A Ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (16) pelo Banco Central, escancara a piora do cenário inflacionário no Brasil. No documento, o BC justifica a decisão de elevar a Selic em 1 ponto percentual na última reunião, levando a taxa para 12,25% ao ano, e antecipa mais duas elevações de mesma magnitude nas próximas reuniões. A mensagem é clara: não há um teto definido para os juros, o que já leva bancos e consultorias a reverem suas projeções para 2025.
Segundo o Comitê de Política Monetária, os riscos inflacionários se materializaram, tornando o cenário “menos incerto e mais adverso”. O BC cita três fatores principais: resiliência da inflação de serviços, impulsionada pelo desemprego baixo e pelo PIB acelerado, alta do dólar que pressiona os preços, e a desancoragem das expectativas de inflação. Além disso, o cenário externo também piorou, com a possível eleição de Donald Trump nos EUA, que pode elevar a inflação americana.
Outro ponto de destaque é a crítica do BC ao pacote fiscal do governo Lula, que, segundo a instituição, frustrou o mercado e contribuiu para a alta do dólar e a deterioração das expectativas inflacionárias. Na visão do Copom, a política fiscal é expansionista, criando um descompasso com a política monetária. O BC pede harmonia entre as duas frentes para evitar um cenário em que o governo aumenta os gastos enquanto a Selic precisa subir para conter a inflação.
“Riscos à alta da inflação, tais como a resiliência da inflação de serviços, a desancoragem das expectativas e a depreciação cambial, se materializaram. Assim, um cenário que até então se mostrava bastante incerto tornou-se mais adverso”, afirma a ata.
Nos bastidores, comenta-se que a reunião marcou a estreia de Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula, como uma voz influente no Comitê. A unanimidade da decisão sinaliza um BC unido na missão de conter a inflação, independentemente da transição entre Roberto Campos Neto e Galípolo. O recado é de que os novos diretores seguirão comprometidos em adotar as medidas necessárias para manter a inflação sob controle.
Agora, o desafio está com o governo federal, que precisará lidar com a crise fiscal para evitar um cenário ainda mais desfavorável, no qual políticas opostas – de expansão fiscal e aperto monetário – levariam a uma Selic elevada por um período prolongado.