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A trágica história de Eliza Samudio: do sonho ao horror e à impunidade

O caso de Eliza Samudio segue como um marco na luta contra a violência de gênero no Brasil, lembrando a todos como o sistema falhou em protegê-la

Fonte: Com O Globo

Eliza Samudio, uma jovem que nasceu em Foz do Iguaçu, Paraná, sonhava em ser jogadora de futebol, mais precisamente goleira, e também tentou a carreira de modelo. Aos 18 anos, mudou-se para São Paulo em busca de oportunidades, mas enfrentou dificuldades financeiras que a levaram a atuar em filmes pornográficos. Após algum tempo na capital paulista, ela se mudou para o Rio de Janeiro, onde se envolveu com Bruno Fernandes, então goleiro do Flamengo e ídolo da torcida. Porém, essa relação expôs Eliza ao lado sombrio do futebol, marcado por machismo e violência de gênero.

Em junho de 2010, quatro meses após o nascimento de seu filho com Bruno, Eliza foi sequestrada e brutalmente assassinada a mando do jogador. Seu corpo nunca foi encontrado. A recente produção da Netflix, “A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio”, dirigida por Juliana Antunes, lança luz sobre a luta da paranaense, que havia denunciado publicamente o jogador e pedido proteção judicial, mas foi ignorada até ser morta de maneira cruel.

A trajetória de violência e negligência

Eliza conheceu Bruno em um churrasco no Rio de Janeiro e iniciou um relacionamento com o atleta. Em maio de 2009, ela engravidou, mas Bruno, que já vivia uma vida pessoal conturbada com múltiplos relacionamentos, rejeitou a ideia de ser pai e tentou de várias formas forçá-la a interromper a gravidez. Em outubro daquele ano, Eliza procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), onde denunciou o goleiro por sequestro, agressão e tentativa de forçá-la a tomar medicamentos abortivos enquanto era mantida refém.

Eliza Samudio na porta da delegacia ao prestar queixa contra Bruno, em 2009 — Foto: Marcelo Theobald

No entanto, mesmo com a gravidade das denúncias, a juíza responsável negou a medida protetiva solicitada por Eliza, alegando que o caso não se enquadrava na Lei Maria da Penha, pois não havia uma “relação íntima de afeto” entre a vítima e Bruno. Esse erro de interpretação da lei, combinado com a demora das autoridades em investigar e punir o jogador, contribuiu para o desfecho trágico.

O assassinato de Eliza e a condenação de Bruno

Depois do nascimento de seu filho, em fevereiro de 2010, Eliza tentou na Justiça que Bruno reconhecesse a paternidade. Em junho daquele ano, ela foi atraída para uma armadilha pelo goleiro, que prometeu discutir um acordo. Ao invés disso, Eliza foi levada à força para o sítio de Bruno, em Esmeraldas, Minas Gerais. Lá, foi mantida refém e posteriormente estrangulada por Luiz Henrique Romão, conhecido como “Macarrão”, com a ajuda do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o “Bola”. O corpo de Eliza jamais foi encontrado.

O goleiro Bruno escoltado por policiais em delegacia de Belo Horizonte, em 2009 — Foto: Fabiano Rocha

Bruno foi preso em julho de 2010, e em 2013 foi condenado a 22 anos de prisão pelo assassinato. Apesar disso, em 2019, ele conseguiu a progressão para o regime semiaberto e, desde então, tentou retomar a carreira no futebol em equipes menores, sem sucesso.

O legado de Eliza e o futuro de seu filho

Bruno Samudio, o filho de Eliza, hoje com 14 anos, mantém o sonho de ser goleiro profissional, seguindo os passos de seu pai. Ele já passou pelo Atlético Paranaense e, recentemente, foi contratado para jogar nas categorias de base do Botafogo, no Rio de Janeiro. Além de seu salário, o jovem também tem seus estudos custeados em uma escola particular.

O caso de Eliza Samudio segue como um marco na luta contra a violência de gênero no Brasil, lembrando a todos como o sistema falhou em protegê-la. A história de Eliza não é apenas uma tragédia individual, mas um reflexo da falta de atenção e proteção que muitas mulheres enfrentam ao denunciarem abusos e ameaças, especialmente em ambientes dominados pelo machismo, como o mundo do futebol.

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