Cada esporte delineia um perfil corporal como nadadores, basqueteiros e boleiros. Já fisiculturistas impressionam, pois modelam os músculos e seus corpos parecem esculturas humanas.
Isto acontece porque as fibras musculares são células que, juntos com os neurônios, são classificadas como permanentes, e depois de adultos deixam de se multiplicar e não se renovam mais. Quando precisamos de músculos fortes, volumosos e capazes de suportar mais carga, isto não estimula a proliferação, o que se chamaria hiperplasia, como acontece com outros órgãos.
Nos músculos a demanda aumentada, aumenta o aumento do volume de cada célula muscular esquelética, aumentando o volume muscular, o que se chama de hipertrofia. E funciona muito bem atendendo as necessidades funcionais e sobrecargas.
Atletas e fisiculturistas modelam os corpos graças à hipertrofia muscular. Se parar os estímulos, os músculos retornam ao tamanho original. Isto faz parte da normalidade. Para aumentar os músculos esqueléticos usa-se exercícios, outras atividades físicas e aparelhos específicos.
NA FACE
Na cabeça e pescoço temos grupos de músculos muito especiais como os da expressão facial ou da mímica, os da mastigação e os da língua. São muitos e organizados de forma requintada para fazer as funções de comunicação, alimentação e fala, além de outras funções, cada uma mais especial que a outra.
A preocupação está muito grande com o aspecto estético, mas em especial a face, para que fique mais feminina, menos masculina, e assim por diante. Há uma verdadeira perseguição pela harmonização orofacial. Na mídia existe a venda de chicletes para harmonização “da mandíbula”, aumentando-a. Mas, o que o que se modela nestes casos, não é a mandíbula, e sim o músculo masseter, que fica lateralmente na face externa no ramo mandibular, onde se insere.
Os cantos inferiores do retângulo formado pela face que pode ser herdado, mas sofre forte influência de fatores externos. Tem pessoas com a parte inferior da face bem quadrada. Alguém se lembra da cantora Rosana? As radiografias e tomografias revelam que há uma hipertrofia significante do masseter e aumento volumétrico mínimo da mandíbula. A causa pode ser o acentuado uso de gomas de mascar, bruxismo intenso e duradouro por muitos anos, esforço mastigatório unilateral, desordens psiquiátricas e até os distúrbios na ATM.
TRATAMENTO?
Algumas pessoas procuram os profissionais especializados para diminuírem este aspecto quadrado facial gerado por hipertrofia do masseter, e assim feminilizar a face. Isto se faz cirurgicamente na maioria dos casos, removendo-se parte do masseter e até um pouco da superfície óssea da mandíbula, onde se insere. Só que estas pessoas têm que eliminar a causa identificada.
Tem pessoas que querem o contrário, querem masculinizar o aspecto facial aumentando estes ângulos inferiores. A solução para tal, já é mais difícil de se obter, afinal é uma região bem delicada. Para se evitar procedimentos invasivos e resultados nem sempre favoráveis, o mercado “sugere” usar gomas de mascar mais duras e “específicas” para “modelar a mandíbula”, ou melhor, o masseter.
Funciona? Precisa-se de pesquisas para isto, os dados são muito pouco científicos, mas tem uma certa lógica, pois esta pode ser uma forma de induzir uma hipertrofia do masseter e ter um resultado estético desejado. O cuidado é que deve ser igualmente aumentado em ambos os lados, se não fica assimétrico.
REFLEXÃO FINAL
O novo é diferente, estranho e assusta. Se a causa para a hipertrofia do masseter pode ser o uso excessivo de chicletes e o bruxismo severo, como se ensina e aprendemos; lógico que para os pacientes em que ele está menor e mais delicado, incomodando-os, o uso aumentado de chicletes mais duros, monitorado por profissionais da odontologia e de forma metódica e científica, então pode ser feito. Só não esqueça que os resultados nas academias é um pouco lento para o corpo todo, e não será de um dia para o outro no masseter e mandíbula!
Alberto Consolaro é professor titular da USP em Bauru e colunista de Ciências do JC.