Desde as primeiras experiências agropecuárias praticadas pela humanidade, o objetivo é o mesmo: aumentar a produtividade utilizando a menor quantidade de recursos possíveis. Ao selecionar os melhores exemplares de plantas/animais em suas produções, os agricultores já estavam trabalhando (mesmo que sem saber) a melhoria genética das espécies. No entanto, foi apenas em 1983 que os primeiros cientistas conseguiram modificar geneticamente plantas para cunho agrícola; e em 1994, o primeiro tomate transgênico chegou aos consumidores, entregando como benefício maior durabilidade para consumo. Enquanto a produção de alimentos bate recordes de produtividade e eficiência com cultivos melhorados e/ou geneticamente modificados, o mito de que esses são maléficos à saúde persiste na população.
Em linhas simples, dentre os OGMs (organismos geneticamente modificados), existem: a) os transgênicos, que recebem genes de outras espécies que não se reproduziriam entre si naturalmente; b) os cisgênicos, que utilizam genes da mesma espécie ou de espécies que seriam compatíveis para reprodução em um ambiente natural; e c) os intragênicos, que recombinam genes e elementos reguladores da mesma espécie, porém de uma forma que não ocorreria naturalmente.
Como exemplos palpáveis de OGMs no agro, temos a variedade transgênica de feijão com resistência ao mosaico-dourado, vírus desafiador para os produtores, que marcou o primeiro OGM desenvolvido por um órgão público no Brasil, a Embrapa, em 2011. Na safra 2023/24, 90% toda a soja plantada no Brasil foi geneticamente modificada. A principal das aplicações na cultura é chamada de Soja “Roundup Ready” ou RR, resistente ao herbicida glifosato, que permite que o agricultor aplique o herbicida para controlar as plantas daninhas (invasoras) sem afetar a soja, reduzindo custos e número de aplicações. Outro exemplo de transgenia é o milho Bt, que recebeu um gene da bactéria Bacillus thuringiensis que o protege naturalmente (uma vez que essas bactérias são encontradas no solo) contra lagartas, reduzindo a necessidade de inseticidas.
É natural que as pessoas se preocupem quando ouvem que uma soja recebeu genes de bactéria ou que um milho foi modificado geneticamente. Porém, é importante entender que pesquisas laboratoriais não detectaram presença de proteínas transgênicas em alimentos processados como o óleo de soja refinado, já que o processo de refino elimina todo material genético. Assim como as carnes de animais que se alimentam da soja ou milho modificados não apresentam DNA modificado, sem oferecer riscos para a saúde humana.
O uso de culturas geneticamente modificadas pode trazer benefícios desde a produção até o consumo. Para o produtor, as vantagens são: 1) a economia com defensivos agrícolas; 2) aumento da produtividade agrícola; 3) conservação do solo, já que favorece a prática sustentável do plantio direto; 4) redução nos custos com operações (combustíveis); entre outras. Parte importante destes ganhos são passadas aos preços, tornando os produtos mais acessíveis.
Quando se utiliza uma variedade modificada geneticamente, a produtividade por área é maior, o que reduz a necessidade de expansão ou desmatamento. Além disso, o menor uso de defensivos químicos reduz as chances de contaminação e um menor número de operações de manejo, diminui a emissão de gases. Ao final, contribui para o desenvolvimento sustentável da produção de alimentos e consequentemente da segurança alimentar global. E para serem aprovados, estes produtos são submetidos a rigorosos testes em diferentes países.
As novas técnicas de biotecnologia prometem revolucionar ainda mais o agro. Para períodos desafiadores de estiagem em regiões como o Centro-Oeste, pesquisas avançam para desenvolver variedades cada vez mais resistentes. Na citricultura, uma modificação genética feita no Brasil pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) deve contribuir diretamente na redução dos avanços do greening, doença que assola pomares de laranja por todo o mundo e levam os preços do suco a níveis inacessíveis para boa parte da população. Na pecuária, pandemias como gripe aviária, peste suína africana e febre aftosa podem desolar rebanhos. Para esses cenários, a modificação genética caminha para imunidade contra essas doenças, que impactam tanto os produtores como os consumidores, uma vez que em crises sanitárias, os alimentos se tornam caros e escassos.
As modificações genéticas, além de seguras para a saúde humana, garantidas por protocolos rígidos de aprovação do uso, trazem economia, benefícios ambientais e produtos mais seguros para o consumo. Na maioria das vezes, a resistência das pessoas a este produto se dá por falta de conhecimento, o que pode ser resolvido com boa informação e comunicação, ou por questões ideológicas, e neste caso pouco pode ser feito.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.