Mural da Academia Ludovicense de Letras

Edição com textos dos acadêmicos professor Raimundo Viana, Dilercy Adler e Ceres Costa Fernandes.

Fonte: Redação


O Professor e a Sala de Aula
Por Raimundo Viana
Professor Universitário
Vice-presidente da Academia Brejense de Letras
Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL
[email protected]

Cheguei à sala de aula, em 1964, e de lá só saí, empurrado pela aposentadoria, em 2001 (37 anos).

O Magistério foi meu primeiro e último emprego. Nada a reclamar; e muito a agradecer, sobretudo, a sorte de ter estudado e concluído o Curso de Filosofia, no Seminário de Santo Antônio – à época, de todos reconhecido, como Casa de Ensino por excelência – o que muito me iluminou na escolha de meu OUTRO CAMINHO, o do Magistério.

De hábito, reflito sobe a missão do PROFESSOR, suas motivações e circunstâncias. Cá de fora da Sala de Aula, faço-o até com mais assiduidade, na convicção de que a aposentadoria nos empurra para o esquecimento, e não para a inatividade. Com esse entendimento é que escrevo esta crônica
De origem latina – ‘proficisci”- a palavra PROFESSOR, nos remete para aquele que parte à frente….;dirime dúvidas………aponta rumos………ilumina caminhos……; defende princípios………protagoniza um mundo novo , o do conhecimento.

O trabalho do professor não há que limitar-se ao mero cumprimento de um Programa de Ensino. Vai mais além!…….Ultrapassa os limites físicos da sala de aula formal; se desenvolve, em encontro ocasionais com seus alunos, via comunicação difusa de Corredor; de Rua………Assim, pensado e vivido, o Magistério de obrigação vira Missão, cujo exercício muito se assemelha à do Ministério. Um e Outro requer vocação, o que, de princípio, implica em desprendimento; espirito de renúncia.

Embora exercidos em espaços diferentes – o Magistério na sala de aula; o Ministério no Altar – têm objetivo comum, o de Ensinar. Seguem a mesma determinação evangélica: “Ide e ensinai a todos os povos”!…(“ite et docete omnes gentes!), o que mutuamente os aproxima em suas funções. Lá (no Ministério), o Ministro do Altar prepara as pessoas para a vida em outra dimensão, a divina. Cá (no Magistério) o Professor prepara seus alunos para vivenciar a realidade existencial, aqui e agora (hic et nunc!).

A comunicação professor-aluno não há de restringir-se à mera veiculação de informações teóricas. É muito pouco!…….A oportunidade é propícia e única para buscar incutir-lhe (no aluno) princípios saudáveis, formadores de uma consciência cidadã a incorporar-se ao seu modo de SER e de VIVER, o que requer, necessariamente, que essa Relação professor-aluno seja presencial; interativa; quente; transformadora; e enriquecedora, por consequência.

Vira e mexe, comenta-se a crescente importância dos avanços tecnológicos de hoje para o exercício de diferentes profissões, a do Magistério inclusa. A tecnologia é, induvidosamente, bem-vinda à sala de aula, mas, sempre dentro de seus limites: de natureza instrumental; facilitadora; de presença periférica. Ao professor jamais poderá substituir. A êle e somente a êle compete a função de protagonista do Processo Ensino-Aprendizagem. O que garante ao aluno uma formação tecnológica humanizada, plena em todos os sentidos.

Não raro, alude-se ao inexpressivo ganho salarial do professor; quase sempre, o estrito necessário para a própria sobrevivência. A recompensa de maior valia do exercício do Magistério advém da relação solidária construída na convivência com o aluno, o que só é percebido, e plenamente, usufruído, lá na frente, quando já no “otium” da aposentadoria, o Professor, quando nas encruzilhadas da vida, se reencontra com seu ex-aluno. De logo, o passado vem à tona; vira presente; e o reencontro uma festa. Esse é o salário extra do professor. Uma recompensa e tanto! Éramos bem pagos, e não o sabíamos! Tudo depende do que ocorreu lá atrás – na SALA DE AULA.

A consagração da data de 15 de outubro ao Professor é por demais justa e oportuna. Faz todo o sentido. As homenagens que se lhe prestam, merecem-nas todos, do mais humilde ao mais graduado, que dedicam ou dedicaram suas vidas ao trabalho anônimo da sala de aula. Professores há (são muitos!) que do Magistério fizeram seu Ministério de vida. Apostaram todos os seus ideais profissionais na formação dos jovens, o futuro da Nação, Chegaram cedo à sala de aula. E de lá, só saíram, quando não mais podiam ficar. De regra, no âmbito institucional, a aposentadoria ofusca-lhes os feitos. Apaga-lhes o rastro. Mas, não o consegue entre os alunos!……..Êles os acompanham, vida a fora!

Vale a pena ser professor!……..E como vale!……Dele muito depende o futuro da pátria. Ainda que um trabalhador anônimo!

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Saudação a Joãozinho Ribeiro pelo lançamento do livro “Safra de Quarentena, A Colheita Possível”

Joãozinho é o poeta da vida, dos becos e das bandeiras. Amigo da arte, filho da cultura, irmão do tempo. Tem perfil do Desterro e me mostrou que a diferença entre história e causo está na bandeira que se carrega.

Cláudia Lobo

Com essas palavras de Cláudia Lobo, saúdo a Mesa, na pessoa do querido confrade da Academia Ludovicense de Letras, Joãozinho Ribeiro, e, também, a todas as pessoas deste seleto auditório.

Dilercy Adler declama com olhar atento de Joãozinho Ribeiro (Foto: Junior Foicinha)

Minhas Senhoras e Meus Senhores, boa noite!

É com grande alegria que nos reunimos hoje para celebrar o lançamento de mais um livro de Joãozinho Ribeiro. Este momento é especial, não apenas para o autor, mas para todos nós, que temos a oportunidade de nos conectar com sua obra e sua visão lírica, singular.

Joãozinho Ribeiro tem, de fato, um olhar sensível e profundo. Sua poesia é, sem dúvida, um ato político de resistência, como ele mesmo afirma: “A literatura que pratico é para mim, e sempre será, um ato político de resistência! […] a poesia é o que torna suportável todo o sentimento que carrego comigo; é um ato de sobrevivência, militante e permanente.” Suas palavras nos conduzem a um mergulho profundo, onde a dor e a beleza se entrelaçam, como em seus versos: “Se atrever teu poema / Sobre o silêncio do mundo / É ter que escavar a dor / Dentro de um veio mais profundo. / Por que te arriscas, poeta, / Neste mergulho tão fundo?”. Ele mesmo dá a resposta, muito sua “Não concebo, nem imagino o ato de existir sem a poesia por perto. Ela dorme e amanhece dentro de mim, feito um pão que alimenta as minhas necessidades básicas do ofício de viver e de sonhar”.

Essas afirmações me remetem ao âmago do universo psicanalítico, pois, Freud nos seus textos: “O poeta e a fantasia” e “A interpretação do sonho” se refere à questão do de¬sejo. Isso significa que, psicanaliticamente falando, existe uma estreita relação entre o sonho, o mito e o poema, ligados pelo fio do desejo. ¬O sonho desfigura o desejo, desestruturando-o, fragmentado-o. A angústia do sonho é o desejo não realizado. Porém, o desfigurado necessita reconfigura-se, reestruturar-se e isso é viabilizado pela interpretação simbólica terapêutica (com a ajuda do terapeuta) e a interpretação simbólica poética (elaborada pelo poeta).

Poeta entre Dilercy Adler e Sanatiel Pereira, presidente da ALL (Foto: Junior Foicinha)

Dessa forma, a linguagem poética transmutada é advinda do olhar do poeta que transcende a materialidade observável, permitindo-lhe experienciar o que via de regra é inalcançável para muitos.

Aqui, ainda evoco uma comparação de David G. Cooper (1931 – 1986), um psiquiatra sul-africano, notável teórico e líder do movimento antipsiquiatria, citada por João Francisco Duarte Júnior em seu livro “A Política da Loucura, a Antipsiquiatria”: “Tanto o poeta quanto o louco mergulham em mundos além das palavras e das verdades estabelecidas. Enquanto o louco pode se perder nesse mergulho, o artista, retorna através da sua obra, oferecendo ao mundo uma transcrição lúcida e exuberante de sua jornada interior.

Convém afirmar que, além de um poeta excepcional, portador de um imperioso talento de nos levar a novas reflexões e emoções através de suas palavras, Joãozinho tem demonstrado comprometimento e dedicação à cultura, especialmente em sua gestão pública, como no período em que assumiu o cargo de Secretário de Estado da Cultura no Governo Jackson Lago, de janeiro de 2007 a abril de 2009.

Joãozinho Ribeiro autografa Safra de Quarentena (Foto: Junior Foicinha)

Parabéns, Joãozinho, por mais essa primorosa obra, que nos oferece um valioso retorno do inusitado mergulho no mundo dos sentimentos e das emoções mais genuínas e originais. Que suas palavras continuem a nos inspirar e a nos fazer refletir sobre a complexidade da vida e a importância da arte como elemento indispensável do “bem-viver”.

Vamos juntos aplaudir essa conquista e dar as boas-vindas a um novo capítulo na literatura maranhense, e para além dela!

Com admiração e carinho,
Dilercy Adler, ALL e IHGM

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José Chagas ou a perenidade do efêmero 2

Por Ceres Costa Fernandes

Dizer algo que agregue à vasta fortuna crítica do José Chagas poeta e prosador algum novo valor ou contribua para a clarificação da arquitetura dos seus textos é tarefa ingente senão estéril, tantas as manifestações de autores e críticos de nomeada dadas à luz sobre os sessenta e nove anos de fecunda maranhensidade do autor.

Não fossem a admiração e a amizade que o poeta-cronista me inspira, escaparia desta armadilha, livrando-me de incorrer em trivialíssimas obviedades ou enveredar por enfadonhas repetições.

Ao fim e ao cabo, me atrevo a dizer-lhes que o escritor José Chagas, maranhense de Piancó, ou melhor, ludovicense de Santana dos Garrotes, provinciano e universal, não é apenas um, sendo dois. E sendo dois escritores diversos – considerando que o poeta, de rima fácil, simetrias incisivas, metáforas abundantes, de ritmo e cadência que, por vezes remetem às suas origens de cordel, não invade a seara do cronista, possuidor de clássica e sofisticada ciência do saber e do narrar – Chagas ainda assim permanece uno.

Ora, isso começa a parecer-se com um dos muitos paradoxos, obtidos pela simetria dos contrários, nas antíteses e trocadilhos inteligentes que imperam no vigoroso estilo da prosa chaguiana e se encaixam em balanço harmonioso no discurso das suas crônicas – engenhosa aliança do português castiço haurido na intimidade dos clássicos com a saborosa linguagem popular nordestina.

E digo bem parecer-se, pois, ainda que tente arremedar o mestre, desconfio que não construí nenhum paradoxo. Os dois Chagas – poeta e prosador – se unificam no fundamento crítico e ético que orienta sua obra: a nítida simpatia pelo homem comum, o despossuído da sorte e oprimido pelo poder; a aversão por políticos, politicagens e corruptos e o amor acendrado e declarado a São Luís.

E São Luís o que é?
São Luís é a sua cidade eleita, terra de adoção, ponto de chegada onde a rosa dos ventos se congela:

E onde fui comprar passagem
para esse rumo não sei.
Talvez meus sonhos viajem
por força de alguma lei.
…………………………………..

onde quer que eu me fosse,
seria aqui o meu abrigo:
o destino não me trouxe
fui eu que o trouxe comigo

São Luís é a cidade mulher, com quem perpetra uma fusão mítica, uma simbiose perfeita, onde um é o outro:

O sol me move
contra o meu horizonte
e o tempo é claro em mim
como na paisagem lenta
que se pendura em meus olhos
balança entre azul e vento
alongando-se até onde árvores e casas
se cansam do espaço
e morrem de infinito.

Ou é lugar para se perder em epifanias:

e às vezes chovendo lendas
sobre os telhados ou poesia pura
que se desfaz no alto/
antes de tocar o ar
que respiramos hoje

Tanto amor também gera denúncia: o poeta vergasta o abandono e o desleixo do poder público e dos cidadãos com a sua cidade:

cumpre atentar
para um rato de São Luís
para o seu estilo próprio de rato a roer
uma tradição entregue
aos ratos e às baratas

Ou:
O mirante não crê
que só a palavra
sustente
pó e
poesia
……………………………………………………………………………………………………………………….
acha que meu poema
está em ruínas
como o bairro ou
que o verbo é pouco
para escorar as paredes do mundo
.
Voltando à prosa, que poesia também é, diremos que nas crônicas de cunho metafísico, arma a esgrimir reflexões sociais e sociológicas, constrói com agudeza satírica, alternadamente humorística e melancólica, textos em que desmascara a idealização das representações políticas em qualquer nível. No seu repúdio anárquico ao sistema constituído, não há um só justo a ser salvo.

Denúncias ou amores declarados, Chagas em tudo supera o circunstancial da base jornalística, escapando à fugacidade do gênero pelo predomínio do poder da criação sobre os fatos, tratando a matéria datada como o faria o narrador artesão de Walter Benjamin (1936), mergulhando a informação na sua própria vida para em seguida retirá-la dela, imprimindo a marca do narrador, “como a mão do oleiro na argila do vaso”, perenizando, assim, o que seria efêmero.

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