A agricultura urbana e periurbana (AUP) proporciona benefícios em múltiplas dimensões às pessoas e aos territórios, como melhoria da saúde, segurança alimentar e nutricional, geração de emprego e renda e conservação da biodiversidade.
Estas são algumas das conclusões dos quatro estudos de caso coordenados pelo TEEB Agricultura & Alimentos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces) nos territórios de Natal (RN), Manaus (AM), Osasco (SP) e Distrito Federal.
Por meio de entrevistas, a equipe de pesquisa analisou os benefícios percebidos pelas pessoas envolvidas em atividades de AUP nas dimensões econômica, ambiental, humana e social. Os estudos ainda fornecem um panorama sobre como evoluíram em cada localidade três serviços ecossistêmicos (entendidos como ‘serviços’ ou ‘benefícios’ que a natureza presta às pessoas) relacionados ao clima, ao solo e à água.
Veja um resumo dos principais resultados e necessidades identificadas em cada localidade:
Natal
Confira os benefícios mais mencionados nas entrevistas em cada uma das dimensões:
Humana: saúde física, mental e psicológica; (re)conexão com a natureza e cuidado; memória, inspiração e identidade.
Social: segurança alimentar e nutricional; fortalecimento de identidades socioculturais; coesão comunitária.
Econômica: redução de gastos com alimentação; geração de emprego e renda; ocupação produtiva de vazios urbanos.
Ambiental: conservação da biodiversidade; melhoria da qualidade do ar e solo; redução de resíduos urbanos.
Em relação aos serviços ecossistêmicos, o estudo aponta que enquanto a erosão do solo segue uma tendência positiva, existe a necessidade de melhorar a gestão da vegetação urbana para que a alta capacidade de infiltração de água no solo (essencial para prevenir enchentes e erosão) seja melhor distribuída por todo o território.
Essa estratégia é especialmente importante quando se considera a continuidade na tendência de diminuição da disponibilidade de água no futuro. As projeções para o período de 2020-2050 para clima também trazem sinais de alerta. O aumento das ilhas de calor é crítico para a cidade, e pode se acentuar no futuro, aponta o estudo.
Manaus
Confira os benefícios mais mencionados nas entrevistas em cada uma das dimensões:
Humana: saúde física, mental e psicológica; memória, inspiração e identidade; e (re)conexão com a natureza e cuidado.
Social: segurança alimentar e nutricional; inclusão e diversidade; e coesão comunitária.
Econômica: redução de gastos com alimentação; geração de emprego e renda; e encurtamento da cadeia de suprimentos.
Ambiental: conservação da biodiversidade; melhoria da qualidade do ar e solo; redução de resíduos urbanos.
As análises sobre os serviços ecossistêmicos indicam pontos críticos, a começar pelo aumento na perda de solo, que sugere uma maior atenção no controle da erosão. Já em temos de dinâmica da água, observa-se o escoamento superficial elevado (que corresponde à parcela da chuva que se move rapidamente na superfície e não se infiltra no solo) indicando que nas áreas urbanas a infraestrutura pode não ser suficiente para gerir o volume de água durante períodos de chuva intensa, o que aumenta o risco de enchentes.
A baixa recarga de água subterrânea, por sua vez, sugere que a interceptação das chuvas pela vegetação está pouco efetiva, indicando a relevância do manejo de águas pluviais nas áreas urbanas e a conservação das áreas florestais existentes para uma gestão eficiente dos recursos hídricos. Por fim, nas dinâmicas de clima, verificou-se que, embora as florestas do entorno resfriem o município, elas podem não ser suficientes para frear o aumento das ilhas de calor no núcleo urbano.
Osasco
Confira os benefícios mais mencionados nas entrevistas em cada uma das dimensões:
Humana: (re)conexão com a natureza e cuidado; saúde física, mental e psicológica; bem-estar.
Social: segurança alimentar e nutricional; aprendizado e educação; coesão comunitária.
Econômica: geração de emprego e renda; fortalecimento da economia solidária; redução de gastos com alimentação.
Ambiental: conservação da biodiversidade; melhoria da qualidade do ar e solo; redução de resíduos urbanos.
Em relação aos serviços ecossistêmicos, o estudo aponta que a erosão do solo está relativamente controlada devido a extensas áreas construídas. Já nas projeções futuras (2020-2050) para as dinâmicas de água, a tendência é de manutenção do histórico de enchentes e de pouco abastecimento do lençol freático. Na frente de clima, com o aumento esperado da temperatura média, a expectativa é que vegetação existente seja ainda menos eficaz em atenuar as ilhas de calor.
Nesse sentido, a importância da multiplicação de espaços verdes e de áreas de agricultura urbana em Osasco emerge como uma recomendação para melhorar a resiliência da cidade frente a eventos climáticos extremos, aponta o documento.
Distrito Federal
Confira os benefícios mais mencionados nas entrevistas em cada uma das dimensões:
Humana: saúde física, mental e psicológica; (re)conexão com a natureza e cuidado; bem-estar.
Social: segurança alimentar e nutricional; aprendizado e educação; cooperação e parcerias.
Econômica: geração de emprego e renda; ocupação produtiva de vazios urbanos; fortalecimento da economia solidária.
- Ambiental: conservação da biodiversidade; melhoria da qualidade do ar e solo; regulação do microclima.
A análise sobre os serviços ecossistêmicos indica que a erosão do solo segue uma tendência positiva, mas as projeções futuras (2020-2050) para as dinâmicas de água e clima levantam preocupações. Tanto o escoamento superficial quanto a recarga de água subterrânea apresentam diminuições significativas, o que sugere condições mais secas e um potencial estresse hídrico. Já na frente de clima, é esperado que, com o aumento das anomalias de temperatura (ou seja, do aumento da diferença entre a temperatura observada e a média esperada), a vegetação existente seja ainda menos eficaz em atenuar as ilhas de calor.
Conclusão
“Os estudos tem como intenção incidir localmente e influenciar o avanço de políticas públicas para o ganho de escala da agricultura urbana. Ao se registrar e analisar o que é muitas vezes conhecido empiricamente pelas pessoas que interagem com essas iniciativas, é possível ampliar o alcance da AUP perante diferentes atores, que possam no futuro se tornar parceiros, praticantes, gestores e financiadores dessas experiências. Além disso, também há como pano de fundo a intenção de fortalecer a transversalidade dessa pauta e de ressaltar suas múltiplas ‘facetas’ em formas de tipologias, considerando a heterogeneidade da paisagem e dos biomas brasileiros” declara Jéssica Chryssafidis, pesquisadora do FGVces e gestora da iniciativa “Agendas municipais de agricultura urbana e periurbana: fortalecendo a inserção da agricultura nos processos de planejamento urbano”, a qual o estudo está ligado.