A oposição da Venezuela, que convocou manifestações em todo o país e no exterior neste sábado (17) para reivindicar a vitória nas eleições presidenciais do final de julho, está chamando os venezuelanos a “continuarem a batalha” contra o presidente Nicolás Maduro, cujos apoiadores também se manifestarão.
“É extremamente perigoso, mas aqui todos devem continuar a batalha e permanecer fortes”, disse a líder da oposição, Maria Corina Machado, nas redes sociais na sexta-feira (16).
“Tudo o que resta ao regime (…) é saber que está exposto” são “mentiras, repressão, violência e desmoralização. A desmoralização é a estratégia do regime”, acrescentou a opositora que vive na clandestinidade há duas semanas.
O anúncio da reeleição de Maduro para um terceiro mandato provocou manifestações espontâneas, que foram brutalmente reprimidas. Segundo fontes oficiais, 25 pessoas morreram, 192 ficaram feridas e 2.400 foram presas.
Os atos começaram neste sábado, em Sydney e Melbourne, na Austrália, onde manifestantes se reuniram agitando bandeiras venezuelanas para protestar contra o resultado eleitoral.
“Nós nos reunimos e nos manifestamos, e sinto que o país está unido agora”, disse Kevin Lugo, 28 anos, organizador do protesto em Sydney.
Durante a mobilização do início de agosto, Machado chegou em um caminhão, subiu em uma motocicleta e desapareceu rapidamente.
A manifestação de sábado é “muito importante. Será um dia histórico (…) trata-se de unir um país inteiro (…). Não há como voltar atrás e iremos até o fim juntos”, disse ela na sexta-feira, fazendo um apelo às pessoas para comparecerem aos protestos em família.
O governo, por sua vez, planejou uma “Grande Marcha Nacional pela Paz” em apoio a Maduro à tarde em Caracas.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ratificou a vitória de Maduro no início de agosto com 52% dos votos, sem fornecer a contagem exata nem as atas das seções eleitorais, alegando ter sido vítima de pirataria informática.
“Inclinação autoritária”
Segundo a oposição, que tornou públicas as atas obtidas graças aos seus escrutinadores, seu candidato Edmundo Gonzalez Urrutia, que substituiu Machado, declarada inelegível, venceu as eleições presidenciais com 67% dos votos.
A oposição e muitos observadores não acreditam na tese da pirataria informática.
Uma grande parte da comunidade internacional também se mostrou cética após o anúncio dos resultados oficiais pela CNE.
A União Europeia (UE) e 22 países, incluindo Argentina, Canadá e Espanha, solicitaram na sexta-feira, numa declaração conjunta lida em Santo Domingo durante a tomada de posse do presidente dominicano, Luis Abinader, “a publicação imediata de todos os registros originais e a verificação independente e imparcial destes resultados, de preferência por uma entidade internacional”.
A maioria dos países signatários já havia se manifestado de forma semelhante sobre o assunto.
O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou na sexta-feira uma resolução pedindo também a Caracas que “divulgue imediatamente a ata”.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também pediu a “ata”. “O que peço para reconhecer (o vencedor) é pelo menos saber se os números são verdadeiros”, disse ele.
Ele disse na sexta-feira que o governo de Maduro tinha uma “inclinação autoritária”, mesmo que ele não o considerasse uma “ditadura”.
O presidente Maduro mais uma vez rejeitou as críticas vindas do exterior: “Não aceitamos imposições, nem intervencionismo, nem que ninguém coloque as mãos sujas no nosso amado país”.
Em seguida, brincou: “Estamos preparando a delegação de observadores eleitorais para as eleições de 5 de novembro nos Estados Unidos. Uma comissão de especialistas venezuelanos vai para lá e verificaremos voto por voto!”