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Leite: como foi o ano de 2024 para o setor e quais as perspectivas para 2025

Entrevista com o mestre em economia aplicada, Glauco Rodrigues Carvalho

Fonte: Scot Consultoria

PhD em Agricultural Economics pela Texas A&M University. Mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo. Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador da Embrapa com pesquisas nas áreas de mercado de lácteos e de commodities agrícolas. Também é membro titular da Câmara Setorial de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura.

Foto: Freepik

Scot Consultoria: Para o produtor de leite a margem da atividade foi favorável em 2024 frente a 2023. E para 2025, o que devemos esperar? Quais os principais pontos de atenção para o próximo ano? A remuneração vai continuar em patamares maiores? 

Glauco Carvalho: Sim, em 2024 o cenário foi mais positivo que em 2023. O ano começou um pouco mais difícil, mas a rentabilidade foi melhorando ao longo do ano. Um fator positivo foi a demanda de lácteos, que absorveu o aumento da produção e das importações. Para 2025, o cenário é mais desafiador. O ambiente macro está mais complicado, com aumento de taxas de juros, menor crescimento econômico e uma possível desaceleração no ritmo da demanda. Mas, ainda assim, devemos ter um ano bom.

Scot Consultoria: Com relação aos custos de produção, o que podemos esperar para o próximo ano? Qual deve ser o item de maior atenção? 

Glauco Carvalho: Existem muitos pontos de atenção. Em média, não esperamos grandes incrementos em custo, mas alguns itens merecem atenção. Mão de obra é um deles, já que está cada vez mais escassa e com preços crescentes. Outro ponto é o mercado de milho, com muita atenção ao clima no início de 2025. A maior preocupação está no período de maio a julho, quando termina a safra de verão e ainda não se colheu a safra de inverno. Isso tende a gerar maior volatilidade nas cotações. Finalmente, vale acompanhar o cenário de conflitos internacionais, que podem afetar o petróleo e os preços de fertilizantes. Esses são os principais pontos de atenção, que devem ser observados para realização de boas compras e buscar bons números econômicos na atividade leiteira.

Scot Consultoria: Em 2024, a produção de leite foi impactada por problemas climáticos que acometeram algumas regiões, mesmo assim a expectativa é que o volume captado cresça. E para o próximo ano, qual sua visão sobre a produção? Quais fatores podem interferir na produção?

Glauco Carvalho: Acreditamos que a produção de 2025 também cresça, substituindo inclusive, parte da importação. No entanto, não devemos observar grandes aumentos como ocorria no passado. O leite do Brasil, durante muito tempo, registrou crescimento acima de 3,0% ao ano. O cenário agora é mais desafiador e vou citar três fenômenos que vem freando o ritmo de expansão:
1) A produção de leite vem crescendo com um menor número de vacas, sustentado por tecnologias e maior produtividade do rebanho. No passado cresciam juntos, produtividade e rebanho;
2) Diversos produtores têm investido na atividade com a expansão da produção, mas existe um outro grupo que tem deixado a pecuária leiteira. Este movimento de saída, que deve continuar, tem freado o ritmo de expansão do setor;
3) A baixa oferta de mão de obra disponível para trabalhar no setor, com disposição para morar no meio rural, cria um desafio adicional para as fazendas.
Enfim, a produção de leite deve crescer, entre 1,5% e 2,0%, o que é bem inferior ao crescimento histórico do setor.

Scot Consultoria: Os últimos dois anos foram marcados por um aumento na importação de lácteos. Como esse crescimento impactou o mercado? A importação de lácteos, principalmente leite em pó, continuará nos patamares observados em 2023 e 2024?

Glauco Carvalho: Nos últimos anos, as importações subiram bastante. Em geral, o volume importado ficava entre 50 e 80 milhões de litros por mês, mas este volume saltou para 150 a 200 milhões mensais. Em 2024 devemos superar 2,2 bilhões em importação. Para 2025, com a atual desvalorização do real frente ao dólar, as importações tendem a desacelerar um pouco, mas os volumes devem continuar elevados. É muito importante acompanhar o diferencial de preços do produto importado vis-à-vis o brasileiro. Neste caso, o importado tem tido maior competitividade, o que acaba estimulando as compras por parte dos varejistas e traders.

Scot Consultoria: Durante o ano a Embrapa Gado de Leite desenvolveu pesquisas para a pecuária leiteira, quais as contribuições desse ano que podem ser incorporadas pelo produtor que busca melhorias para 2025? 

Glauco Carvalho: São várias ações e tecnologias aplicadas ao leite que já vem sendo desenvolvidas pela Embrapa e parceiros e adotadas pelo produtor. Melhoramento genético animal e uso de genômica para auxiliar na tomada de decisão. Melhoramento de pastagens e manejo adequado na produção de volumoso. Informações de mercado, disponibilizadas no Centro de Inteligência do Leite para apoio nas decisões. Pesquisa em sustentabilidade, conforto animal e avaliação de sistemas de produção, mostrando que fazendas mais eficientes economicamente também possuem, em geral, menor pegada de carbono. A Embrapa e os parceiros atuaram em diversas frentes para auxílio ao produtor visando maior competitividade, inclusive com a oferta de diversos cursos de ensino a distância para melhorar o uso das tecnologias e passar mais conhecimentos aos produtores e técnicos.

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