Relembre o vinho que marcou gerações nos anos 70 e 90

A história do Liebfraumilch no Brasil começa com Otávio Piva de Albuquerque, que, após uma viagem à Alemanha, trouxe o vinho para o país

Fonte: Da redação

No panteão dos deuses do vinho, Baco parece ter decretado que a jornada para o Olimpo vinícola começa com os rótulos mais acessíveis e simples. No Brasil, esse caminho teve um marco peculiar: o Liebfraumilch, um vinho alemão de garrafa azul que dominou as prateleiras e festas nas décadas de 70 e 80. Este vinho adocicado, com teor alcoólico em torno de 10%, foi a porta de entrada para muitos consumidores brasileiros no universo dos vinhos importados.

A história do Liebfraumilch no Brasil começa com Otávio Piva de Albuquerque, que, após uma viagem à Alemanha, trouxe o vinho para o país. “Selecionei o rótulo numa viagem à Alemanha e apostei no sucesso dele, pois sabia que o público gostava de bebidas de sabor doce”, relembrou ele à coluna AL VINO. Curiosamente, a cor original da garrafa era marrom, mas foi por sugestão de Piva que ela se tornou azul, destacando-se nas prateleiras dos supermercados e empórios.

Para muitos, o Liebfraumilch traz uma nostalgia dos anos 80, uma era marcada pelo Opala Diplomata, blazers com ombreiras e perfumes icônicos como o Opium da YSL. O vinho era presença garantida em festas, casamentos e eventos, sendo um dos favoritos entre os brasileiros. Sua popularidade foi tão grande que, por muitos anos, representou mais da metade das importações de vinhos para o Brasil.

No entanto, essa adoração não era unânime. Enquanto alguns recordam com carinho das noites regadas a Liebfraumilch, outros lembram das ressacas inesquecíveis após exagerarem na harmonização do vinho com cascatas de camarões. “Era uma onda no começo, mas depois virou sinônimo de coisa brega”, lamenta Piva.

Com o tempo, à medida que o mercado brasileiro se abriu para novos rótulos e paladares mais sofisticados, o Liebfraumilch perdeu espaço. Quem sobreviveu à moda descobriu vinhos de maior qualidade feitos com a uva Riesling, a mesma utilizada no Liebfraumilch, mas originária da região do Reno, na Alemanha, e reconhecida por produzir vinhos brancos aromáticos, frescos e elegantes.

A partir dos anos 90, o Liebfraumilch começou a desaparecer das prateleiras, sendo lembrado hoje mais como um fenômeno de uma época do que como uma escolha enológica relevante. A empresa Expand, criada por Otávio Piva, que foi a maior importadora de vinhos do Brasil, também fechou suas portas no início dos anos 2000. Atualmente, Piva se dedica a um campo completamente diferente: ele se define como missionário e dirige uma companhia de turismo especializada em peregrinações religiosas pela Europa.

Embora o Liebfraumilch seja hoje uma relíquia difícil de encontrar, sua presença marcou um capítulo importante na história do consumo de vinhos no Brasil, lembrando-nos que até mesmo os gostos mais refinados têm suas origens em escolhas simples e populares.

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