Manter uma alimentação saudável, à base de frutas, legumes e grãos pode proteger suas células de danos importantes. Enquanto isso, uma dieta repleta de açúcar adicionado, aquele que costuma ser acrescentado aos produtos ultraprocessados, tem efeito contrário e pode acelerar o envelhecimento celular. A conclusão pode parecer batida, mas as evidências são novas.
Um estudo observacional publicado na renomada revista científica Jama Networks acompanhou dados de 342 mulheres, brancas e negras, ao longo de alguns anos da infância (9 ou 10 anos) e da meia-idade (de 36 a 43 anos). Além de registrar suas três refeições diárias durante alguns dias do período do estudo, elas também tinham dados médicos e genéticos no banco de informações do National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI) Growth and Health Study (NGHS), na Califórnia.
A partir desses dados, os pesquisadores determinaram pontuações para a dieta de cada participante. Eles cruzaram essas informações com análises do chamado relógio epigenético, que reflete padrões alterados de expressão de genes e proteínas e indicam, no fim das contas, a idade biológica do indivíduo – é diferente da idade cronológica, calculada a partir da data de nascimento. Fatores como tabagismo, doenças crônicas e uso de medicamentos também foram considerados.
Vale destacar que a idade biológica retrata as condições de envelhecimento do organismo. Portanto, se ela for menor do que a idade cronológica, é um ótimo sinal.
Segundo o estudo, uma alimentação saudável (baseada em frutas, verduras, grãos integrais, oleaginosas, sementes e legumes) está relacionada a um envelhecimento biológico desacelerado. Ao mesmo tempo, uma dieta com consumo elevado de açúcares adicionados foi associada a uma idade biológica mais avançada. De acordo com os pesquisadores, essa é a primeira vez que um estudo aponta a relação entre alimentação com o envelhecimento celular.
Para Celso Cukier, nutrólogo, os resultados da pesquisa são extremamente interessantes. “Quando a gente fala em epigenética, trata-se da influência do meio ambiente em nossas características genéticas”, explica.
Ele afirma que as recomendações de redução de açúcar para uma dieta saudável já são conhecidas, mas o que o estudo reforça é que elas são importantes não só para ajudar na prevenção de doenças, mas também para evitar o envelhecimento celular precoce. Para o nutrólogo, o novo estudo abre caminhos para futuras pesquisas.
A dieta antienvelhecimento
Para a pesquisa, os pesquisadores utilizaram como referência a dieta mediterrânea e diretrizes de prevenção de doenças crônicas. “A seleção de nutrientes foi feita com base nas capacidades antioxidantes e/ou anti-inflamatórias, bem como nas funções na manutenção e reparo do DNA documentadas na literatura”, explicam os autores no estudo.
Baseada nos hábitos alimentares e na disponibilidade de ingredientes de regiões banhadas pelo Mar Mediterrâneo, como Portugal, Espanha e Grécia, a dieta mediterrânea preza o alto consumo de verduras, frutas, leguminosas, gorduras boas (como o azeite) e peixes. Também são consumidos, com menos frequência, laticínios, como iogurtes e queijos e, excepcionalmente, carnes vermelhas.
No entanto, os autores do estudo apontam que esse não é o único modelo válido. “Adotar uma abordagem nutricional sugere que qualquer padrão alimentar rico em vitaminas, minerais e outros bioativos pode ser útil para preservar a saúde epigenética. Isso é útil porque os padrões alimentares são influenciados socioculturalmente, mas um foco em nutrientes em vez de um foco em alimentos pode ajudar a unir culturas, classes e geografia”. Eles apontam que a dieta de Okinawa, por exemplo, é nutricionalmente semelhante à dieta mediterrânea, mas está mais alinhada aos gostos asiáticos.
Também é possível adaptar a dieta mediterrânea aos hábitos brasileiros, como já indicado em reportagem do Estadão. Nesse sentido, indica-se valorizar alimentos como arroz, feijão, sardinha e frutas típicas da nossa biodiversidade.
Outro aspecto importante a ser mencionado é que, atualmente, fala-se em um estilo de vida mediterrâneo, que combina alimentação com atividades físicas frequentes, conexões sociais e preocupação com sustentabilidade.