Um cirurgião foi indiciado pela Polícia Civil por lesão corporal gravíssima contra uma paciente, que ficou com severas lesões na barriga após um procedimento estético. Marcelo Evandro dos Santos foi denunciado criminalmente por mulheres atendidas por ele após casos de queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido em cirurgias estéticas que realizou.
O médico, que atua em Florianópolis-SC, se for condenado, pode pegar até cinco anos de prisão. Ele se manifestou por meio de nota, e disse que “os processos citados nesta matéria encontram-se sob sigilo processual. Por tais razões, minha manifestação sobre cada caso continuará sendo feita nos autos das respectivas ações”.
O cirurgião já foi condenado na área civil, anteriormente, ao menos quatro vezes. No caso mais grave, indenizou familiares de uma paciente que morreu após lipoaspiração, em 2021.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina informou que apura a conduta do médico em uma sindicância, mas que não pode se manifestar sobre processos em tramitação.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná também disse que não pode se manifestar, e afirmou que o cirurgião está regularmente inscrito nos conselhos dos dois estados.
Uma das pacientes que denunciou o médico foi a neuropsicopedagoga Letícia Mello, que fez a primeira consulta em janeiro. Ela queria trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma uma técnica de lipoaspiração. O médico também indicou outros procedimentos.
“Hoje, eu faço acompanhamento psicológico, acompanhamento psiquiátrico para não entrar em uma depressão e entender que tem um propósito eu estar viva”, relatou Letícia.
Segundo ela, Marcelo Evandro ainda indicou tirar gordurinha das costas para colocar na depressão lateral, o que deixaria o glúteo mais redondo.
“Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos”, relatou a paciente.
Letícia passou por 12 cirurgias no mesmo dia com o médico. Foram 10 horas no centro cirúrgico e 7 quilos de gordura retirados. Concluído o procedimento, ela demorou a ter alta. Passou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.
“O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca” disse.
Além disso, conta que começou a “queimar”. “Meu corpo começou a criar bolhas, começaram a aparecer umas secreções. Eu comecei a ficar totalmente queimada na barriga, nas pernas, nos braços, foi subindo para os seios e eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, contou.
Depois de sair do hospital, em abril deste ano, Letícia fez uma denúncia na Delegacia-Geral da Policia Civil de Santa Catarina. O inquérito, instaurado no mesmo mês, foi concluído na noite de segunda, 14.
A Polícia Civil ouviu pessoas da área técnica, concluindo que o prazo para a finalização de uma cirurgia de caráter estético tem uma duração limite menor do que Letícia foi submetida. A quantidade de gordura retirada também tem uma quantidade específica.
“Nesse caso, o delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima”, explicou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.