. “A gente tem dito aqui que é importante insistir na meta. O ministro [Fernando Haddad] fez um esforço muito grande para que isso aconteça. À medida que o tempo vai passando o mercado vai se ajustando em termos de expectativas.”

Estados Unidos

Campos afirmou existir “bastante ruído” em relação à dinâmica entre inflação e crescimento nos Estados Unidos. “Quando olhamos o índice de surpresa no crescimento, os EUA continuam com surpresa positiva de crescimento”, disse. Conforme o dirigente, os dados econômicos mais recentes nos Estados Unidos “vieram muito fortes”.

O presidente do BC ponderou que, diante das surpresas com a força da economia americana, “houve uma mudança de expectativa em relação à velocidade de corte [de juros] nos EUA”. Ele avaliou que “as condições [financeiras] americanas voltaram a ficar ligeiramente frouxas e estamos de volta a condições estimulativas”.

Segundo o chefe do BC, “a bolsa [americana] contribuiu bastante, porque tem estado muito forte”. Para o dirigente, entre as variáveis que influenciam as condições financeiras, “basicamente sobraram os juros com algum efeito detrator de liquidez”.

Para Campos Neto, “com dados econômicos melhoresm o Federal Reserve [Fed, o BC americano] pode ter mais conforto em ser cauteloso e esperar um pouco mais [antes de inicar cortes de juros]”.

O dirigente afirmou existir “um debate muito grande sobre como é a dinâmica de inflação americana”. Segundo o dirigente, “existia um argumento de que [a inflação] era efeito de [pressões de] oferta e isso estava realinhando de forma mais rápida”. O problema desse argumento, pontuou o especialista, “é que, se isso ocorresse, a correção de juros deveria ser mais rápida dado que foi um efeito de oferta que passou”.

Na visão do presidente do BC, “mas quando olhamos para o gráfico de demanda por bens e serviços. fica difícil de entender que [a inflação nos EUA] foi mais uma questão de oferta”. Na verdade, acrescentou, “mais recentemente a demanda por bens voltou a subir e a de serviços voltou para linha pontilhada [superior], ou seja, fica difícil imaginar que foi um efeito puro de oferta”.

Campos Neto ressaltou que o componente de consumo tem tido impacto significativo no crescimento da economia americana. “Quando a gente olha em termos de contribuição para o PIB {nos EUA], o efeito do consumo das famílias foi fortíssimo”, considerou.

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