Investigação contra Djidja e família envolve seita, aborto e cárcere privado

O corpo de Djidja, que tinha 32 anos e era sócia da rede de salão de beleza Belle Femme, foi encontrado na casa em que ela morava, no bairro Cidade Nova, zona norte de Manaus

Fonte: Com informações Do ATUAL
Djidja com a mãe Cleusimar e o irmão Ademar Cardoso eram investigados há 40 dias por seita (Foto: Divulgação)

MANAUS – O delegado Cícero Túlio, do 1º DIP (Distrito Integrado de Polícia), afirmou nesta sexta-feira (31) que as investigações contra a ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso e familiares dela começaram há 40 dias quando a polícia recebeu informações de que eles gerenciavam uma seita que usava ketamina, um forte analgésico usado em cavalos, para deixar pessoas em transe. A polícia também apurava outros crimes, como cárcere privado e estupro de vulnerável, e a morte de Djidja, na última terça-feira (28), foi o estopim para o pedido de prisão dos administradores da seita.

“A investigação por parte do 1º DIP começou há aproximadamente 40 dias a partir de notícias que foram veiculadas na nossa unidade policial a cerca da existência de fatos de cárcere privado, estupro e possível aborto que seria praticado por um membro dessa seita em uma de suas ex-companheiras com a utilização desse tipo de produto”, afirmou Cícero.

“A partir de então começamos a puxar o fio da meada e identificamos uma clínica veterinária que possivelmente seria responsável por realizar o fornecimento desses produtos. Durante todo esse mês a gente conseguiu levantar informações que levavam à existência de uma seita que teria sido criada por essa família, e que essa seita administrava uma rede de salões de beleza e induzia seus funcionários e pessoas da sua proximidade a consumir e a se injetar esse tipo de produto, a ketamina, que é um fármaco utilizado para anestesiar cavalos e animais de grande porte em cirurgia”, completou o delegado.

O corpo de Djidja, que tinha 32 anos e era sócia da rede de salão de beleza Belle Femme, foi encontrado na casa em que ela morava, no bairro Cidade Nova, zona norte de Manaus. A polícia informou que a causa da morte “só poderá ser confirmada após a realização do exame necroscópico”, mas suspeita de overdose.

Nesta quinta-feira (30), policiais prenderam Cleusimar Cardoso Rodrigues e Ademar Farias Cardoso Neto, mãe e irmão de Djidja, na casa em que a empresária foi encontrada morta. A gerente do salão de beleza em que Djidja era sócia, Verônica da Costa Seixas, também estava no local e foi presa. Os investigadores suspeitam que o trio se preparava para fugir.

Conforme Cícero, eles ainda não prestaram depoimento porque quando foram presos estavam sob efeitos de substâncias psicotrópicas.

Delegado Cícero Túlio afirmou que família de Djidja era investigada há 40 dias (Foto: Erlon Rodrigues/Divulgação/PC-AM)
Seita, aborto e cárcere

A polícia apura se a família obrigava funcionários da rede de salão de beleza a integrar seita, intitulada chamada “Pai, Mãe, Vida”, em que adeptos eram induzidos a usar drogas para entrar em transe. Informações colhidas pela polícia apontam que, nessa seita, a família de Djidja acreditava que Ademar seria Jesus, que Cleusimar seria Maria e que Djidja seria Maria Madalena.

“Essa seita que foi criada por essa quadrilha denominada ‘Pai, Mãe, Vida’ era administrada por essa família. Inclusive, a própria Djidja, que é ex-sinhazinha, era investigada em razão de sua participação nessa seita. A morte dela foi o estopim para que a gente pudesse realizar as representações em relação ao caso”, afirmou Cícero Túlio.

“Essa seita já existe há algum tempo. São praticados vários rituais por parte dessa família, que induzia e cooptava pessoas principalmente do convívio e funcionários dessa empresa a participar dessa seita”, completou o delegado.

Na casa de Djidja, os agentes encontraram centenas de seringas – algumas preparadas para uso, e diversos medicamentos, incluindo frascos de ketamina.

Material apreendido na Operação Mandrágora (Foto: Erlon Rodrigues/Divulgação/PC-AM

Ainda de acordo com Cícero Túlio, a polícia investiga outros crimes, como cárcere privado e estupro de vulnerável. Duas pessoas relatam que foram estupradas enquanto estavam dopadas.

“Duas pessoas relataram fatos criminosos que levam a crer pela possiblidade da prática de estupros de vulneráveis, inclusive, com a possibilidade de ter acontecido um abordo com relação a uma dessas garotas”, afirmou o delegado.

“Elas relataram a situação do estupro, principalmente pelo fato de terem sido dopadas durante o ato sexual e não se lembrarem absolutamente nada sobre aquilo. Algumas delas permaneceram despidas por vários dias, sem sequer tomar banho, em uma situação de cárcere privado. Inclusive, no momento em que adentramos àquela residência, o cheiro de podridão era muito forte”, completou Cícero.

Prisões e apreensões

Na quinta-feira, a maquiadora Claudiele Santos da Silva, que também teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, se entregou à polícia acompanhada de um advogado. A polícia procura por Marlisson Vasconcelos Dantas, que trabalhava como maquiador no salão da empresária. Eles são acusados de viabilizar a compra dos medicamentos.

A polícia cumpriu, nesta sexta-feira, busca e apreensão em uma clínica veterinária suspeita de fornecer, de forma clandestina, os medicamentos à família, no bairro Redenção, zona centro-oeste. Conforme Cícero Túlio, a polícia apreendeu ketamina no local. O delegado disse que a clínica não tinha qualquer controle sobre os receituários em relação à venda desses produtos.

Nesta manhã, os presos fizeram exame de corpo de delito e à tarde passarão por audiência de custódia.

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