Os CEOs dos grandes bancos brasileiros deixaram claro que a inteligência artificial generativa (GenAI) já é uma realidade e deve provocar uma revolução na indústria. Segundo eles, por enquanto, a tecnologia ainda é mais utilizada nos bastidores, ajudando a aumentar a eficiência e a gerar reduções de gastos, mas deve chegar à linha de frente, nas interações com o cliente.
Os executivos se reuniram ontem para participar do Febraban Tech, maior evento de tecnologia do setor. Na ocasião, a questão do uso ético e da possibilidade de regulação da GenIA também esteve presente nos discursos.
O CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, destacou que o banco está vivendo uma transformação grande e “implodiu” suas áreas de produtos. “Isso para que a gente possa ser muito mais proativo e ter uma visão ‘cross’ [cruzada] do cliente. A gente não conseguiria ter essa visão se tivéssemos as áreas de produto como no passado.”
De acordo com ele, a visão sobre o cliente está cada vez mais integrada. Noronha afirmou que há desafios para utilização adequada da inteligência artificial generativa, mas que a tecnologia vai ao encontro daquilo que a instituição vislumbra para o futuro da relação com o cliente. “Daqui a um ano, o salto que a gente vai dar no uso da IA generativa é impressionante. Em dois anos, ainda mais.”
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que a inteligência artificial não é apenas uma ferramenta tecnológica, mas uma força “capaz de redefinir e mudar negócios, empregos e a própria maneira como interagimos com o mundo”. Por isso, acrescentou, “é imperativo” que seja utilizada de maneira ética. Durante a abertura do evento, Sidney destacou que, apesar das oportunidades, é “evidente” que a implementação da IA traz desafios complexos. “Por isso, a responsabilidade recai sobre os nossos ombros para assegurar que a IA seja desenvolvida e aplicada com rigor científico. A confiança dos nossos clientes e a integridade dos nossos processos dependem disso.”
O CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, disse que o processo de regulação da inteligência artificial é esperado em todo o mundo. “A inovação sempre vem à frente da regulação.” Para o executivo, a IA vai permitir que a instituição atue ainda mais de forma preventiva, não reativa. “Podemos tomar decisões antes que o evento aconteça.”
O presidente da Caixa, Carlos Vieira, destacou que a tecnologia traz transformações velozes ao setor e as discussões sobre ética nesses processos são fundamentais. Ele afirmou que o regulador está acompanhando essas mudanças.
A responsabilidade recai sobre os nossos ombros para assegurar que a IA seja aplicada com rigor científico”, afirma Isaac Sidney.
Vieira deu ainda exemplos do uso de IA pelo banco. De acordo com ele, nos últimos 30 dias, a Caixa conseguiu fazer 3,2 milhões de atendimentos de programas sociais no Rio Grande do Sul porque usou a tecnologia. O executivo disse ainda que o banco utilizou IA na elaboração de dossiê de crédito imobiliário e reduziu o prazo de 3 dias para 3 horas. “Isso gera uma economia de R$ 1 milhão por dia.”
Sobre o cenário macro, Noronha afirmou que não tem “perdido o sono” com a transição de comando no Banco Central. “Confio que o BC e a Fazenda vão procurar fazer a melhor transição possível”, afirmou após o painel. Em relação à ata do Copom, divulgada ontem, ele disse que o documento não trouxe tantas novidades em relação ao comunicado, exceto pela mudança no cálculo da taxa neutra de juros. Questionado se acredita haver chance de aumento da Selic no curto prazo, disse que não trabalha com essa perspectiva. “Não parece ser a vontade do BC.”
Noronha também afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem trabalhado intensamente pelo equilíbrio fiscal. “Acredito que a Fazenda e o Planejamento conseguirão fazer um orçamento adequado”, comentou, destacando que o relator da lei de diretrizes orçamentárias (LDO) acenou com a possibilidade de trabalhar na desvinculação de receitas e despesas, o que é importante para dar mais flexibilidade ao Orçamento. O presidente do Bradesco disse não estar tão pessimista quanto o resto do mercado em relação aos rumos do país. “Acho que Brasil está em um caminho razoável, de equilíbrio, estamos segurando um pouco mais a taxa de juros”, afirmou, ressaltando que a previsão do banco para o PIB este ano é mais próxima de 2%.
O CEO do Santander, Mario Leão disse, no palco, que os mercados “têm estado mais nervosos e voláteis nos últimos meses” e que há mais desafios do que há seis ou 12 meses. Assim, acrescentou, o momento é de os bancos ficarem ainda mais atentos ao que ocorre no mundo. “Os bancos têm buscado ter papel de contribuição, de estarem próximos do governo”.