Queimadas e seus problemas

Texto publicado na Página do Agronegócio do Jornal Pequeno, deste domingo, 6.

Fonte: Assessoria SENAR

Ao visualizar recentemente a reportagem da CNNBrasil sobre o assunto das queimadas, ficou claro que o Brasil perdeu, só no mês de agosto, uma área maior que o estado da Paraíba, decorrente de mais de 57.000 focos de queimadas praticadas quase sempre por incautos, que querem ver o setor agropecuário do país ligado ao agronegócio rumo à decadência.

Também uma das últimas reportagens da emissora globo sobre o assunto, foi incisiva em mostrar que somente no mês de agosto deste ano, 5.700.000 hectares já foram queimados em todo o Brasil, sendo a maior área atingida em apenas um mês, desde o ano de 2019. E, para tristeza nossa, no Maranhão o cenárionão difere muito deste painel horrendo e trágico.

Há, no entanto, uma grave desinformação circulando e vinculando o agronegócio nacional à questão das queimadas criminosas e o constante ataque ao meio ambiente, como se isso criasse alguma favorabilidadepara a exploração da agricultura tecnificada,geralmente tratada como agronegócio. Ao contrário disso, as perdas, nesse caso, acarretam prejuízos irreparáveis para todos que atuam na atividade e dali tiram seu sustento e lucro.

Factualmente, já acompanhei de perto um grupo de pessoas comuns (na forma de brigada anti queimadas), pagas por um fazendeiro, para atuarem no combate ao fogo que vizinhava sua propriedade. O medo de todos que têm pasto formado e animais por alimentar, bem com plantios de lavouras diversas, é que o fogo se apresente e se alastre e consuma tudo, ficando o rebanho sem ter o que comer ou deixar o resultado da safra de grãos e outras culturas, comprometido.

Nessa época do ano, principalmente as regiões dos sertões maranhenses e do sul do Estado, estão e permanecem de sobreaviso. Sempre vigilantes para que o fogo não lhes cause maiores problemas. Quase ninguém dorme, pois, a presença do fogo acontece principalmente no período noturno, quando menos se espera. É um transtorno imenso! Tanto para quem tem uma, ou milhares de cabeças de gado bovino epequenas e grandes lavouras.

Atualmente, encontra-se onde o agronegócio floresce e tem bom andamento, as áreas exploradas com soja e milho, o Programa ABC Cerrado (Programa governamental da agricultura de baixo carbonocompromissado com o meio ambiente) que é largamente difundido em nosso estado, em que uma das técnicas utilizada é o Plantio Direto na Palha.

Como fica o estado de espírito de um produtor que faz seu plantio direto na palha, quando vê o fogo se aproximando de sua área de exploração agropecuária? Não dá nem para imaginar a dimensão de seu grau de preocupação. Isso, tanto pela palhada que vai ser consumida pelo fogo, quanto pela inviabilidade de aplicação de sua técnica para exploração da área já previamente preparada, onde os investimentos com as máquinas e equipamentos agrícolas adquiridos, foram direcionados com exclusividade para esse fim.

Em nosso país, são cultivados atualmente 33 milhões de hectares nesse sistema, correspondendo a 80% da área semeada com as culturas alimentares de exportação (principalmente soja e milho) e outras gramíneas.

É importante destacar que o agronegócio brasileiro e em especial o maranhense, de um modo geral em nada se beneficia ou ainda que se possa atribuir, tenha qualquer nível de responsabilidade pelas queimadas desenfreadas que nesse momento se estabelecem em quase todos os biomas existentes. Elas significam perdas substanciais e significativas em suas margens de lucros. Então, quem tem realmente a responsabilidade por essas queimadas?

Sabe-se, por outro lado, que o processo itinerante da agricultura de subsistência (lavoura no toco), é calcado principalmente nas queimadas como instrumento de preparo de área para a exploração de pequenos roçados, em que são cultivados em processo tradicional de exploração (subsistência): o arroz, milho, feijão e mandioca, e alguns legumes complementares da dieta alimentar como: abóbora, quiabo, maxixe, vinagreira e outros.

Conforme dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM, a quantidade assustadora de queimadas no Estado de São Paulo (mais de 80%), aconteceu em áreas de exploração agropecuária, mas já foram controladas e as autoridades governamentais estão em franca investigação para punir e/ou prender os culpados. Sabe-se, por outro lado, que o governo adotou a postura de suspender temporariamente as autorizações para uso de fogo em vegetações em todo o estado. E ainda, adota novas orientações e diretrizes para conter esse comportamento criminoso de pessoas, que tentam perpetrá-lo para enodoar a classe produtora rural são-paulina.

Parece-nos que, no final da história, independentemente do tamanho do produtor rural, todos saem perdendo e são uníssonos ao afirmar: “O fogo nas plantações ou na floresta não traz benefíciospara ninguém. Só destrói tudo e ajuda cada vez que se manifesta, reduzir o nível de sustentabilidade das atividades agrossilvipastoris e até da vida humana neste nosso planeta. ”

O apelo que se apresenta mais adequado ao nosso ver, não é criminalizar indiscriminadamente o agronegócio pelas queimadas que todos os anos se tornam quase sempre constantes nesse período do ano. Mas, tomar as medidas adequadas e coercitivas para preveni-las, fazendo com que seus efeitos sejam minimizados e menos sentidos por todos os segmentos de nossa sociedade.  

Antônio Luiz Batista de Figueirêdo

En Agrº Superintendente do SENAR-MA

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