Agora é a vez de quem tem conteúdo
Por Alberto Consolaro |
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
Se pedir uma figura de Dom Quixote para a Inteligência Artificial ou IA, terei que saber sobre Miguel de Cervantes e seu amigo Sancho Pança, assim como o grau dessa linda amizade. Para a IA te servir bem, você tem que lhe dar o contexto e depois conferir.
Se pedir um laudo de doença, tenho que saber os seus vários nomes ou sinonímia. Para pedir texto ou figuras de inflamação no osso, eu terei que ter um conhecimento mínimo de osteíte, osteomielite, osteoradiomielite, periostite e osteoradionecrose. Se não perguntei certo, não terei respostas adequadas.
Para eu conferir um artigo que pedi sobre papas, deverei saber o nome e quais foram os principais desde a época de Cristo. E para conferir, deverei conhecer um pouco sobre a igreja, já que “católica” e “universal” são sinônimos e isto pode gerar uma confusão infernal.
Muito fácil
É tão fácil usar a IA, que as pessoas menores até as mais velhas podem acessar. Fácil, e ao mesmo tempo muito prática, só se tem que ter dois cuidados essenciais em dois momentos do uso da IA.
1) – O primeiro momento é conferir o que te ofereceu a IA em texto, figuras, desenhos e outras artes. Se você não sabe muito sobre o assunto e és um incipiente com “c” ou insipiente com “s”, aí você se danou. Como vai dar aval a uma coisa que pouco conhece? Vai ter que pedir para o mais experiente, que leu mais sobre o assunto, ou tenha já estudado, feito teses e até livros. Conferir se a resposta está certa, requer cultura, sabedoria e experiência mínimas, próprias da idade e leitura. Incipiente é neófito ou iniciante; insipiente é aquele que não sabe.
2) – O segundo momento, está na lição de uma frase que todos nós, incluindo os intelectuais e cientistas, aprendemos com Sócrates. A sua frase mais importante e famosa não é aquela que quase todos respondem: “- Quanto mais eu sei, mas percebo que nada sei”. A sábia frase mais importante de Sócrates é simples e curta: “- Posso perguntar?”
Há tempos é assim
Aonde Sócrates chegava, começava com perguntas inquietadores que deixavam os jovens estimulados pela vida. Todos sabemos que as respostas pouco importam, o que faz a gente evoluir são as perguntas bem-feitas. O bom cientista é aquele que faz as perguntas certas, precisas e oportunas. São elas que induzem a busca de verdades, as perguntas são as molas propulsoras da humanidade.
Sócrates dizia que uma vida sem reflexões ou perguntas não merece ser vivida. Ao procurar explicação para tudo, se pode entender a vida verdadeiramente, sem hipocrisia. Para o uso viável, oportuno e produtivo da IA, o grande segredo é como perguntar a ela. Mas, para chegar à esta pergunta, a mente deve estar preparada, senão a resposta será ruim, incompleta, parcial e inútil.
Por ser fácil de usar e como requer cultura, leitura e experiência prévia, as pessoas mais velhas, experientes e cultas estão sendo as contratadas para se usar a IA nos países desenvolvidos. O palestrante e escritor Walter Longo se encanta ao falar do assunto, afirmando que o futuro finalmente chegou, especialmente para os maduros!
1. O educador diferenciado e crítico, têm o papel de ajudar as crianças e adultos na busca consciente e científica da verdade, ensinando-os a perguntar sempre, até para se autoconhecer. Para se perguntar e pedir à IA com eficiência, precisamos de saber um mínimo de coisas. Quem sabe perguntar, já sai na frente! Agora, todos os iphones terão o ChatGPT.
2. A IA precisa de ajuda, pois se fosse tão inteligente assim, ela mesmo faria as perguntas que precisamos para evoluir. Mas, ela só responde e não faz perguntas. Eu conheço algumas pessoas que nunca fazem perguntas. Você também conhece?
3. O mercado editorial envolve leitura e cultura e está se movimentando muito nesta direção. Agora contratam pessoas diferenciadas, que o mercado rejeitou por um bom tempo, pois estas pessoas sabem fazer as perguntas certas e checar as respostas dadas. Desta forma estão acabando com o etarismo no mercado! Que coisa heim! Uma reviravolta.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI