Desinformação e Fake News impactam adesão às vacinas no Brasil

De 3 mil entrevistados, 21% relataram ter deixado de se vacinar ou imunizar os filhos por causa de informações negativas em redes sociais

Fonte: Da redação

Embora a maioria dos brasileiros reconheça a importância das vacinas para a saúde, uma parcela significativa da população hesita em se imunizar e vacinar seus filhos devido à desinformação. Uma pesquisa realizada pelo Conselho do Ministério Público, em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e a Universidade Santo Amaro (Unisa), revelou que 21% dos 3 mil entrevistados, de todas as regiões do país, admitiram ter deixado de se vacinar ou de vacinar seus filhos após verem informações negativas sobre imunizantes em redes sociais ou no WhatsApp.

Metade dos participantes da pesquisa afirmou já ter recebido recomendações de conhecidos, amigos ou parentes para não tomar vacinas do calendário básico do Ministério da Saúde ou para não imunizar seus filhos. Além disso, 27% relataram medo de vacinas e 19% consideram os imunizantes pouco ou nada seguros.

Entre os que demonstraram receio, 66% mencionaram o medo de efeitos colaterais graves e 22% temem a agulha. Apesar dessa hesitação, 90% dos entrevistados reconheceram a importância das vacinas para a saúde e 70% disseram confiar nelas. A pesquisa aponta que a queda na vacinação no país é atribuída principalmente a notícias falsas (54%), falta de esclarecimento sobre vacinas (36%) e desinformação ou ignorância (6%).

A pediatra Isabella Balalai, membro do comitê técnico do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), destaca que uma parcela dos brasileiros foi influenciada pelo discurso antivacina. “Quando recebem uma fake news, mandam no grupo da família: ‘Isso é verdade?’, ‘Viram isso?’. E a dúvida se alastra como vírus. Mas se acontecer um surto de alguma doença, pode ter certeza que os postos de vacinação ficarão lotados,” afirmou.

Isabella relembra que durante a pandemia de Covid-19 houve muita desinformação sobre vacinas, inclusive por parte de autoridades. “Tinha até aquela história de virar jacaré, de não se responsabilizar pela segurança da vacina. Mas quando chegaram as primeiras doses, o que se viu foram brasileiros brigando pelo direito de tomar a vacina. Muitos deles, se pudessem, diziam ter comorbidades para serem vacinados logo,” acrescentou.

A pesquisa indicou que a maior hesitação em relação às vacinas ocorre entre segmentos da população com instrução até o Ensino Fundamental, renda mensal de até dois salários mínimos, idade até 59 anos, evangélicos e moradores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A maioria dos entrevistados (64%) informou-se sobre vacinas nas redes sociais, principalmente Instagram e Facebook. Apesar disso, 97% sabem onde levar seus filhos para serem imunizados, citando as Unidades Básicas de Saúde, e 73% avaliam como ótimo ou bom o serviço de vacinação oferecido em seus municípios.

Entre as dificuldades mencionadas para a vacinação, 17% disseram que as vacinas não estão disponíveis, 11% que o tempo de espera é muito longo, 8% que o horário dos postos é inconveniente e 5% que não conseguem sair do trabalho para vacinar os filhos.

A queda nos índices de imunização é motivo de preocupação. A Europa enfrenta um surto de coqueluche (tosse comprida), uma infecção altamente contagiosa. Em maio passado, a União Europeia informou que 17 países registraram aumento da doença, com 32.037 casos notificados apenas nos primeiros três meses deste ano, resultando em mortes na República Tcheca e na Holanda. Na China, foram registrados 32.380 casos, contra apenas 22 em 2023.

Recentemente, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro emitiu um alerta sobre o aumento da incidência de coqueluche. Este ano, até a última quinta-feira, foram registrados 34 casos, comparados aos oito casos confirmados em 2023. Em São Paulo, até o dia 5 de junho, foram confirmados 105 casos da doença, a maioria entre crianças e jovens de 10 a 19 anos de idade.

Apesar do risco, os índices de vacinação contra a coqueluche no Rio de Janeiro e em São Paulo permanecem baixos. A vacina Pentavalente, obrigatória para bebês (2, 4 e 6 meses), requer reforço aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a média de imunização nacional é de 82,94%, o Rio de Janeiro registra uma taxa de apenas 72,46% e São Paulo, de 74,36%. Como comparação, Minas Gerais tem um índice de 83,3% e o Espírito Santo, de 91,16%. Os estados do Nordeste apresentam uma média de 87,86%, ainda abaixo da meta de 95%.

A vacina DTP, destinada a crianças de 15 meses e 4 anos, e a DTpa Adulto também estão disponíveis. A coqueluche é transmitida principalmente por meio de gotículas e secreções eliminadas pela fala, tosse ou espirro.

Isabella enfatiza a necessidade de uma comunicação mais empática e comportamental para que as pessoas compreendam a importância da imunização. Para incentivar a vacinação, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) adotou no Brasil uma estratégia de busca ativa por crianças não vacinadas nos últimos anos. A ação inclui suporte aos municípios para atender as famílias, com a criação de salas de vacinação que funcionem em horários diferenciados.

Luciana Phebo, do Unicef, destaca a importância de ultrapassar os muros da saúde, envolvendo as secretarias de educação e as unidades dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) dos municípios na busca ativa. “O importante é não deixar nenhuma criança para trás,” afirma.

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