À medida que a produção de alimentos evolui, o uso de defensivos agrícolas – popularmente conhecidos como “agrotóxicos” – é frequente alvo de críticas de setores da sociedade, grande parte das vezes movimentos carregados de desinformação. Os defensivos agrícolas, tal como os medicamentos aos seres humanos, são ferramentas vitais para proteger as plantas de pragas e doenças, auxiliando o agricultor a elevar a produtividade das lavouras. Produzindo “mais em uma mesma área”, torna-se possível atender ao desafio da demanda global crescente por alimentos, sem que seja necessário novas áreas de cultivo (abertura de campos, desmatamento e outras práticas ilegais).
Apesar da comprovada importância que têm para o desenvolvimento sustentável da produção, engana-se quem pensa que o registro e uso destes produtos é viabilizado com facilidade. O Brasil conta com uma das legislações mais rigorosas do mundo, a qual atesta a segurança dos produtos para o seres humanos (a); os possíveis impactos ao meio-ambiente (b); e a eficácia do uso para as lavouras agrícolas (c).
Essa legislação institui regra de que novos produtos fitossanitários devem passar por análises de três órgãos reguladores no Brasil: 1) o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que realiza testes agronômicos para avaliar a eficiência do produto no controle de pragas, doenças e plantas daninhas; 2) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que conduz testes toxicológicos em laboratório, medindo o potencial tóxico para a saúde humana; e 3) o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável por testes ecotoxicológicos, avaliando os impactos no meio-ambiente e ecossistemas.
Ainda, são realizados estudos de caracterização físico-química e testes de metabolismo e degradação, que analisam o comportamento do produto no solo e na planta, incluindo o período de carência entre a aplicação e a colheita. Brasil, o período entre o desenvolvimento e o registro de defensivos agrícolas pode se prolongar por até 18 anos, segundo dados da CropLife Brasil, bem acima da média global, que gira em torno de 11,3 anos.
Nas últimas décadas o uso de defensivos no Brasil passou por uma significativa evolução, acompanhando os avanços da ciência e tecnologia no campo, sendo utilizados em menores quantidades devido ao aumento de sua eficácia. Nos anos 1950, a aplicação média de fungicidas, inseticidas e herbicidas em todo o mundo era de 1,2, 1,7 e 2,3 quilogramas de ingrediente ativo por hectare, respectivamente. Já em 2010, essas médias caíram para 100, 40 e 75 gramas por hectare, segundo um estudo realizado por Ray Nishimoto, em 2019, e divulgado pela CropLife Brasil. Essa mudança reflete a evolução tecnológica que permitiu o uso mais racional e seguro desses produtos, tanto para os agricultores quanto para o meio ambiente.
Em números totais, o Brasil costuma aparecer entre os países que mais consome defensivos agrícolas no mundo, o que se justifica pelo fato de sermos também um dos maiores produtores e exportadores globais de alimentos. Entretanto, isso não significa uso descontrolado, já que a associação correta deve ser feita pelo uso por área; e não uso total. Quando visto desta forma, o Brasil ocupa a 25ª posição, com uma média de 5,94 kg/hectare, segundo dados da Organização nas Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, FAO (2018).
Outro argumento comum de ser encontrado é de que o Brasil “usa mais defensivos do que os Estados Unidos e outros países da Europa”. Acontece que estamos em uma região de clima tropical, onde pragas e doenças se reproduzem o ano todo e de forma desafiadora, enquanto no hemisfério norte, a neve trazida pelo inverno ajuda a dizimar a população de patógenos. Além disso, o mesmo clima tropical possibilita que cultivemos até 3 safras em um mesmo ano, o que é inviável nas regiões com neve.
Os defensivos agrícolas custam caro e representam uma parte relevante no custo de produção da maioria das culturas. Em suma, o agricultor prefere não ter que utilizar esses produtos, o que reduz a sua margem e lucratividade. O uso é, portanto, feito em situações em que há necessidade de controle para que as lavouras não sejam perdidas; e sim, é possível ter perda total da produção se houver descontrole no manejo. Hoje, a ausência dos defensivos acarretaria uma quantidade insuficiente de alimentos disponíveis no mercado para atender à crescente demanda global, prejudicando a segurança alimentar global.
Os bioinsumos e insumos biológicos vêm para revolucionar este cenário e já são uma realidade para muitos setores. Por enquanto, o manejo integrado (químicos e biológicos) tem sido a melhor técnica em termos de resultados, mas espera-se que os produtos naturais ganhem cada vez mais espaço, contribuindo para uma produção cada vez mais sustentável. Além disso, a nanotecnologia surge como solução inovadora, possibilitando a criação de nanofertilizantes e nanoagrotóxicos. Esses “nanoagrotóxicos”, feitos de nanopartículas de óxidos metálicos como cobre, zinco e manganês, podem controlar pragas e otimizar o metabolismo das plantas, superando gargalos de aplicação inadequada.
Com controles cada vez mais rigorosos, usos de equipamentos de proteção, altíssima reciclagem de embalagens, o agro tem caminhado em direção a um desenvolvimento mais sustentável e a esperança e no futuro termos moléculas cada vez mais eficientes contra pragas e doenças e com menor impacto ao ambiente e às pessoas, complementadas por produtos biológicos, controle natural e outras tecnologias.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.