Um acidente aéreo sempre mexe com o emocional das pessoas. Trata-se do meio de transporte mais rápido e utilizado no mundo. Além disso, é um ‘equipamento’ capaz de transportar muitas vidas, na mesma ‘cápsula’, a uns 10 mil metros, no mínimo, acima de onde os pés conseguem alcançar.
A aviação é mágica. Dois motores que, em alguns modelos, são capazes de cruzar um oceano e, em questão de horas, te transportar de um continente ao outro. A asa, cuja envergadura e desenho proporcionam uma aerodinâmica maravilhosa, capazes de fazer com que o ar que passa por baixo, combinado com o que passa por cima – mais rápido- seja suficiente para elevar uma estrutura que pesa muito.
Os instrumentos embarcados? Modernos. Infalíveis? Nada é. Equipe treinada à exaustão. Arrisco a dizer que os profissionais formados no Brasil são os melhores. Não por acaso, insistentemente são convidados a voar em grandes companhias, principalmente nos Emirados Árabes, com salários…nem vou prosseguir!
De qualquer forma, a ideia aqui é trazer um pouco de lucidez neste caos que estamos vivendo. Após 17 anos, um acidente aéreo aconteceu. Não é algo fácil, como falei acima. São vidas. São sonhos. São almas.
Porém, o que percebo, depois de 17 anos, é que a nossa imprensa não mudou. Arrisco a dizer que piorou. A tragédia com o ATR 72-500 da VoePass está nos mostrando que parte das redes sociais não entende o que é notícia, o que é especulação e o que é fake. A mesma narrativa de querer comparar o acidente ocorrido nesta sexta (9), com o ocorrido com o Airbus 330 da Airfrance, em 2009.
Diversos vídeos que circulam no X mostram corpos de vítimas em chamas, sem nenhum pudor, sem nenhuma empatia. Jornalistas que estavam na coletiva concedida pela Aeronáutica – leia-se Cenipa – e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tiveram a ‘coragem’ de questionar se a Voepass era um táxi-aéreo. Outra perguntou, baseada em relatos de redes sociais, ‘que passageiros que estavam no voo mandaram videos desesperados’.
Relatos de redes sociais devem ser checados. Relatos de redes sociais devem ser usados com parcimônia. O ATR é um avião seguro. A aeronave em questão tinha 14 anos, o que é relativamente novo para a aviação, quando dentro da manutenção. Existem Airbus da Latam com 20 anos de uso e está tudo bem. Você voa e talvez nem saiba.
Um único fator jamais será a causa de um acidente. São somatórios. Quando há uma falha existe uma sequência de ações que devem ser tomadas. Se, no meio do caminho, há uma ruptura, o acidente ocorre. Neste caso específico, colocar a culpa apenas em um “gelo na asa” faz com que tudo se explique aos olhos da audiência.
Porém, o gelo não poderia estar ali. Se é que ele existiu – por mais que seja a explicação mais factual. Existem sistemas que evitam as asas congelarem. Elas foram acionadas? Funcionaram? Os pilotos perceberam? Os avisos soaram? São vários questionamentos que, mesmo as pessoas mais gabaritadas no assunto, como o Lito Souza, mecânico e especialista em aviação, jamais vão “cravar”. Só o Cenipa vai detalhar a sequência.
O que sabemos
Um ATR 72-500, muito usado na aviação regional pela Voepass e pela Azul, fazia um voo tranquilo de Cascavel (PR) para São Paulo, quando, de maneira inesperada, durante a descida, desceu no que chamamos de “flat-spin’ ou “parafuso chato”. O “parafuso chato” é utilizado em manobras de acrobacia, sob controle, ou seja, o piloto induz a aeronave para que haja a perda de sustentação, porém há um controle da velocidade do avião. Quando ocorre de maneira inesperada, é muito dificil de recuperação. Diversas situações podem levar a um parafuso. A situação climática pode ser uma das linhas de investigação. Não será a única. Pois, como falamos, nenhum acidente aéreo é causado apenas por um fator, e sim por uma sequência.
Fiquem tranquilos. A aviação brasileira é muito segura. Os parâmetros são rigorosos. Se não fossem, não estaríamos há 17 anos sem acidentes na aviação comercial.
Às famílias dos passageiros e dos tripulantes, a minha oração para que esse desencarne coletivo seja um momento de regeneração.
Por: Danielle Viveiros, publicitária, jornalista e entusiasta da aviação.