Quase 50% dos jovens da geração Z têm dificuldade para economizar

Organização das finanças pessoais não é um processo fácil, mas pode ser especialmente desafiador para esses jovens

Fonte: Davi Valadares do Portal Terra
Quase metade dos jovens com idades entre 18 e 24 anos, nascidos dentro da chamada Geração Z, não realiza o controle das finanças pessoais. (Foto: Getty Images)

Diante de um cenário constante de endividamento das famílias e juros altos no Brasil, ter um bom controle financeiro não é um processo fácil. No entanto, pode ser especialmente desafiador para a geração Z. Quase metade dos jovens com idades entre 18 e 24 anos não realiza o controle das finanças pessoais.

O dado consta no estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Segundo a pesquisa, 47% dos jovens não fazem controle das finanças. Não saber fazer (19%), sentir preguiça (18%), não ter hábito ou disciplina (18%) ou não ter rendimentos (16%) estão entre as justificativas.

O especialista em finanças pessoais João Victorino explica ser comum que jovens da geração Z sintam vontade de gastar boa parte do salário comprando coisas de seu interesse, a partir do momento que começam a trabalhar. Isso é válido e pode ser feito, porém, desde que seja com sabedoria e com bom controle financeiro, pois é fácil se deixar levar por hábitos consumistas.

Entenda o conceito: A Geração Z é composta por pessoas nascidas entre os anos 1995 e 2010. São chamados de Geração Z porque cresceram em um mundo de tecnologias digitais. Esses jovens recebem uma vastidão de ofertas supostamente imperdíveis, desde produtos e serviços até experiências. A tentação de seguir as tendências do momento é forte e atinge milhões de pessoas. 

“A Geração Z, por exemplo, é bastante ativa nas redes sociais e, às vezes, passa a querer determinado produto cuja existência era desconhecida há poucos minutos, desembolsando altas quantias para adquiri-lo sem maiores reflexões. Isso pode trazer sérias consequências para as finanças pessoais”, afirma João  Victorino.

Aline Soaper, educadora financeira, diz que a pressão social por consumir artigos de luxo também é um fator prejudicial nas finanças da geração Z, que se endivida para usar as mesmas roupas e viver experiências gastronômicas e viagens que os influenciadores exibem nas redes sociais.

“A facilidade de compras pela internet, como aplicativos de refeições e de produtos importados, é o grande vilão para essa geração, que já nasceu conectada. Além do alto custo de vida e os desafios de lidar com as obrigações da vida adulta”, acrescenta.

O que a geração Z compra?
A geração Z é bastante seletiva. Os jovens nascidos entre os anos 1995 e 2010 preferem marcas que se alinham com seus valores e que oferecem produtos de qualidade. Por viverem conectados, compras online estão no topo da lista. Redes sociais, como TikTok e Instagram, têm grande influência nas decisões de compra deste grupo de pessoas.

Estudos comportamentais já indicam que eles não priorizam bens materiais. Viagens, eventos culturais e experiências que gerem memórias significativas são mais importantes. Ou seja, os Gen-Z preferem gastar dinheiro em algo que possa ser compartilhado e que reforce sua identidade digital.

Luiz Menezes, fundador da Trope, uma consultoria de geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio, afirma que esses jovens não estão conseguindo ter os mesmos sonhos que as outras gerações tiveram no passado. Em vez de poupar para comprar um imóvel, os jovens preferem comprar uma blusa na Shopee e Shein.

“Quando a geração X tinha 25 anos, já eram casados, já tinham filhos e já pensavam em imóvel próprio. Hoje, o plano de compra dos jovens da mesma idade são as microcompras, que acabam sendo indulgentes ou trazendo aquele prazer imediato. Por isso que as compras de R$ 20 são tão importantes para a geração Z, para as indústrias e para os e-commerces”, avalia.

O que fazer para se reeducar
João Victorino, especialista em finanças pessoais, ressalta que, mesmo diante de eventuais dificuldades para lidar melhor com o dinheiro, o importante é dar o primeiro passo. O planejamento financeiro surge como um farol, mas não nasce da noite para o dia e nem se encerra em si mesmo: é preciso dedicação para mantê-lo organizado e atualizado.

“Saber o valor do seu dinheiro, quanto você gasta ou deixa de gastar, quanto você pode economizar, entre tantos outros fatores, vai te trazer uma enorme liberdade e uma melhor relação com as finanças”, acrescenta.

Aline Soaper afirma que a organização financeira e o planejamento são fundamentais para todas as gerações. E como os Gen-Z são hiperconectados, ela sugere aplicativos de controle financeiro.

“São excelentes ferramentas para acompanhar as despesas e receitas. Porém, além disso, é importante analisar esses gastos. O aplicativo é apenas uma facilidade de registro, as decisões precisam ser tomadas pelas pessoas”, diz.

Não dá para generalizar
Com 25 anos e também inserido na geração Z, Luiz Menezes afirma, no entanto, que não dá para generalizar. Ele explica que há dois extremos. Uma parte leva na brincadeira, perguntando “Se eu desinstalar o app da Nubank, será que essa fatura vai deixar de existir?”. Esse grupo tem preocupação um pouco menor do que as gerações anteriores.

“Ao mesmo tempo que temos uma outra parcela da Gen-Z também muito preocupada em relação à economia, futuro, planejamento. Com uma preocupação já desde mais cedo que a previdência privada talvez seja importante, já que a previdência social tradicional que conhecemos não vai dar conta, vai colapsar. Por isso que falo sobre os dois extremos dentro da mesma geração”, explica.

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